Vários anos atrás, quando eu era adolescente, a "revista semanal de domingo" da Rede Globo, o Fantástico, exibiu uma reportagem longa e contundente sobre a fome no Brasil. O trabalho jornalístico teve enorme repercussão e, sobre mim, um efeito devastador. À medida que a reportagem avançava, eu me sentia mais e mais sufocado, até não conseguir mais reprimir o choro. Quando terminou, eu me sentia péssimo, sobretudo por não vislumbrar nenhum prognóstico de mudança, embora estivesse claro para mim que acabar com aquela realidade era possível e, talvez, mais simples do que parecia.
Há dois dias, tomei conhecimento do documentário Histórias da fome no Brasil (dir. Camilo Tavares) lançado em dezembro de 2017. Sim, há 3 anos, mas somente agora soube dele. Provavelmente, pouca gente conhece, daí a importância de divulgá-lo. Abaixo, você pode assistir.
Impossível tocar em um assunto tão sensível sem dar margem a que as histerias ideológicas explodam, pois constitui fato objetivo que o Brasil saiu do Mapa da Fome, da Organização das Nações Unidas, durante o governo de Luís Inácio Lula da Silva. E também é fato objetivo que, desde 2017, quando o documentário foi lançado, o país corria o risco de retornar a ele. Agora, com a pandemia e a quase ausência de políticas de auxílio aos necessitados, o cenário é mais do que assustador.
Não farei apologias e muito menos brigarei com os fatos. Deixarei o negacionismo àqueles a quem essa doença aproveita. Só quero dizer que o documentário comprova minhas ideias adolescentes: acabar com a fome era uma questão de iniciativa. A famosa vontade política. Enfrentar a seca do Nordeste poderia ser feita com a construção de cisternas, uma tecnologia simples e barata. Não é a solução única ou definitiva, mas um exemplo de como os governantes poderiam ter agido décadas antes, se quisessem. A bilionária transposição do Rio São Francisco também é apenas um exemplo, necessário, porém não suficiente. Enfim, incontáveis vidas poderiam ter sido poupadas. Uma quantidade atroz de sofrimento poderia ter sido evitado.
Documentário recomendado. Você vê, julga e decide o que lhe parecer mais sensato.
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