sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Interiorizado

Amanhã vou me enfurnar no meio do mato, num lugar onde não existe computador, muito menos Internet. Mas existe um igarapé de água geladíssima, árvores frutíferas e um bom peixe.
Bom final de semana prolongado e um bom começo de novembro para todos.
Até segunda.

Cada vez mais intolerância

O caso da universitária de São Bernardo do Campo que foi hostilizada pelos próprios colegas, tão somente porque compareceu à aula trajando um vestido curto, considerado provocante, encheu-me de preocupação. Naturalmente, não pela roupa que se veste ou que se deixa de vestir. Mas por revelar uma inesperada faceta da intolerância esta praga que compromete o futuro da humanidade.
Se o caso houvesse ocorrido numa paróquia, daquelas bem carolas, causar-me-ia menos assombro. Porque a carolice costuma ser exemplificada por meio de moralismos injustificáveis, que não raro buscam eliminar a liberdade individual em nome de princípios e valores indemonstráveis, chegando mesmo à violência. Mas o caso se deu numa faculdade, repleta de jovens, habituais baluartes da liberdade em todas as suas vertentes sobretudo a mais irresponsável.
Generalizo, eu sei. Mas é o que temos visto. Não se esqueçam de que trabalho com jovens há uma década, podendo afirmar que, ao longo desses anos, a postura e os discursos mudaram. O jovem cresce em acesso a informações e a uma série de comodidades da vida moderna, ao mesmo tempo em que modifica hábitos, restringe a influência das relações verticais (com a família) e supervaloriza as horizontais (pessoas que reconhece como estando no mesmo nível).
Os papos que escuto nos corredores versam frequentemente sobre baladas (ô palavrinha detestável!), sobre festejos os mais variados, sempre regados a muito álcool. O outro tema preferencial são as reclamações contra as aulas, os professores, as avaliações, as obrigações, a coordenação do curso, a cor das paredes e a qualidade do ar, inclusive o da rua. É bem menos comum encontrar alunos falando sobre os conteúdos do curso, a menos que estejam conversando com algum professor ou que se encontrem naqueles momentos pré ou pós prova.
Supondo, como efetivamente suponho, que a realidade seja semelhante nas demais instituições de ensino superior pelo país afora, continuo sem acreditar que um vestido curto possa ter despertado tanta indignação. Chego a pensar que o conflito foi detonado por algum desafeto da vítima, que se aproveitou do fato banal e conseguiu mobilizar quem estava a seu redor, pessoas talvez num mau dia. E sobrou para a estudante. E aí eu me pergunto: as posturas sempre precisam ser pela liberdade irracional ou pelo moralismo absurdo? Não dá para seguirmos o caminho do meio?
De vez em quando, ao menos?

Espaços de formação

O comentarista Roberto Barros, que tantas contribuições já me deu aqui no blog, lançou manifestação à postagem "Há coisas que nunca mudam". Ei-la:

Yúdice,
sem generalizações, mas educação no Pará tem o seu contexto próprio. Os nossos alunos se profissionalizam muito tarde (sem falar na maturidade natural). Se prendem a relações paternais de modo arraigado e respondem com indignação quando essa relação é ameaçada. Nossas instituições de ensino ainda são vistas como lugares de passagens e não como locais de formação e eu nem estou sendo idealista. A percepção de que a vida profissional é uma vida sem tutela e de responsabilidades decisivas ainda é o caso de alguns "iluminados" e isso faz a vida dos professores classe absolutamente desunida muito difícil.
Por essas e outras o estado tem uma dos piores índices de desenvolvimento humano do País. Muito do atraso do Pará vem daí.
Roberto Barros


Confesso que jamais pensara sob o viés acima, de modo tão completo. Já percebi, faz tempo, a enorme dependência familiar de nossos jovens (eu mesmo fui exemplo disso), assim como já percebi a falta de clareza sobre o que é um curso superior. Mas não chegara a fazer a relação, de tão profundas implicações psicológicas. Logo na primeira leitura, as palavras de Roberto me impressionaram. Fui concordando automaticamente. As consequências do que ele afirma todos podemos ver, cotidianamente.

Outro número redondo

De ontem para hoje, mais uma boa marca do blog.

Muito obrigado.

Árvore adequada: 1ª candidata



Chuva-de-ouro brasileira. Cassia ferruginea (canafístula, canafrista ou tapira coiana). Árvore ornamental bastante comum em Belém, é de grande porte e exige um cuidadoso controle do crescimento, através de podas.
A sugestão foi feita pelo nosso caríssimo Wagner Belenâmbulo Okanaki. Conta com a vantagem das abundantes flores amarelas, minha cor favorita.
Continuo aceitando sugestões.

Vai cair na prova

Acolhendo sugestão de minha querida Rita Helena, visitei o blog do Prof. George Malmerstein (link à direita) e encontrei uma postagem interessantíssima sobre a interação entre professor e alunos. Ela começa assim:

O professor é uma espécie de arquiteto de escolhas no sentido de que o formato da sua aula interfere na assimilação da matéria pelos alunos. Temos o poder de interferir, ainda que em caráter não determinante, nas escolhas tomadas pelos alunos: ir tomar cerveja no barzinho da esquina ou assistir aula? Prestar atenção na aula ou ficar trocando mensagens pelo celular?
Para perceber isso basta ver um exemplo banal. Se o professor fizer a chamada no início da aula, é provável que haja uma debandada de alunos antes do término se a aula não estiver suficientemente interessante. Por outro lado, se a chamada for feita apenas no final e sempre no final, é provável que os alunos cheguem atrasado de propósito para perder alguns minutos de uma aula entediante, ganhando assim alguns minutos de papo furado no corredor. O momento da chamada, portanto, interfere na quantidade de alunos na sala.


