domingo, 28 de fevereiro de 2021

Pessoas que precisam ser conhecidas #3

Parte de minha mente se recusa a acreditar que pessoas que tiveram a oportunidade de frequentar escolas desconheçam o cientista de múltiplas áreas Carl Sagan, inclusive por ter sido (que eu saiba) o primeiro e ainda hoje o mais famoso divulgador de ciência em mídias de massa. Mas, em tempos de embrutecimento (quis ser elegante e por isso não escrevi "emburrecimento"), pode-se esperar o pior.

Eu era muito criança para me concentrar nos episódios da famosa série Cosmos, exibida na década de 1980, a que meu irmão Hudson assistia com vivo interesse. Mas eu me recordo de uma cena em que o apresentador viajava pelo universo, ao som do maravilhoso tema composto pelo músico grego Vangelis, que ainda hoje me emociona. Ali eu aprendi que havia um Carl Sagan no mundo e que ele era muito importante.

O tempo passou e aprendi um pouco mais sobre ele. Vi o filme Contato (1997) e depois li o livro que o inspirou. Excelentes. Comprei outros títulos do autor, que ainda preciso ler. E confesso que não sabia tudo o que Sagan foi: sua história, seu amor pela educação e seu ativismo social. O vídeo abaixo me surpreendeu com essas nuanças e me fez respeitar muito mais esse grande ser humano.


Nossos agradecimentos, Sagan.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Um dia para os humilhados serem exaltados

Não se trata de meme de internet, tampouco de piada. Apesar da aparência lúdica, o título da postagem tem a sua razão de ser.

No dia de hoje, foi divulgado o resultado do processo seletivo do Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal do Pará. É imensa a minha alegria em comentar que fui aprovado para o doutorado, um antigo projeto de vida que, por inúmeras razões, somente será implementado agora. Sem mágoas, eu mesmo acredito que é agora que tenho condições de fazê-lo. Talvez seja verdade que as coisas vêm no tempo certo.

Hoje é dia de comemoração e, a partir de amanhã, de trabalho. Os próximos anos serão muito exigentes, mas tudo faz parte do jogo. Estamos todos cientes disso. Não penso em sacrifícios, mas em todo o aprendizado que este processo traz. Penso na autorrealização, nas oportunidades que hão de surgir, em sair da rotina, da caixinha e do passado. Tudo isso é por mim e por minhas garotas.

Meus agradecimentos por todo o apoio recebido de muitas fontes, desde novembro, quando começou a movimentação em torno desta seleção. 

Recomeçamos daqui. Que venha o futuro.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Fim de carnaval (?)

Depois de, no ano passado, ser anunciado que o São João seria em casa, o que implica dizer que comidinhas maravilhosas só se você mesmo as cozinhasse, e que haveria clima festivo somente se você se dispusesse a isso, o recado estava dado: enquanto perdurasse a pandemia de SARS-CoV-2, nada de folguedos populares.

É certo que, em junho passado, já havíamos enfrentado uma vez o terror do colapso do sistema de saúde e alguns imaginavam, com otimismo habitual ou com leviana esperança, que as coisas entrariam nos eixos nos meses subsequentes. Ledo engano, claro. Exceto em lugares específicos, como Nova Zelândia, Cuba e até mesmo na China, que colocaram a pandemia mais ou menos sob controle, o mundo segue aterrorizado, com as pujantes economias europeias vivendo em lockdown, com previsão de continuidade até março.

Um enorme alívio surgiu com o advento das vacinas, mas as coisas não andam fáceis mesmo assim. E por aqui, na República Miliciana do Brasil, tudo vai às avessas. No mundo, leve tendência de queda na curva de contágio; no Brasil, tendência de alta ou, no mínimo, de estabilidade dos números, que têm mantido média superior a mil mortes diárias. No mundo, vacinação intensa; no Brasil, vacinação sendo interrompida, por falta de vacinas, e uma sucessão de notícias sobre irregularidades. No mundo, governos com discursos de união e medidas de proteção, ao menos, dos próprios cidadãos; no Brasil, o permanente discurso de ódio, desprezo e negação da ciência, além de reiteradas medidas para destruir o país.

Não surpreende que a grande festa do povo, o carnaval, tenha sido cancelada. Aliás, adiada para junho. Rendeu até uma piada inteligente: se o ano só começa depois do carnaval, então estaremos em 2020 até junho?! Chiste ainda na pegada de que 2020 foi o pior ano já vivido. Pode até ter sido, mas isso não fornece garantia alguma de que 2021 não será ainda pior.

Em suma, não houve os desfiles, praias e outros pontos turísticos foram fechados e a polícia andou embaçando festinhas domésticas clandestinas. De habitual, por estas bandas, só o clima chuvoso desta época. Ontem, por sinal, um dia inteiro de chuva fraca (que eu espero não haver causado muitos transtornos aos moradores de baixadas) e uma temperatura simplesmente deliciosa, que eu queria para a minha vida inteira. Mas hoje, quarta-feira de cinzas, carnaval acabando, o dia está algo nublado, mas o sol já deu as caras e o ar abafado, também. Se festa houve, parece que está mesmo no fim.

