terça-feira, 15 de maio de 2007

Sítio arqueológico

No finalzinho do século XX, durante as obras para construção da Estação das Docas, foram encontrados vários restos arqueológicos, tais como louças e moedas, associadas à antiga Fortaleza de São Pedro Nolasco, cujas fundações de pedra foram descobertas e incorporadas ao projeto, podendo ser vistas ao final do complexo, embora prejudicadas por aqueles inexplicáveis trilhos que algum idiota mandou por, sem qualquer finalidade concreta e sem nenhum mérito estético.
Mais tarde, quando da reforma do Forte do Castelo, rebatizado com o nome original de Forte do Presépio, novos achados foram feitos, em tão grande quantidade que acabaram virando o acervo do Museu do Encontro, localizado na entrada da fortificação. Ali se veem louças, balas de canhão e fragmentos de roupas, dentre outros itens.
Agora, operários que trabalham na construção de um restaurante popular, na Rua Padre Prudêncio, em frente à Igreja do Rosário, retiraram da terra mais de mil fragmentos de valor arqueológico, de entre os séculos XVII a XIX, segundo atestado pelo pesquisador Fernando Marques, do Museu Paraense Emílio Goeldi.
Conclusão natural: o centro histórico de Belém é um grande sítio arqueológico. Não que haja tesouros abaixo do asfalto. A cidade antiga não foi soterrada, sem que as pessoas tivessem tempo de recolher seus pertences. Todavia, esses três nichos diferentes são prova contundente de que, aqui e ali, coisas ficaram para trás — ou para baixo —, que uma vez resgatadas poderiam dizer muito sobre os hábitos dos belenenses de outrora.
É uma lástima que, no Brasil, não se dê valor à arqueologia. Basta lembrar o famoso caso da arqueóloga Niède Guidon, que precisou pedir ajuda ao governo francês (terra de seus ascendentes), a fim de que este intercedesse junto ao brasileiro, para conter a destruição a olhos vistos de sítio localizado no Piauí, que hoje está protegido (em tese) como Parque Nacional Serra da Capivara, único parque americano reconhecido pela UNESCO como patrimônio histórico mundial.
Agora imagine: se uma imensidão daquela, riquíssima em pinturas rupestres, não recebia a devida atenção, que dirá propriedades individualizadas no centro de Belém, onde se encontram apenas louças quebradas, insignificantes para o vulgo?
Daí resulta que muita, mas muita coisa mesmo deve ter sido perdida em reformas pontuais, realizadas em propriedades privadas, revelando mais uma vez como a falta de educação custa caro à memória de um povo.
Espero que as autoridades encarregadas de zelar pelo patrimônio histórico voltem seus olhos com mais atenção a esse pedaço da cidade, inclusive sem esperar por iniciativas dos cidadãos, que querem mais é derrubar tudo para construir suas modernidades. Seria de bom tom iniciar algum projeto que fizesse, ao menos, um levantamento de locais potencialmente positivos para pesquisas arqueológicas. Com base nele, poder-se-ia discutir que medidas concretas tomar.
Antes que a terra do já teve tenha ainda mais o que lamentar.

5 comentários:

Anônimo disse...

Bom dia Yúdice, eu li a matéria do Diário. Até arquivei...e fiquei imaginando quanto coisa de nossa história nós já perdemos...que pena!

um beijo

Anônimo disse...

E inconcebivel que a populacao de Belem aceite passivamente o que esta sendo feito naquela area, entre as igrejas do Rosario e a de Santana.
Com a saida da fabrica da Palmeira e a transformacao do quarteirao ao lado em estacionamento, criou-se uma area, das mais ricas, em Belem, no epicentro da cidade, com um potencial arquitetonico, cultural, historico, de lazer, agora, tambem, arqueologico e por fim turistico, formada pelo quadrilatero, urbanisticamente dos mais ricos, entre as duas igrejas!
Em termos de cidade, essas belissimas igrejas ganham espaco de contemplacao e podem ser admiradas ao longe, em paisagem.
Na cidade de Salvador, que tem a maior visitacao turistica do pais, exisrem uns quatro espacos com essas caracteristicas: o proprio pelourinho, os largos da Matriz com a S. Francisco, o da Rampa, e o do elavador Lacerda. Todos muito bem estudados e instalados.
Aqui, o Duciomar esta construindo, nessa area, ao redor de monumentos tombados, um trambolho,uma cozinha?! Va construir cozinha nos edificios vagos existentes em diversos lugares, na Campina e deixe esse "grande largo livre" para desfrute da cidade!
Essa questao exige a intervensao do IPHAN, do MPE e MPF, e por que nao, do GOVERNO do ESTADO!
fepl

Yúdice Andrade disse...

Querida Cris, bom dia também. Se pensarmos muito nisso, ficaremos deprimidos.
Caro fepl, confesso que eu mesmo não tinha encarado o problema sob essa ótica tão contundente, que tem a ver com um pensar o visual da cidade, mas pensá-lo de modo sério, com o futuro por horizonte, com a qualidade de vida como baliza e o turismo como adjutório.
Mas isso é sofisticado demais para as cabecinhas nestas bandas, certo?

Anônimo disse...

É triste. Muito triste. E a culpa é nossa, definitivamente. Nós e nossos egoísmos, nossas lutas de grupelhos, nossos interesses pessoais, nossas fofoquinhas paroquiais, ódios eternos, enterrando a cada dia, a cada minuto, o sonho de uma cidade feliz, um lugar bom para morar, viver. Até quando?
Edyr

Anônimo disse...

Ei amigo...gostei da foto!

Bjs.