Leia na íntegra, pois vale a pena.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Árvore adequada

Tomo a liberdade de fazer uma consulta aos leitores do blog. Se alguém souber me responder, agradeço penhoradamente.
Há um ano e oito meses, comprei uma casa, onde me fixei com a família. Em frente a ela, na calçada, vive um fícus, árvore que não é adequada para aquele espaço, porque suas raízes se espalham horizontalmente, tornando-se uma ameaça para edificações próximas. Vizinhos já me vieram prevenir do perigo e estou interessado em resolver o problema, sem abdicar da sombra benfazeja, que por sinal faz a alegria dos vigilantes da rua.
Minha questão é: quais são as espécies de árvores mais adequadas para plantar na calçada de casa, que não cresçam muito, forneçam sombra e não comprometam a segurança das edificações?
Se alguém puder me ajudar com a dúvida, ficaria grato se me informasse, também, onde conseguir uma muda.
Os politicamente corretos fiquem tranquilos: a derrubada da árvore será feita mediante autorização e orientação da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, pois não sou besta de fazer uma coisa dessas por minha conta e risco.

Há coisas que nunca mudam

E eu reclamando da minha vida...
Ontem, quase onze da noite, a porta do elevador se abriu no térreo e me deparei com o colega, Prof. Waldomiro, sentado a uma mesa da lanchonete há muito fechada, cercado de alunos. Eram pelo menos seis. Waldomiro é o orientador dos trabalhos de conclusão de curso (que chamamos apenas de trabalhos de curso, porque não precisam ser feitos somente na etapa final, podendo ser antecipados), no que tange à metodologia de elaboração de trabalhos científicos. Ou seja, ele precisa ler as dezenas e dezenas de textos, enfrentando, como nós outros (professores que orientam as produções quanto ao mérito), a má articulação das ideias, a falta de objetivos, o desapreço à Língua Portuguesa e, ainda por cima, a impaciência do alunado.
O curioso é que existem prazos para todas as etapas de elaboração do TC, mas a esmagadora maioria dos acadêmicos entende que só deve botar a mão na massa quando falta apenas um mês (ou menos) para o prazo de depósito expirar. E aí eles reclamam que a coordenação do curso se recusa a uma prorrogação! Entendeu? A elaboração formal do TC começa no nono semestre, o aluno não faz o que deve e depois a coordenação é que está errada!
Ah, sim, nós, orientadores, também estamos errados por não devolvermos os trabalhos corrigidos rapidamente. Veja-se o meu caso, p. ex. Tenho quatro orientandas cujos trabalhos venho lendo desde agosto, mais ou menos. Eles estão prontos ou quase prontos, sem afogadilhos. Todos os demais, pendentes, chegaram às minhas mãos há poucos dias, quando eu estava em pleno período de correção das provas. Foi minha escolha dar preferência às provas. Afinal, o número de alunos interessados era muito superior e eles estavam dentro do calendário. Situação idêntica ocorre com os demais colegas. O queixume é geral.
O excesso de trabalhos intempestivos nos custa as poucas horas de descanso, as oportunidades de cuidar da própria casa, de brincar com os filhos e outras coisinhas do gênero, que nós, arrogantemente, insistimos em querer para nossas vidas, como se tivéssemos esse direito. E custa ao Prof. Waldomiro o direito de voltar para sua casa, mesmo que o seu expediente já esteja encerrado e ele tenha cumprido, ao longo de várias semanas, as suas obrigações como orientador. Mas só se pode orientar o aluno que aparece.
Nem sei por que escrevo este desabafo. Sempre foi assim e duvido muito que as coisas mudem. A menos que decidamos ser ainda mais rígidos com prazos e práticas. Suportando, é claro, os ônus de parecer inclementes e injustos com a garotada que pôxa vida! apenas abriu mão de alguns meses de calendário normal por quatro semanas de pauleira. E agora se queixa de ser forçada a abrir mão do descanso e do lazer para cumprir essa absurda exigência curricular!
Quer saber? Acho que, a partir do próximo semestre, vou começar a impor um monte de restrições para orientar. É isso ou me submeter a ler trabalhos atrasados enquanto empurro o carrinho do supermercado. Ridículo, para dizer o mínimo.

Chateações no trânsito

A interdição do elevado da Av. Dr. Freitas está torrando a paciência de quem precisa trafegar naquele trecho da cidade. Neste exato momento, a elevação do fluxo na Júlio César está causando transtornos sérios. O prejuízo não é apenas para quem anda de carro, obviamente. Quem está nos ônibus sai bem mais prejudicado.
Quanto tempo nossas briosas autoridades demorarão para consertar uma simples grade?

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Marcas do sucesso

A indústria estadunidense do entretenimento movimenta bilhões de dólares com os seriados, o seu produto dramatúrgico mais bem sucedido. Com a experiência acumulada e a seriedade com que trata o lazer, os empresários e artistas do setor conseguem oferecer ao público produtos de alta qualidade, que se tornam febres mundiais. Que o digam os fãs de Arquivo X, nos anos 1990.
O sucesso e a respeitabilidade que certos programas auferem é tanto que se chega a situações com a de ER (Plantão Médico), em que muita gente famosa fazia questão de fazer uma ponta. Ou a de Os Simpsons (o povo pensa que é um desenho de criança, mas também é um seriado e dos mais bem sucedidos da História), que conseguiu estampar Marge Simpson na capa de Playboy, uma das mais prestigiadas revistas do país (sim, é; não adianta questionar o conteúdo). Nunca antes algo não humano foi capa de Playboy. Mas agora será e olha que sempre achei d. Marge uma baranga. Com todo o respeito, é claro.
Há uma década, o sucesso atende pelo nome de Crime Scene Investigation, o celebérrimo Siessai, que ganhou duas franquias. Uma delas, passada em Miami, já foi apontada como o programa de TV mais visto no mundo uma provável conjugação de cenários paradisíacos com tramas pessoais novelescas, bem latinas. E o protagonismo impagável de David Caruso que, com seu compulsivo tirar e botar os óculos escuros e com suas frases de efeito másculas, galgou o topo de maior canastrão da TV. De todos os tempos, provavelmente.
O CSI original, passado em Las Vegas o melhor de todos , chega a sua décima temporada esbanjando vitalidade. Só assim para, quando ainda se fala em crise por todos os lados, ter o topete de gastar 400 mil dólares só na sequência de abertura, tornando-se assim titular da cena mais cara de toda a história da TV. Uma ótima sequência, que você pode ver através do YouTube, clicando no link. Abaixo, um aperitivo.
As cenas utilizaram a técnica conhecida por bullet time, criada para a badaladíssima (e sacal) trilogia Matrix. Você com certeza conhece, pois virou uma coqueluche, que todo mundo tentava imitar, inclusive em comédias destinadas ao público infantil, tais como Shrek, Deu a louca na Chapeuzinho e Como cães e gatos.
Ver as imagens dá uma vontade doida de assistir ao episódio. Não apenas pelo visual, mas sobretudo pelo caos que apresenta, expondo a grande perigo os protagonistas.

