Ladrões de calcinha

É como sempre digo: para o mal, não falta criatividade. Na cidade boliviana de Pereira, uma gangue anda atacando mulheres, principalmente as mais jovens, em pontos de ônibus. Exigem objetos de valor e as suas calcinhas. Esses malfeitores têm sido considerados maníacos sexuais.
Discordo. Se esses delinquentes tivessem intenção libidinosa, ela já teria sido demonstrada. Em casos de criminosos seriais, é normal que eles se tornem mais violentos com o passar do tempo. Não me parece razoável, também, que um grupo de homens agindo juntos e atacando vítimas indefesas se isentasse de molestá-las de modo mais diretamente sexual.
A meu ver, eles são ladrões e provavelmente exigem as calcinhas como forma de intimidar as vítimas, de constrangê-las moralmente para reduzir a possibilidade de resistência ou, ao menos, para dar-lhes tempo para a fuga. Você iria sem calcinha a uma delegacia? Certamente não: primeiro iria em casa se recompor, para em seguida acionar as autoridades, livrando-se do risco de ter que mostrar ao delegado a veracidade da acusação.
Lembro-me de que, anos atrás, uma quadrilha assaltava residências de classe média alta em São Paulo e escolhia uma mulher da casa para estuprar. A intenção era desestimular as vítimas a procurar as autoridades, para não expor a vítima principal à humilhação de uma investigação de estupro e a estigmatização decorrente. Por isso, aliás, o método era empregado com famílias endinheiradas, mais propensas a pruridos sociais. Claro que os criminosos deveriam responder por ambos os tipos penais. No caso boliviano, contudo, os crimes, de acordo com a legislação brasileira, seriam de roubo e quadrilha ou bando, merecendo um aumento de pena devido à peculiar forma de execução.