domingo, 1 de abril de 2007

Isso não é fé


Foi cancelada, em Nova York, uma exposição que mostraria uma estátua de Jesus Cristo, feita com mais de 90 quilos de chocolate, como parte das comemorações da Páscoa. A imagem, belíssima, você pode ver na foto ao lado, copiada de reportagem da Folha, onde também se pode conhecer maiores detalhes do caso. O motivo da polêmica é, simplesmente, o fato de Jesus aparecer nu.
O que me estarrece, nesse acontecimento, é que antigamente o sectarismo religioso máximo — aquele que envolve ameaças de morte a artistas — antes era associado a religiões fundamentalistas, ficando o Islamismo como a principal referência. Vide o caso do escritor inglês Salman Rushdie, que para o resto de sua vida precisará precaver-se contra atentados, por conta de sua obra Os versos satânicos.
Agora são os católicos, com seu discurso de amor ao próximo na ponta da língua, que se valem da mesma fórmula e ameaçam o escultor Cosimo Cavallaro, o qual jura não ter qualquer intenção ofensiva — como também não tinha, muito pelo contrário, o escritor grego Nikos Kazantzakis, ao escrever o maravilhoso A última tentação, livro incluído no Index das obras proibidas pelo Vaticano, que rendeu também a excomunhão de seu autor.
Católicos prometendo ações terroristas são o fim da picada. Apontarão, talvez, indícios para a derrocada final de uma religião que já comandou o mundo, mas que, há vários anos, vê seus fieis migrando para outras legendas ou até para o agnosticismo ou ateísmo. E tudo isso por quê? Por que Jesus não pode ter pênis? Será que eles realmente acham que, ao passar pela Terra, o Cristo não possuía órgãos sexuais?
A favor do artista está, inclusive, a verdade histórica, já que os condenados eram crucificados nus. O paninho na cintura sempre foi uma contribuição dos excessivos pudores eclesiásticos.
Os católicos também afirmam que tudo quanto há no mundo é obra de Deus. E que Ele, sendo perfeito, só faz coisas boas. Logo, o corpo humano também foi feito por Deus e necessariamente é bom, do jeito que é. Então alguém me desate esse nó: por que, em Jesus, o pênis deve ser motivo de derramamento de sangue.
Se tem algo que odeio com o máximo de minhas forças, é usar o nome de Deus para o mal. Precisamos combater quaisquer atitudes, nesse sentido, venham de onde vierem. E cultivar apenas aquelas liturgias voltadas para o bem e para a concórdia entre os homens. E ao dizer isso faço-o com profundo respeito por qualquer religião que pense da mesma forma.
Quem não entender a minha crítica e quiser me ofender, me ameaçar ou me prometer o fogo do inferno, não perca seu tempo. Comentários idiotas serão recusados. Mas eu rezarei por esses infelizes.

5 comentários:

Anônimo disse...

E “eles estão no meio de nós”.
“Um sacerdote e um juiz em suas vestimentas se confundem”(Dolzany).
Contempla-se a história do mundo. Transita-se pela periferia desse conhecimento. E pergunta-se: e os membros da igreja que são acusados de pedofilia? É egoísmo pelo “chocolate”?
Você está fazendo as contas de gastos pelo ritual da visita do Papa?
O economês deve entrar nessa periferia. Assim como a mídia também.
É, a periferia do conhecimento é a que está valendo, mais que a própria história.
Um blog é periférico na história da comunicação.
Viva a periferia do conhecimento!
E eu estou aqui, comendo pelas “beiradas”.
Bjs,
Cris Moreno

Obs. Obrigada por rezar mim!!!

Unknown disse...

Que chocolate! rsrs

Leo Nóvoa disse...

Concordo plenamente professor. O fundamentalismo religioso agora pesa mais do que os próprios princípios cristãos de amor e fraternidade para com o próximo. Isso só reflete o que a Igreja se tornou atualmente: um jogo político que envolve poder e dinheiro e um meio de controle das massas.
A propósito professor, "nós contra o mundo" foi modo de dizer, pois me referi a enfrentar com as próprias mãos as dificuldades que o mundo apresente, mesmo que hajam muitos fatores positivos e que nos ajudem.

Abraços

Yúdice Andrade disse...

Mas, querida Cris, você não fez nenhum comentário na linha queima-Senhor-esse-satanás, por isso está fora do âmbito da minha crítica final. Todavia, fique tranqüila quanto à oração: também rezo pelos meus comentaristas. São meus amiguinhos.
Caro Leonardo, "jogo político que envolve poder e dinheiro e um meio de controle das massas" é uma abordagem correta, mas o que quiseste dizer com "atualmente"? Não foi sempre assim, historicamente falando? O que foram os concílios da Igreja, decidindo até a natureza de Jesus Cristo? Para que servem as encíclicas papais? Por que a subjugação da mulher como vontade de Deus? Por que o banco do Vaticano é uma das instituições financeiras mais sólidas do mundo?
Quanto à explicação que deste sobre teu comentário no blog da Laila, relaxa. São apenas impressões pessoais, tuas e minhas.

Anônimo disse...

Realmente, Yúdice, falei de semelhanças de "poderes". Mas, lembrei-me apenas de Saramago.
Bjs,
Cris Moreno