A nova rotatória (parte 3)

Operação ainda não há, mas jogo de empurra, sim. Segundo a imprensa comum, o dia de ontem teve troca de acusações entre um engenheiro responsável pelas obras do Ação Metrópole e o diretor de operações da CTBel. Segundo o primeiro, até as 20 horas a rotatória seria entregue à gestão da CTBel, com os serviços de engenharia completamente concluídos, estando a liberação do tráfego comprometida apenas pela ausência de agentes de trânsito. Para o segundo, seria uma "irresponsabilidade" liberar o tráfego em pistas que não possuem nenhuma sinalização.
Então destaquemos a verdade, vista por um cidadão que passa todo santo dia pelo local e que já passou por lá hoje (sim, eu): digam o que disserem, as obras de engenharia não estão concluídas. Falta asfaltar pelo menos duas saídas da rotatória para as pistas principais (não vi como está a coisa do outro lado da Júlio César) e a ausência de sinalização, objeto da primeira postagem sobre o tema, foi quebrada apenas pela pintura branca no asfalto (que, por sinal, parece apenas uma borra de asfalto). Não há placas de sinalização, muito menos iluminação.
Em suma, desta vez a culpa não é da CTBel. A obra, mesmo considerando que é provisória, não está pronta. Simples assim.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Nomes infelizes de automóveis

Uma das indústrias mais cheias de frescura do mundo é a automobilística. Além de ter a obrigação de produzir veículos potentes, confortáveis e bonitos nos últimos anos, a preocupação ambiental entrou na lista de exigências , ainda precisam dar conta de conveniências, preferências, modismos e todo tipo de bobagem que pode transformar um bom projeto num fracasso de vendas. E um fracasso não pode ser admitido, considerando os muitos milhões de dólares que custa desenvolver um único projeto de novo carro.
Um dos detalhes que deve ser ponderado com carinho pelos fabricantes é o nome do automóvel. Afinal, sobretudo em mercados emergentes, em que o preço (ou ao menos a relação custo-benefício) dita as escolhas do consumidor, um nome feio pode não ser decisivo. Mas e um nome constrangedor? Fale a verdade: você compraria um carro chamado Siririca? Ou, para usar termo análogo mais conhecido, Punheta?
Os clientes da Citroën que se renderam ao Picasso tiveram que enfrentar muita chacota, com os manjados comentários do tipo "fulano vive no Picasso", "senta no Picasso". Acho que a minivan só não foi malsucedida porque além de o português ser uma língua falada em uma quantidade menor de países e de o pintor que inspirou o nome ser uma celebridade mundial, os próprios donos gostavam de dizer asneiras como "eu tenho um Picasso", "quer experimentar o meu Picasso?"
Enfim, clicando aqui, você lerá um simpático artigo sobre carros que receberam nomes tristes pelo mundo afora. O maior exemplo é esse bichinho que aparece na imagem, fabricado pela Mazda. Na placa, o nome.

A nova rotatória (parte 2)

Acabei de passar pelo local. A ligação das novas pistas com a Júlio César e com a Pedro Álvares Cabral estão cobertas de piche. O trabalho de asfaltamento está sendo realizado neste exato momento em um dos acessos. Pelo andar da carruagem, como são trechos curtos, a tarefa estará concluída esta tarde.
Parte do canteiro central da Pedro Álvares Cabral foi retirada, pois os veículos passarão por ali. Como não trafeguei pelo outro lado, ignoro como se encontra. Já pela Júlio César, a menos que o cruzamento seja feito por onde hoje existe um retorno, o canteiro ainda permanece servindo de obstáculo.
Ah, sim: nenhuma sinalização foi instalada até o momento. Em menos de dez horas, o dia 26 de outubro estará encerrado.

De volta à casa... da mãe

A imprensa deu ampla publicidade, na semana que passou, ao caso da estudante de Direito, para variar que forjou o próprio sequestro para extorquir dinheiro da própria mãe. O fato ocorreu no Distrito Federal e a garota, de apenas 18 anos, acabou presa após uma sucessão de trapalhadas (telefonar ela mesma para a mãe, disfarçando a voz, e pedir apenas 8 mil reais de resgate). Este último aspecto levou a polícia a desconfiar do sequestro e, sem dificuldades, elucidar o caso, prendendo a jovem em um hotel onde se escondera. Só mesmo uma mãe apavorada para não desconfiar de nada. Com o detalhe: trata-se de uma humilde manicure, que ficou desesperada com a situação.
Ao ser presa, a estudante soltou esta pérola: fizera tudo isso para saber se mãe a amava de verdade. Ou seja, o pedido de resgate era um teste de amor, não uma tentativa de sacanear a genitora.
A 2ª Turma Criminal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal acabou de conceder habeas corpus à garota, numa decisão estritamente técnica: não se justifica a prisão na presente etapa processual, muito menos por causa de clamor público. A acusada é jovem, primária e tem endereço fixo. E aí está a ironia da coisa: o endereço é o da vítima do crime!
Não duvido que a mãe, como mãe que é, perdoe a filha e lhe dê todo o apoio possível. Mas não consigo imaginar a convivência dessas duas sob o mesmo teto. Talvez porque eu não me veja convivendo com alguém que fizesse algo assim comigo, com minha esposa, com minha mãe.
Sem dúvida, um drama familiar que Direito algum é capaz de resolver.

