quarta-feira, 3 de julho de 2013

Protesto por melhores condições de trabalho

Enquanto os reacionários continuam dizendo que manifestações são coisa de vagabundo, o mundo segue seu curso e coisas mudam de verdade.

Fiquei impressionado com a atitude dos trabalhadores do Grupo Líder, que cruzaram os braços, interromperam o funcionamento de, ao menos, três de suas lojas mais importantes, com direito à obstrução da via pública em frente (avenidas Visconde de Souza Franco e Augusto Montenegro, além da BR-316). Após as ondas grevistas das décadas de 1970/1980, o trabalhador brasileiro aprendeu a ser submisso, dado o seu pavor de perder o emprego, numa conjuntura tão propícia a isso.

Muitas vezes escutei pessoas dizendo que devíamos valorizar o nosso emprego, porque se você não quer, tem muita gente que quer. E é isso, mesmo: crise econômica, desemprego, necessidades batendo na porta e na cara, o trabalhador se submete a tudo, por mais humilhante que seja. Somente em conjunturas menos opressivas é que se pode conceber uma relação entre capital e trabalho menos aviltante.

Desconheço a real situação dos empregados do Grupo Líder. O que sei, porque vejo, é que os empregados de todas as redes de supermercados da cidade são extremamente sacrificados: trabalham muitas horas por dia, muitos dias por semana e recebem salários baixos. Lidam com o público, escutam desaforo, são obrigados a suportar tudo porque o cliente tem sempre razão e, ainda por cima, sofrem intensas cobranças, seja de produtividade, seja com suspeições sobre o modo como lidam com o patrimônio das empresas, notadamente mercadorias. Não é uma vida nada simples. E a despeito de tantos sacrifícios, a recompensa é pouca.

O fato é que o Ministério Público do Trabalho ajuizou ação civil pública por dano moral coletivo contra o Grupo Líder. Pede 3 milhões de reais como reparação. O réu alega que as acusações são infundadas e se diz até surpreso com o processo. Mas no dia de hoje negociou concessões, prometendo atender 10 das 12 reivindicações constantes da pauta dos trabalhadores. Não foi suficiente: a proposta foi recusada, porque a classe obreira tem duas prioridades sobre as quais nada se prometeu: cumprimento de carga horária de 6 horas diárias e pagamento de tíquete-alimentação. Ou seja, menos trabalho e um pouco mais de dinheiro. As mesmas prioridades de sempre.

Amanhã, os funcionários do Grupo Yamada devem aderir a movimento. Especula-se que as duas outras grandes redes supermercadistas irão atrás, mas por enquanto parece ser apenas boato. Seja como for, o trabalhador voltou a gritar, na rua, para lembrar ao capitalista por qual motivo ele está onde se encontra. E em apoio a esses brasileiros sofridos, vale um trecho do extraordinário poema de Vinícius de Moraes, "O operário em construção":

(...) Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.

E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução.

Fontes:

2 comentários:

Anônimo disse...

Tais manifestações trazem à tona um fato patente em nosso empresariado : a enorme ganância em obter lucros. Aqui, querem lucrar 100 ou 200% na venda de algum produto. Restaurantes e lanchonetes aumentam seus preços, de um dia para outro, de R$ 2,00 para R$ 3,00, por exemplo. Isso representa um aumento de 50%.

Vejam bem : 50%.Não há nenhuma justificativa para tais aumentos. A energia subiu 6-7%, a água idem, salários sobem 5-6%, inflação está em 10%. E o cara aumenta o sanduíche em 50%? Por que?

Ora, porque é ganacioso, inescrupuloso.

Estacionamento a mesma coisa. Se hoje é R$ 5,00/hora, colocando-se a inflação e outros custos, poder-se-ia aumentar uns 15%, por exemplo, e anualmente. Iria para R$ 5,75. Mas não, vai para R$ 7,00 a hora ou R$ 10,00, e os aumentos se sucedem a cada 3-4 meses.

Pagar R$ 25,00 por um Big alguma coisa? Absurdo. Em casa comprei 1 kg de carnes diversas, e preparei aproximadamente 30 hamburgers , todos de bom tamanho e qualidade, e paguei R$ 18,00 no quilo da carne.

Tá certo que as lanchonetes têm outros custos, como publicidade, mão-de-obra, aluguéis, etc, mas cobrar R$ 25,00 por um hamburger com uma folha de alface, uma rodela de tomate e uma fatia de queijo é demais. Os ingredientes de um sanduíche desses não custam mais do que R$ 3,00. Por aí, vejam o lucro absurdo desses gananciosos.

E isso se repete em todos os setores. Agora é a água mineral, que com gás custa sempre R$ 0,50 a mais do que aquela sem gás, em muitos restaurantes.

Combustível. Lembram? Quando havia um raro rebaixamento de preço, os postos demoravam semanas para reduzí-los nas bombas, sob a alegação de que ainda era "estoque antigo". Mas quando ocorrem os aumentos, a subida é imediata, sempre alegando que já é estoque novo.

No Brasil os aumento são de 50 em 50% , ou mais. Nunca vemos aumentos de 3%, de 6%. Não há Mantega que dê conta.

Infelizmente não temos por aqui o salutar hábito do boicote. Para mim, a mais eficaz forma de pressionar os maus empresários. Já imaginaram deixarmos de fazer compras na Rede Lider por 3 dias, ou ninguém abastecer no Posto de bandeira S ou P por uma semana?

Os caras quebram.

Kenneth Fleming







Anônimo disse...

Apoiado Kenenth!! Faltou citar dois hábitos do empresariado brasileiro: internalização dos lucros e a socialização dos custo (ou prejuízos), principalmente se for de natureza ambiental. Segundo,a apropriação da coisa pública para torna-la privada. No Pará, temos o exemplo das florestas de castanhas "doadas" a uma certa família de sobrenome sirio-libanês que as desmatou para virar pasto.