segunda-feira, 29 de julho de 2013

Uma semana sob ares diversos

Passei uma semana com a família em terras catarinenses, como os leitores do blog já sabem. Gostaria de externar algumas impressões sobre o que vi por lá. Não me permitirei aquele discurso cansativo de que lá fora tudo é lindo e aqui, em Belém, é tudo uma porcaria. Amo minha cidade, o que já declarei ostensivamente em inúmeras ocasiões. Aqui tenho minhas raízes e ir embora não é um projeto que eu alimente.

Esclarecido isto, devo dizer que Florianópolis, Balneário Camboriú, Blumenau e Pomerode, cidades que vi um pouco melhor, e que tomo como termômetros do restante do Estado, continuam como eu me lembrava: limpas, organizadas, com obras públicas funcionando, melhoramentos visíveis em relação à minha última passagem, três anos atrás, e um povo gentil, cordial e prestativo.

Concentro-me na capital. A cidade cresceu e, por lá, a indústria da construção civil avança. Áreas antes desocupadas agora estão urbanizadas, caso do Campeche, p. ex. Quando passei pelo local, da última vez, havia anúncios de diversos residenciais. Agora, os mesmos estão instalados. Mas ao contrário do que acontece por aqui, não vemos uma profusão de espigões onde famílias se espremem em apartamentos minúsculos, cujo preço é definido em relação inversamente proporcional ao tamanho. O novo bairro é um charmoso conglomerado de casas, algumas enormes e belíssimas. A qualidade de vida vai sobrevivendo. E à exceção de alguns pontos saturados, como o Centro e Jurerê, os preços são muito mais realistas. Nada de 5 mil reais o metro quadrado.

Tive a oportunidade de dirigir por bairros distantes, como Cachoeira do Bom Jesus. Mesmo neles, tudo é limpo, caprichado, bem cuidado. As pessoas parecem se importar de verdade em manter o ambiente saudável.

Mas o que realmente chamou a minha atenção foi a questão da segurança pública. Confesso o meu amargor em fazer essa comparação. É duro perder em quesito tão delicado. O meu critério foi a observação do comportamento das pessoas. Mesmo altas horas da noite, e naquele frio que deixava as ruas desertas e soturnas, podiam-se ver cidadãos sozinhos, em duplas ou grupos pequenos, caminhando despreocupadamente. Caminhavam devagar, conversando, rindo. Não davam sinais de medo. Vi mulheres sozinhas. Adolescentes, inclusive. Vi gente exibindo ostensivamente o celular. Quem se comporta daquele modo realmente não está receoso de ser assaltado ou coisa pior.

Doi pensar que, aqui em Belém, essa tranquilidade a que todos temos direito simplesmente não existe mais. Eu jamais passaria meia hora batendo papo na porta de uma casa, numa ruazinha estreita, com um carro aberto e minha filha dentro, como fiz lá, às onze da noite. Eu queria, queria muito mesmo, viver como ali se vive. Se está longe do ideal, meu Deus, como está melhor do que aqui!

Vale um destaque: na publicidade institucional, o governo se orgulha de ser o Estado brasileiro que mais emprega egressos do sistema penal (veja: http://www.sc.gov.br/index.php/justica-e-defesa-da-cidadania e http://www.sc.gov.br/index.php/justica-e-defesa-da-cidadania/programa-de-ressocializacao-de-detentos). Há uma preocupação declarada com a ressocialização e isto virou uma política pública. É claro que podemos fazer relações.

Dou meus parabéns aos catarinenses por seus esforços por viver bem. Minha frustração quanto a nossa realidade conviverá com uma esperança teimosa de que, um dia, também estejamos em melhor situação.

2 comentários:

Anônimo disse...

Além de tudo que falaste, ainda há de se reconhecer o trabalho eficiente da polícia catarinense, que, com mão de ferro aplica a Lei no Estado e quando for reincidente, pelo menos em Floripa, qualquer pessoa fala que amanhece acordado afogado na lagoa. Que tal reconhecer o trabalho dos Bornhauser no Estado para torná-lo um lugar tão aprazível de viver?

Yúdice Andrade disse...

Não conheci a cidade no tempo de Bornhausen, das 10h04. Conheci em 2000 e o político em questão deixou o governo do Estado de Santa Catarina no longínquo ano de 1982. Depois disso, não exerceu mais mandatos executivos estaduais.
Se em seu tempo as coisas eram desse jeito, ignoro. Jamais ouvi falar disso e sempre pergunto aos manezinhos sobre a segurança em sua cidade.
Aqui no Pará, existe a lenda de que o ex-governador Magalhães Barata mandava atirar no criminosos ao mar, para morrerem afogados ou comidos por tubarões. É uma lenda na qual muita gente continua acreditando, embora já tenha sido desmentida por historiadores. Não sei se esse cenário de Floripa é mesmo verdadeiro.
Por fim, pelo que constatei, as pessoas na cidade se sentem tranquilas, o que deve indicar alguma eficiência da polícia - além, é claro, de diversos outros fatores, por sinal mais importantes. Com certeza, dentre esses fatores não está a visão degradante de corpos boiando na aprazível Lagoa da Conceição.