Feriados informais

O surgimento de um feriado não depende apenas do gosto dos interessados. Formalmente falando, é claro. No mundo do dever-ser, um feriado exige lei federal, estadual ou municipal instituindo a data (e existe uma lei federal estabelecendo um número máximo de feriados por ano, sabia?), medida necessária para resguardar os direitos dos trabalhadores, que podem assim usufruir do dia ocioso sem prejuízos a sua remuneração e demais direitos trabalhistas. Mas num país em que o trabalho não é valorizado como algo útil, pois útil mesmo é só a vadiagem, ninguém se liga nesses detalhes.
Recentemente, o anúncio do Rio de Janeiro como sede das Olimpíadas de 2016 parou a cidade. Muita festa, concentração popular nas ruas e, claro, muita cerveja. Trabalho, nada. Mas o motivo era justo, obviamente.
Aqui no Pará, outubro é um mês destinado ao encostamento e a culpa é posta, veja só, nas costas de N. Sra. de Nazaré. Qual a razão de o dia do Recírio ser um meio feriado, que para muitas categorias vira um feriado inteiro? Há não muito tempo, uma pessoa, ofendidíssima, respondeu-me que as pessoas deveriam ter o direito de vivenciar a sua fé e que o evento ocorria apenas uma vez por ano. Ri por dentro da explicação cretina. Primeiro por ser evidente que a pessoa em questão só queria mais um dia de vagabundagem; segundo, porque uma rápida conferência do número de participantes do Recírio prova que não há necessidade da benesse. Do número e do perfil. O Recírio enche as celebrações de senhoras pias, mas não de jovens e do público em geral que esteve no Círio. Este público está, neste momento, dormindo, coçando o saco ou tomando cerveja.
Este ano, p. ex., a procissão do Recírio levou meia hora para percorrer 650 metros. Reuniu um número histórico: 50 mil pessoas. E aí? Precisava parar a cidade? Dava tempo de os fieis irem à procissão e depois ao trabalho.
Pior é que o dia seguinte ao Círio se converteu, nos últimos anos, em uma data ainda mais absurdamente enforcada. Este ano não conta, porque o dia seguinte foi 12 de outubro, que já é feriado nacional, instituído por lei (aliás, um feriado indevido, já que religioso, e um país laico não deveria possuir feriados religiosos, a menos que fossem ecumênicos). Mas nos últimos anos temos visto uma suspensão dos serviços públicos no pós-Círio. A mó di quê? Ressaca da maniçoba? Ou da cerveja que, claro, rola solta no almoço festivo. Quanto eu era criança, isso não acontecia, mas alguém inventou a moda e, para o mal, não faltam adeptos.
Naturalmente, neste caso também a causa é nobre. E ainda mais nobre do que as Olimpíadas do Rio. Gente mal intencionada estabelece uma vergonhosa relação entre preguiça e religiosidade, de modo que, no final das contas, o único errado serei eu. Alguém virá por aqui me acusar de desprezar a religião alheia. Bastaria um único neurônio para separar alhos de bugalhos, mas vagabundos não fazem tais raciocínios. O negócio é ganhar um dia a mais para arranhar o cremaster. Qualquer ano desses alguém criará a semana do Círio, para que cada vez menos dias sejam trabalhados. E todo mundo achará normal.
Menos aqueles que sabem contabilizar quanta riqueza o Brasil deixa de produzir em cada dia vagabundo.

A nova rotatória

Tudo bem que esta segunda-feira 26 de outubro só termina à meia-noite, mas está bastante complicado que o prazo anunciado pela governadora Ana Júlia, em reunião no canteiro de obras do Ação Metrópole, prometendo o cumprimento do cronograma, seja respeitado. Pelo menos no que tange à instalação, hoje, de uma rotatória que eliminará o cruzamento e os semáforos da Júlio César com a Pedro Álvares Cabral. Afinal, o asfaltamento e a construção do meio fio não foram concluídos.
Mais grave mesmo é o problema da iluminação. Nos últimos metros das vias, antes do cruzamento, as luminárias foram retiradas porque haverá um novo traçado para a rede elétrica. Contudo, desligaram o atual, mas não ativaram o novo. A área está um negrume só. E perigosa, como constatei pessoalmente ao levar um parente ao aeroporto há algumas horas. No ponto em que a pista que passa pelo terreno do quartel dos Bombeiros se une à Pedro Álvares Cabral, havia cones estreitando a via e só isso. Não havia luz nem sequer adesivos reflexivos. Levei um susto ao ver surgir os cones à minha frente. Felizmente, além de não correr, eu estava atento ao local, justamente por causa da obra. Mas bastaria alguém se distrair um instante, conversando com o carona, para fazer um boliche de cones e rolar sobre aterro jogado displicentemente no chão.
Por volta de uma hora da madrugada, quando retornei, uma picape e um carro de passeio se movimentavam no canteiro de obras. É fato que as equipes têm trabalhado até tarde da noite. Mas ainda acho difícil o prazo ser respeitado. Enfim, temos algumas horas para saber.

domingo, 25 de outubro de 2009

Caranguejo

Durante um almoço que reuniu duas famílias, hoje, alguém chegou trazendo uma bela travessa de caranguejo desfiado com farofa, iguaria outrora comum em nossas mesas, mas que desapareceu depois da ação do Ministério Público, que conseguiu brecar a comercialização da chamada massa de caranguejo, por razões de saúde pública. Abstraindo-se o câmbio negro, claro, mas não faço parte dele. Provavelmente, os compretos, constituídos por um salgado frito em óleo de caminhão reaproveitado centenas de vezes e um suco de origem suspeitíssima, continuam sendo a base da alimentação de muitos trabalhadores em nossa cidade, que dispõem de apenas um real para aquecer a barriguinha.
Reconheço que foi só recentemente que descobri como se dava o processo de beneficiamento da carne do crustáceo. Quando a informação desagradável veio à tona, surpreendendo quase todo mundo, eu já sabia desse lado obscuro da delícia em apreço. E honestamente não me importava. Chegava mesmo a fazer aquele comentário tipicamente idiota de quem quer justificar algo: comi isso a vida inteira e jamais me fez mal. O fato é que, se paro para pensar no beneficiamento, o asco é inevitável. Mas gostaria de saborear um caranguejinho de vez em quando, sem a trabalheira do toc-toc.
Perguntei à visitante onde conseguira a maravilha. Soube que um vizinho dela, morador de Quatipuru, é quem consegue o produto. Deliciando-me com o prato, dei-me conta da falta que caranguejo me faz. Eu nem sabia quanto. Fico na torcida, portanto, para que encontremos uma breve solução para a comercialização da iguaria.

