Já vi isso várias vezes e você já viu também, a menos que seja um daqueles afortunados que não precisam ir a supermercados. O sujeito entra na fila do caixa rápido, que é limitado a 10 itens, em alguns estabelecimentos, ou 15, em outros, portando uma quantidade superior de mercadorias. Ele simplesmente para na fila e fica lá, de boa.
Somente por isso ele já está prejudicando as pessoas que, respeitando o limite, demorarão mais tempo para ser atendidas. O fato de não ir para uma fila normal mostra que o cara se julga melhor do que os outros: os outros podem esperar; ele não. O tempo dele vale mais do que o seu. E regras não existem para ele, só para o rebutalho do mundo, ou seja, eu e você. Mas a coisa piora.
Se o funcionário do caixa pondera alguma coisa, invariavelmente o cliente cresce para cima. Sabe por quê? Porque quem faz uma coisa dessas é um feladiputa. Simples assim. Não é uma pessoa equivocada, necessitada de orientação ou em um dia ruim. É um feladiputa e, como todos os de sua laia, decidem agir de maneira calhorda e covarde em 100% dos casos e sob todos os aspectos. Então ele impõe a sua vontade soberana. Já presenciei ocasiões em que um supervisor foi chamado, mas não adianta: aconteça o que acontecer, o feladiputa sempre sai vitorioso.
E assim chegamos ao ponto que mais me dá ódio: o funcionário do caixa, ou mesmo o supervisor, não enfrentam o feladiputa porque temem por seus empregos. O cliente sabe disso e ameaça, debocha, sapateia em cima. Ele sempre tem razão. Ele está pagando. Mas o fato é que você também está pagando e o seu dinheiro vale tanto quanto, mas provavelmente você não saiu em defesa do funcionário que, frise-se, estava fazendo o que era certo! Ninguém intercede por quem está certo.
No final das contas, se o dono do supermercado fosse chamado, ele resolveria o problema contemporizando: deixaria o feladiputa passar suas compras no caixa rápido, para dissolver logo o conflito, como se aquela fosse a única vez. Como se o feladiputa fosse compreender que lhe fizeram uma concessão ilegítima e aprender com o seu erro. Muito ao contrário, ele se fortalecerá em seu mau caratismo e sentirá um prazer ainda maior amanhã, quando repetir a mesma falcatrua. Ou outras. Porque estará provado por A+B que ele realmente está acima das regras.
É isso que me consome de ódio: quem faz o que é certo, não tem reconhecimento e corre sério risco de sofrer humilhações e punições. Mas para os canalhas sempre há condescendência. Não consigo compreender como não se enxerga a mensagem que se passa com esse tipo de comportamento.
Queremos que reconheçam os nossos direitos de cidadania, mas não somos cidadãos. A começar quando o problema não é meu. Será mesmo que não é seu? Você é omisso, então compactua; se compactua, é culpado. Se cada pessoa na fila proibisse o atendimento do feladiputa, não haveria dono que remasse contra a maré do bem. Ao canalha só restaria cair fora, derrotado.
Essa coisa prosaica é a luta do bem contra o mal que podemos travar, e vencer, todos os dias. Se quisermos.
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