Uma aluna me contou, ontem à noite, ter sofrido um assalto na última sexta-feira. Enquanto lhe apontava uma arma, o ladrão observou que ela carregava livros de Direito Penal. Então partiu para o deboche:
— Se isso aí funcionasse mesmo, eu não tava aqui nesse meu trabalho!
Felizmente, o assalto terminou sem maiores violências e a jovem saiu da situação íntegra, embora com os abalos inevitáveis de passar por uma experiência do gênero. E ontem, diante do professor que os leva ao mundo do crime (sob a perspectiva acadêmica, claro), mencionou o fato e enfatizou a ironia do assaltante.
Sugeri a ela que não se deixasse impressionar com a retórica do sujeito. Afinal, ela era efeito da arma em punho, que provoca nos delinquentes uma espécie de catarse. Há pessoas que brilham quando se casam, quando têm um filho, quando passam no vestibular ou se formam, quando fazem uma viagem importante... Coisas assim. E há pessoas que alcançam o seu momento de glória quando rendem outras com uma arma de fogo. Para elas, esse pode ser o único instante em que deixam a invisibilidade que os caracteriza no cotidiano, tornando-se protagonistas da própria história — e da história de outros. É o único instante em que ninguém pode ignorá-los.
— Pense — aconselhei minha aluna — que, hoje, você já está numa situação muito melhor do que a dele. E daqui a cinco anos estará melhor ainda. Ao passo que ele, se estiver vivo, já será lucro.
Ela pareceu concordar e fez sua prova. Pareceu-me que estava bem.
3 comentários:
Yúdice, por acaso, você fez Psicologia também???
Senti-me reconfortada só de ler seu texto...
Não fiz, mas faria de muito bom grado. Considero essa formação, hoje, uma das mais importantes e úteis. E para a minha área profissional ela é essencial.
Sábio amigo.
Cris Cordeiro
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