Qualidade do atendimento em Belém

Cena 1
Grupo de amigos vai ao São Nunca num sábado à noite. Não conseguem ser atendidos. Um dos membros do grupo, irritado, grita na direção do balcão se seria possível alguém atender. O gerente consegue um garçom, que anota o pedido: uma batata especial. Passado algum tempo, o garçom que efetivamente deveria atender aquela mesa aparece e comenta que o pedido fora uma batata simples. O cliente irritado reclama e avisa que ele não se atreva a trazer a batata simples, pois não pode decidir o que o grupo vai comer.
No final, o garçom leva a batata simples. O cliente irritado não pretende retornar ao local.

Cena 2
Família vai ao Habibs de Nazaré. O patriarca observa o cardápio e constata que as porções de charuto de repolho e de charuto de folha de uva possuem o mesmo tamanho e o mesmo preço. Pede uma porção com metade de cada tipo. O garçom consulta um gerente, que vem pessoalmente informar que mandou preparar o prato. Poucos dias depois, a mesma família vai ao Habibs da Pedreira e o patriarca repete o pedido. O garçom, numa frase seca, responde que não pode atender e, virando-lhe as costas, pergunta à esposa qual será seu pedido.
O patriarca, indignado, chega em casa e acessa o site do Habibs, relatando os fatos. No dia seguinte, recebe uma resposta da empresa, lamentando o ocorrido e informando que o treinamento dos atendentes não conduz a esse tipo de atitude. Até onde sabe o queixoso, o garçom descortês não está mais por lá.

Cena 3
A melhor de todas.
Um grupo de teatro ensaiava no Waldemar Henrique. Alguém telefona para o delivery do Habibs e faz um pedido grande. No final do atendimento, a atendente pergunta o endereço.
É na Praça da República.
Onde, exatamente, senhor? Preciso que o senhor me informe um número.
Bem, o teatro fica na Praça da República, de frente para a Presidente Vargas. Não há um número.
Senhor, eu preciso de um número para informar ao sistema, que vai descobrir o CEP e, com isso, saber em que zona da cidade é a entrega, para eu poder mandar o motoqueiro.
A senhora está me dizendo que, sem um número, eu não posso ser atendido?!
A desinteligência evoluiu para uma discussão. Lá pelas tantas, o solicitante, percebendo que não se faria entender pela moça, decidiu atender à sugestão dela, saiu do teatro e anotou o número de um prédio em frente. Forneceu o da sede social da Assembleia Paraense, já que o objetivo seria apenas identificar o CEP. Fez questão de frisar que o número fornecido era de um prédio em frente ao local da entrega. Finalmente, o pedido foi finalizado, mas a entrega demorou horrores.
O motoboy foi mandado ao prédio da Assembleia Paraense.

Conclusão:
Esta é a qualidade do atendimento ao público consumidor em Belém. E depois querem que sejamos uma cidade turística...

PS Os casos acima são todos verídicos e me foram relatados hoje, pelos protagonistas.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Passeio na Sibéria

O tempo e as experiências modificam as pessoas, todos o sabemos. Quando escrevi esta postagem sobre adolescentes transgressores alemães mandados à Sibéria, para fins "educacionais", em 25.1.2008, preocupava-me que alguém propusesse medida semelhante aqui pelo Brasil e tratei do assunto com aversão.
Hoje, contudo, depois de saber que está em nível nacional o caso dos adolescentes filmados em pleno ato de sexo oral num banheiro da escola, aqui em Belém, pergunto-me se eu não deveria abdicar de certos pudores e começar a ver com bons olhos certas medidas extravagantes. Afinal, enquanto uma meia dúzia de abnegados tenta convencer o resto do mundo de que nossa cidade e nosso Estado não são o reto do mundo, vêm umas figuras dessas e nos colocam, mais uma vez, nos noticiários nacionais, com a certeza de que seremos ridicularizados. Apesar de que essas coisas podem acontecer em qualquer lugar (se comparado aos bailes funk do Rio de Janeiro, o episódio é quase nada), a imprensa do Centro-Sul Maravilha agirá como se somente em Belém do Pará esses absurdos ocorressem.
Quanto ao caso em si, isento-me de tecer comentários não que não os tenha (muito pelo contrário), mas em respeito aos envolvidos, já que estão expostos e humilhados perante as pessoas a coletividade.
Que tempos são esses...

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Só sei que foi assim

Em algum dia desta semana, houve uma tentativa de assalto a um pequeno comércio, localizado às proximidades da feira da 25 de Setembro, em São Brás, pertencente a um senhor que conheço há muitos anos. Quando o assaltante entrou na loja e anunciou o malfeito, o proprietário correu por um corredor para se esconder, o que irritou o criminoso. Ele disparou um tiro contra o idoso, mas errou o alvo. A bala, contudo, ricocheteou em algum objeto e atingiu o próprio assaltante, matando-o!
Parece coisa inventada? Tanto parece que já surgiu uma segunda hipótese: no momento da ação, havia quatro consumidores na loja. Um deles teria atirado e interrompido o assalto. Se assim foi, ninguém apareceu para confirmar a hipótese.
Como diria Chicó, personagem de O auto da Compadecida, só sei que foi assim. Mas que houve a tentativa de assalto e que o ladrão morreu, isso são fatos. O resto... Aposto que a polícia não elucidará.

Tempo contra a mente

É comum vermos blogueiros comentarem sobre falta de assunto. Talvez seja algo mais psicológico do que real ou talvez a pessoa esteja muito exigente com a própria pauta. Talvez receie ser considerada boba se postar algo abaixo do seu nível usual. Mas se estamos aqui apenas para relaxar e falar, não creio que precisemos ir tão fundo assim na autocrítica.
O meu problema atual é o contrário: tenho lido tantas coisas interessantes, em livros, revistas e na Internet, que a cabeça fervilha de coisas para dizer. Coisas como expulsão reflexa fótica. Mas quem acompanha o blog sabe que tenho uma tendência terrível a ser prolixo. Costumo brincar dizendo que demoro um pouco até para informar as horas. Às vezes quero checar informações e ilustrar o texto com imagens. Tudo isso, claro, demanda tempo e é justamente aí que reside o meu problema atual. Ele anda algo escasso. Ando, p. ex., com uma enorme vontade de escrever sobre o filme Distrito 9, em exibição na cidade e que desde logo recomendo, mas as questões existenciais nele abordadas merecem uma reflexão melhor do que o simples afogadilho.
Por isso, ainda não retornei ao ritmo normal. Se é que existe um. Mas a coisa está melhorando.