De novo e como sempre, realidade voltando.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Achei que devia dizê-lo

O dia de hoje foi marcado pela celeuma em torno de uma manifestação em rede social (sempre elas!), emitida por um gerente do Grupo Líder, manifestando um absurdo desprezo por professores. À boca miúda se diz que é um dos adoradores do excrementíssimo presidente da República e, nessa toada, não se furta de destilar ódio e contrariar qualquer realidade. Para ele, professores não trabalham há mais de um ano. Logo, em perfeita demonstração da lógica bolsonarista, sugeriu que fossem retirados recursos da educação para custear o novo auxílio emergencial.

São tantos os erros (para dizer o mínimo) na manifestação que nem sei por onde começaria a explicar. Tampouco tenho forças para isso. Mas vendo o barulho na grande rede, decidi que deveria fazer alguma coisa. Então acessei o site do Grupo Líder e mandei a seguinte mensagem:

Deplorável a manifestação do sr. Orimar Rodrigues (que, por sinal, já disse que mantém tudo) e deplorável o escapismo da empresa, limitando-se a dizer que o indivíduo não fala pela empresa. As pessoas não são tolas: sabem que o ofensor é da família; fosse apenas um empregado, o tratamento seria outro. Em tempos de ódio, não se posicionar é SE POSICIONAR A FAVOR DO QUE FOI CRITICADO. O mundo está mudando, a duras penas. Empresas que não assumirem posição em prol de valores serão tragadas. A balela da isenção não vai ajudar. E o negacionismo muito menos. Respeitem os profissionais da educação.

Nada de rede social: mandei a mensagem para o empregador (para a família, né?). Sem barulho nem sensacionalismo. E me identifiquei com nome, telefone e e-mail. Não escondo a cara, como os canalhas. Disse o que achei necessário dizer, no lídimo exercício da minha liberdade de expressão. Critiquei as atitudes e não a pessoa, física ou jurídica. Meu posicionamento até pode ser considerado como um conselho, um toque do bem para a empresa. Infelizmente, parece que brasileiros ainda são muito primitivos para isso, mas uma hora as pessoas, de um modo geral, começarão a repudiar empresas sem responsabilidade social. O processo já começou. Não me refiro a esse boicotismo internético, pouco mais do que uma modinha de cancelamento. Falo de ser ético na vida e de se relacionar apenas com quem for ético também.

Quando as pessoas finalmente assimilarem essa filosofia de vida, as empresas verão que não dá mais para calar.

domingo, 14 de fevereiro de 2021

Uma tarde e tanto

Agora que encontrei um tempo para comentar sobre a experiência inédita que vivi nesta sexta-feira, dia 12. Pela primeira vez tentando ingressar em um programa de doutorado, cheguei à fase final, a entrevista, realizada de modo remoto com quatro outros candidatos. Na imagem abaixo, uma captura de tela, mostrando um momento da atividade, que durou três horas e meia.


Sim, eu sou aquele pontinho no canto superior direito...

Fiquei feliz de ver que todos os projetos apresentados possuíam real vinculação com o projeto de promoção dos direitos humanos, que é uma exigência formal do Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal do Pará (PPGD-UFPA). Afinal, precisamos nos precaver de pesquisas fundadas em preconceitos pessoais e no possível objetivo de usar a academia para legitimar subjetividades excludentes e violentas. Falando em abstrato, naturalmente. Assim, foi sem surpresa que vi propostas realmente comprometidas com o aprimoramento das relações humanas, cada uma em uma seara importante: adolescentes submetidos a medidas socioeducativas, violência contra a mulher, ensino do Direito, racismo institucional no júri e, claro, sistema penitenciário (este, por sinal, o meu projeto). Dos cinco projetos, quatro estavam centrados no tema do racismo.

A banca avaliadora foi composta pelos professores Luanna Tomaz de Souza (orientadora pretendida), Ana Cláudia Bastos de Pinho e Raimundo Wilson Gama Raiol (que se lembrou de eu ter sido orador na minha formatura, lá se vão quase 24 anos!). Ao final da sessão, fiz questão de parabenizar os colegas e de agradecer à banca pela arguição extremamente justa, porque baseada no objetivo de nos proporcionar a oportunidade de defender os projetos de pesquisa, exatamente como deve ser. Todas as perguntas, a todos os concorrentes, eram esclarecimentos sobre as propostas apresentadas (além do óbvio questionamento sobre disponibilidade). Não houve nada que nos surpreendesse ou afligisse, o que também não surpreende, dada a lisura e a competência dos nossos avaliadores. 

O resultado disso é que... eu simplesmente me senti feliz com o debate travado! Claro que não sei qual será o desfecho do processo seletivo. Em tese, tenho 20% de chances de aprovação, como os demais, embora a régua varie um pouco, devido às notas atribuídas nas fases precedentes. O fato é que eu posso ser aprovado ou não. Mas, sem clichê algum, valeu demais a experiência de ter tentado. Trabalhei por um antigo anelo que, por variadas razões, nunca levei adiante e agora o fiz. 

Estou feliz porque trabalhei muito e ofereci um projeto de pesquisa que me agradou de verdade, a ponto de romper a tradição de jamais me sentir satisfeito com nada do que faço. Posso não ter chegado ao suficiente, mas sinto que fiz o melhor que podia neste momento, chegando a convencer a mim mesmo de que estou pronto para assumir essa responsabilidade. Enfim, a missão está cumprida. Ao menos, sinto assim.

No próximo dia 22, vamos ver o resultado.