Em meio ao sofrimento com a tragédia provocada pelas chuvas no Estado do Rio de Janeiro, não falta quem tente tirar proveito da situação (p. ex., tentando saquear donativos ou aumentando excessivamente preços de alimentos). Mas quem está no olho do furacão trata logo de arrumar desculpas. Refiro-me aos titulares de funções públicas ligadas mais de perto à prevenção desses sinistros e, mais especificamente, aos prefeitos da cidade. Estes tentam escapar aos custos políticos de tantas mortes, desalojamentos e perdas materiais. É o caso dos prefeitos dos três Municípios mais afetados: Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo, que se reuniram num consórcio intermunicipal para enfrentar o drama. Mas adivinha o que eles alegaram? Que os governos anteriores têm culpa!
O interessante é que os três alcaides estão iniciando o terceiro ano de seus mandatos e já têm, no mínimo, a obrigação de explicar o que fizeram nos dois anos anteriores, considerando que, embora em nível nunca antes visto, a tragédia atual se repete todos os anos. Um olhar mais apurado, contudo, complica a situação dos três.
Petrópolis é governada por Paulo Roberto Mustrangi de Oliveira (PT), que em 2009 sucedeu Rubens José de França Bomtempo (PSB), prefeito por dois mandatos. Teresópolis é governada por Jorge Mário Sedlacek (PT), que em 2009 sucedeu Roberto Petto Gomes (PMDB). Nova Friburgo, por fim, é governada por Heródoto Bento de Mello (PSC), que em 2009 sucedeu Maria da Saudade Medeiros Braga (PSB), também prefeita por dois mandatos.
O PT governa o Brasil desde 2002. O Rio de Janeiro é governado por Sérgio Cabral, do PMDB, desde 2007, tendo sucedido Rosinha Garotinho, do mesmo partido. O PSB e o PSC foram aliados dos governos Lula e continuam na base de apoio, agora com Dilma Rousseff. Em suma, todo esse povo está ligado por laços de compadrio político que lhes retira, completamente, a possibilidade de alegar falta de apoio dos governos estadual e federal. E a culpa é do passado?
Claro que dos prefeitos passados também, porque se omitiram quanto à ocupação de encostas e outras áreas de risco. Mas rei morto, rei posto. Não admito o discurso da herança maldita. Os prefeitos atuais dispõem de recursos para agir e já tiveram tempo, ao menos, para começar.
Resta então culpar São Pedro. Não seria a primeira vez.
2 comentários:
Calamidades e vida política.
Eu evito comentar assuntos de tamanha gravidade que são rebatidos por uma política de quinta categoria como a administração municipal de quase todos os municípios brasileiros. A repulsa é enorme para eu conseguir me expressar.
Segue apenas uma notícia do tipo, ao Rio vamos mandar tudo, à Rondônia mandem uns técnicos. Não pretendo aqui ser mal interpretado, afirmando que o Rio não necessita da ajuda que está recebendo. Ao contrário, me alegra ver o empenho de cooperação entre as esferas do governo.
Infelizmente, ao mesmo tempo, me frusta pensar que a mesma ajuda não pode ser enviada a outro Estado em situação de declarada e comprovada emergência. Me frusta mais ainda pensar que isso pode ser em decorrência de embromação intergovernamental. Muito oportuno o título do post.
Segue a notícia: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/862066-apos-ro-decretar-calamidade-no-setor-ministerio-nega-hospital-de-campanha-no-estado.shtml
Abraços,
Vitor Martins Dias
Yúdice, isso me fez repensar muita coisa.
Comecei a pensar em até que ponto nós (eu estava envolvida nisso até outubro do ano passado)temos o direito de achar que as pessoas podem construir suas casas onde encontram espaço?
A gente sempre acha que não é área de risco, pode até ficar tudo bem durante alguns anos, mas o solo se desgasta, e há também nossa total falta de educação ambiental.
A culpa também cabe a cada um de nós que não respeita a natureza.
Mesmo com toda essa tragédia, ando pela rua e vejo pessoas jogando lixo ao chão, como se isso fosse a coisa mais natural do mundo. E detalhe, aqui em Juiz de Fora, há lixeiras a cada 2, 3 postes...
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