Ame seu filho. PRIC

O Judiciário pode obrigar uma pessoa a amar o seu filho?

Pergunte a um tal de Pelé. Ele já se pronunciou sobre isso.

Testando e não vendo nada demais

Ao fazer o download do Google Earth 5.0, veio no pacote o Google Chrome, navegador de Internet da empresa que pretende dominar o mundo. Neste momento, pela primeira vez, experimento o navegador, para ver as tais funcionalidades interessantes de que me falaram. Honestamente, não vejo nenhuma. No final das contas, esses navegadores são muito parecidos entre si e, na minha opinião de leigo e avesso às chatices da informática, distinguem-se apenas pela maior ou menor capacidade de atrapalhar os usuários e torrar a nossa paciência.
Não sei, p. ex., por que tentei colocar palavras em itálico sem êxito até que, sem mais nem menos, funcionou. Também não sei por que diabos essa linha vermelha abaixo do texto fica aparecendo e sumindo. Acima de tudo, pelo Chrome não consigo acessar a versão eletrônica do jornal nem acessar algumas ferramentas das páginas que visito, inclusive para fins de trabalho. Vídeos, então, nem pensar. Não pretendo instalar plug in de coisa nenhuma. Prefiro voltar para o Internet Explorer, com todos os seus defeitos (sejam lá quais forem).
No mais, recordo-me que há dois dias vi uma entrevista no programa Roda Viva, da TV Cultura, com o criador do Linux. O cara é um revolucionário. Gostei dele. Só não me animei ainda a aderir ao Linux. Ainda não estou tão de esquerda assim.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Tagarela

Essa coisinha mais maravilhosa que você vê na foto, toda se saracoteando em cima do caracol (assustando a avó, que acha que ela cairá), é a minha Júlia, agora com um ano e dois meses.

Estando em férias parciais, tenho passado mais tempo em casa, o que me permite usufruir dela em horários em que habitualmente estou ausente. Isso ocorre, oportunamente, numa fase que considero a melhor que já passamos com ela. Mais crescida, mais consciente, suas habilidades estão bastante desenvolvidas.
Está uma dançarina! Qualquer indício de música e já se requebra toda, satisfeitíssima por saber que ficamos todos empolgados, em volta. Sorri, bate palmas, sabe desfrutar de ser o centro das atenções. Crianças fazem tudo por aprovação. Assim como os adultos.

Conhece as cores de sua toca de bolinhas (amarelas, vermelhas, azuis, verdes, roxas e da cor preferida, laranja), melhorou bastante a manipulação dos brinquedos, adquiridos conforme as trocentas etapas de desenvolvimento. Mas de todas as habilidades que desenvolveu, nada se compara à linguagem. Estou criando uma tagarela! A criatura fala o tempo inteiro! E se esforça por imitar as palavras que lhe dizemos, daí a nossa preocupação em ensiná-la corretamente. Jamais cometemos a sandice de falar tatibitate com ela, nem permitimos que o façam. Assim ela vai aprendendo a sonoridade real de cada vocábulo e parece adorar a nova capacidade de se comunicar verbalmente.

Dia chegará e brevemente em que imploraremos a ela por um minuto de silêncio! Por enquanto, todavia, é uma delícia escutá-la dizendo, limpidamente, "papai, mamãe, neném"!

Aí, Waleiska: assim como tens a seção "Super Dalila", eis aqui a minha seção "Super Júlia".

Para reduzir o risco cardíaco...

...seja inteligente.

Coisas do Exame da Ordem

A coluna Repórter Diário noticia hoje que, após o julgamento dos recursos contra o resultado do último exame da Ordem, o Pará teria melhorado o seu já vantajoso desempenho, se comparado aos demais Estados do país. Antes, eram 497 aprovados em todo o Pará. Agora, são 573, ou 54,06% de aprovação.
Tudo muito bom, tudo muito bem, também fico feliz com a notícia. Entretanto, minha mentalidade de professor se vê obrigada a perguntar: que diabo de correção é essa que, em grau de recurso, leva à aprovação de mais 76 candidatos?
Que fosse um ou outro, vá lá. Mas 76?! E considerando o quantitativo total de candidatos do Estado? É gente demais! Quer-me parecer que isso aponta para o velho problema que já estamos cansados de apontar: falhas metodológicas (ou pior: de conteúdo!) na elaboração das provas ou na sua correção. Em se tratando de revisão da parte objetiva, tudo indica que seja na elaboração, já que a correção não é subjetiva.
Fico à vontade para criticar, seja porque também me submeti ao exame, seja porque o defendo com veemência, seja porque ele é o desembocadouro do trabalho que faço com meus colegas numa instituição de ensino superior. Avaliar, sim; filtrar, sim. Mas que isso seja feito com critério, com justiça e com objetivos pedagógicos. Do jeito que era e que é, todas as margens são dadas para as críticas que não param de chegar. Pelo visto, com razão.

PS Estamos falando de Pará. Considerando que a prova é unificada, o que não terá ocorrido no resto do país?

domingo, 18 de outubro de 2009

Receita de um bom domingo

Acorde descansado (tudo bem, sei que nem sempre isso depende de nós).
Saia para passear com a família. Aproveite para driblar o calor, quanto possível, em um lugar como o Museu(*). Se você tiver uma filha de um ano e dois meses, talvez ela fique encantada com a onça.
Aviste de longe um conhecido, com sua família, e não perca a oportunidade de ir cumprimentá-los.
Encontre amigos e os leve para almoçar em sua casa. Sem convite prévio. Sirva o que houver.
Converse sobre assuntos pessoais. Fale do que é importante. Desabafe. Ria de cada gracinha que as crianças fizerem. Marque um passeio comum.
Usufrua do seu núcleo familiar. Faça uma refeição com todos juntos. Depois, sentem-se no chão para brincar.
Finalmente, cuide do seu bebê, se houver um, e não se esqueça de lhe desejar boa noite com um cheiro, um abraço e um beijo. Caso seja de sua fé, sussurre um "Deus te abençoe".
Passe o resto da noite na companhia de seu cônjuge ou afim, caso tenha. Chegue à conclusão de que o seu dia absolutamente simplório foi encantador e de que você não vê a hora de ter outro igual.

(*) Para quem não conhece Belém, como a querida Ana Miranda, que tem visitado o blog nos últimos dias, o Museu Paraense Emílio Goeldi é um parque zoobotânico, o que de mais próximo temos de um jardim zoológico. Constitui um dos passeios mais típicos das famílias da cidade, independentemente de classes.

sábado, 17 de outubro de 2009

O garoto no convés


O HMS Bounty
 No Natal de 1787, o navio da marinha britânica HMS Bounty zarpou do porto de Spithead com destino à ilha de Otaheite, que conhecemos com o nome de Taiti. Levava uma missão incomum: produzir, na paradisíaca ilha, milhares de mudas de fruta-pão, que deveriam ser aclimatadas nas Índias Ocidentais para se tornar uma fonte de alimento abundante e barata para as colônias inglesas. Em outras palavras, como magistralmente dito pelo protagonista, a missão do Bounty era baratear a escravidão! O comentário deixou muito ofendido o capitão do navio, o honrado William Bligh (1754-1817), cuja lealdade ao rei George III não lhe permitia ver que, no fundo, o patético John Jacob Turnstile, então com 14 anos e criado como punguista, tinha toda a razão. A honra do capitão estava empenhada em uma tarefa odiosa, que ele cumpria com o máximo senso de dever e lealdade.
Após um ano e meio de viagem perigosíssima, onde a vida de todos esteve por um fio (ou por uma onda) mais de uma vez, o Bounty chegou ao seu destino e a tarefa de cultivar as mudas de fruta-pão foi realizada a contento. Nesse meio tempo, os marinheiros se deixaram dominar pela licenciosidade selvagem da ilha, cujas mulheres andavam com os seios à mostra e faziam sexo com qualquer um, a qualquer hora, de qualquer jeito. Otaheite se transformou no paraíso em terra para eles. Assim, quando precisaram partir, formou-se um motim e a embarcação foi subtraída ao rei. Bligh e 19 homens que a ele se mantiveram leais foram largados à deriva, no mar, à própria sorte. Após 48 dias de intenso sofrimento, os marinheiros lograram chegar ao Timor, então uma "colônia holandesa de gente cristã e civilizada", como define uma enfermeira.

William Bligh
 Esta é uma história real e bastante conhecida na Inglaterra ou por pessoas que se interessam pela história da navegação. John Boyne, autor de O menino do pijama listrado, pesquisou em sete livros sobre o tema e consultou transcrições de diversos processos relacionados ao motim do Bounty para escrever um maravilhoso romance, que tem com protagonista um personagem fictício, o garoto Turnstile, um órfão que aos 5 anos de idade vai parar num abrigo para crianças abandonadas, estabelecimento administrado pelo odioso Sr. Lewis, cujo único objetivo é explorar os menores, fazendo deles ladrões durante o dia e, a partir da puberdade, vítimas de abuso sexual para os homens ricos de Portsmouth durante a noite.
Após um malsucedido furto, Turnstile acaba condenado a 12 meses de prisão, mas é salvo pela própria vítima, um fidalgo francês que convence o juiz a embarcá-lo no Bounty, para servir de criado do capitão. E assim começa a aventura.
O garoto no convés (em português, provavelmente um título oportunista, para servir de referência à outra obra famosa do autor, já que o original é Mutiny on the Bounty; por sinal, a edição brasileira, da Companhia das Letras, imita descaradamente a capa do outro romance) é apresentado como um romance naval de inspiração histórica, versando sobre a transformação de um menino em homem e falando sobre honra, dever e lealdade. Escrito na linguagem encantadora e delicada de Boyne, prende a atenção e consegue mostrar mesmo a abjeção humana de modo delicado, sem ferir a suscetibilidade do leitor. Note-se, p. ex., a sutileza com que o autor trata da exploração sexual a que tantos adolescentes eram submetidos pelo Sr. Lewis, subjugados emocionalmente a ponto de nunca fugir, embora tivessem oportunidade de fazê-lo, trauma que chega ao ponto de dificultar a iniciação sexual de Turnstile, em Otaheite, pois embora estivesse alucinado por transar com Kaikala, a lembrança de suas únicas experiências sexuais o abalava profundamente.
O clímax do livro, contudo, é mesmo a temporada após o motim, quando as 19 vítimas (que logo se tornam 18) se lançam numa improvável jornada pela sobrevivência.
Enfim, uma história riquíssima, que posso incluir entre as melhores experiências literárias que já tive. Só digo uma coisa: leia!

Viagens sem motins

Há pouco mais de um mês, recebi casualmente duas sugestões de leitura. Não foram feitas para mim, exatamente, mas me interessei pelas obras. Acessei a Internet para saber mais sobre elas e, fascinado, tratei de comprá-las imediatamente. Não apenas elas, mas um outro romance de cada autor. Quatro livros, no total, até então desconhecidos por completo para mim. Mesmo com todos os compromissos, tratei de reservar um tempo para o deleite da leitura voluptuária, do qual andava precisado há tempos. Há cerca de meia hora, encerrei a leitura do quarto e último volume.
Estou absolutamente recompensado. O prazer da leitura, que dominou a minha infância e adolescência, retornou com toda a força, a ponto de eu ter dormido às duas horas desta madrugada, após um dia de trabalho, e ciente de que acordaria muito cedo esta manhã, porque não conseguia largar dezoito homens justos à deriva numa pequena lancha, em pleno Pacífico Sul, esperando a morte a qualquer momento. Eram as vítimas do motim na fragata Bounty.
Em pouco mais de um mês, fui de 1787 a 1943. Estive na Alemanha, Polônia, Inglaterra e Taiti, além dos meses passados em alto mar, cruzando continentes, temporada que rendeu ainda 48 dias à deriva no mar. Lidei com escritores, livreiros, policiais, com o Diabo em pessoa, nazistas, judeus, marinheiros e selvagens canibais. Foi um mês estonteante, proporcionado pela leitura, nesta ordem, de O menino do pijama listrado, O jogo do anjo e A sombra do vento. Sobre cada um, uma postagem identificada com o título do romance, que você pode encontrar através do marcador "literatura".
Sinto-me, contudo, meio órfão. A sensação só não agride porque tenho um bom acervo em casa, muitos livros comprados para ler algum dia. Agora que não consigo mais parar de fazê-lo, o dia pode ter chegado. Então vamos a outros mundos e outras épocas, outros estilos e objetivos. Começando, talvez, por algum ótimo autor brasileiro.
Boa leitura para você também.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Natureza na janela

Felizmente ainda podemos nos deparar com essas cenas.
A chuva que ainda caía há menos de uma hora deixou os passarinhos encolhidos, à procura de abrigo. Fui encontrar estas duas rolinhas no cabo da rede telefônica, bem em frente a uma janela do meu quarto.
Fiz o registro fotográfico e carreguei Júlia para ver os pássaros. Ela ficou empolgadíssima e eles, crescentemente desconfiados. Já se levantavam, quando observei que obteria uma bela foto de perfil deles. Mas aí já foi demais. Quando me aproximei de novo, os dois bateram asas...
...e foram se refugiar uns poucos metros à frente, no mesmo cabo telefônico, às proximidades do poste e da feiosa fiação que, como sempre protesta o amigo Carlos Barretto, compromete a estética da cidade.
Contudo, sempre é bom ver que a natureza ainda está ao nosso alcance.

"Solene corno"

Juiz do Rio chama marido traído de "solene corno"Ele negou indenização a homem que processou amante da mulher e ainda recomendou pra ele tratamento psiquiátrico

O juiz Paulo Mello Feijó, do 1º Juizado Especial Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, negou pedido de indenização por danos morais a um policial federal que processou o amante de sua mulher e ainda o chamou de "solene corno".
Um dos trechos do processo diz que "um dia o marido relapso descobre que outro teve a sua mulher e quer matá-lo - ou seja, aquele que tirou sua dignidade de marido, de posseiro e o transformou num solene corno".

O juiz justificou a decisão comparando homens e mulheres de cerca de 50 anos, os motivos que cada um pode ter para trair e ainda disse que, em muitos casos, um marido ausente leva a esposa a buscar a felicidade com outro homem.
- Hoje, acabam buscando o judiciário para resolver suas falhas e frustrações pessoais. Mas esquece que ele jogou sua mulher nos braços de outro.

Feijó esclarece ainda que adultério não é mais crime, aconselha o "solene corno" a procurar tratamento psiquiátrico e ainda cita trecho da música Ninguém Tasca (O Gavião), de Pedrinho Rodrigues.
- A nega é minha, ninguém tasca, eu vi primeiro.

De acordo com o processo, o policial federal descobriu que a mulher estava tendo um caso há sete meses e resolveu ligar para o amante. Segundo o marido, ele o teria ameaçado. Ele então ficou com medo e resolveu denunciar o amante da esposa na corregedoria da Polícia Federal. O caso acabou se tornando público e o policial virou motivo de piada entre os colegas, que o apelidaram de "corno conformado". Por isso, ele entrou com pedido de danos morais para receber a indenização.
O juiz julgou improcedente o pedido , considerando também o fato de o marido ter perdoado a mulher, e ainda lhe deu uma boa lição de moral. A sentença foi escrita pelo juiz leigo Luiz Henrique Castro da Fonseca Zaidan e aprovada por Feijó há dois meses.
Se eu entendi direito, o sujeito foi traído pela esposa, perdoou-a e só ingressou em juízo quando virou motivo de chacota entre os colegas de farda, sendo notório que amigos e colegas são contumazes em sacanear quem lhes dá motivo. Some-se a isso que o caso caiu no conhecimento público por ato injusto do próprio policial.
Se assim é, a despeito dos termos apostos à sentença, nada a dizer contra ela. E como diria o Antônio Tabet, do Kibeloco, próximo!

Anjo da guarda sênior (outro)

Estação de trens urbanos de Ashburton, Melbourne, Austrália, 15 de outubro de 2009.
Para adentrar na composição, a mulher movimenta o carrinho do bebê e se distrai por um instante, conversando com alguém, deixando-o com a trava solta. O carrinho desliza para a frente e cai na linha do trem. Desespero. As pessoas na estação correm, numa tentativa de resgatar a criança, de apenas seis meses, mas não há tempo para fazer nada, pois o comboio já chegou e passa, inclemente, sobre a linha.
O corpo da mãe oscila. As demais pessoas ficam petrificadas, olhando a cena, impotentes.
Vendo as imagens por um noticiário de TV, esta manhã, ficamos perplexos. Mas a notícia não terminou ainda. O fato é que, por mais improvável que isso seja, o bebê do acidente foi arrastado por 40 metros e, no final das contas, terminou apenas com alguns arranhões.

O porta-voz da estação declarou à imprensa que se acredita que o fato inusitado não se tornou uma tragédia porque o bebê estava preso pelos cintos de segurança do carrinho artigo que, ao menos no Brasil, ninguém utiliza. Reconheço que nós também não colocávamos em Júlia, porque ela se incomodava. Felizmente, somos sensatos o bastante para não fazer concessões no automóvel: para andar de carro, só na cadeirinha e devidamente amarrada.
Valeu, ó anjo da guarda!

Pedagogia do tapa

Ontem à tarde, minha esposa me aguardava na sala de espera de um consultório. Chega uma senhora com duas crianças uma menina com os seus três anos e um menino mais velho. Agitados, os dois apresentam brincadeiras agressivas. Provocações e tapinhas são repetidos. Lá pelas tantas, Júlia, que ressonava no colo da mãe, desperta. A menina se aproxima e faz duas perguntas: "É menino ou menina?" (o cabelo de Júlia ainda é curto e ela vestia calças jeans e uma batinha; crianças pequenas não costumam reparar em detalhes como sapatos de florzinha) e "Qual é o nome?"
Após obter as duas respostas, a menina se senta e, passado um momento de silêncio, dispara uma revelação que deixa Polyana perplexa: "A minha mãe me bate. Ela me bate quando faço tolice."
Polyana, que é intransigentemente contrária ao uso da força na educação, fica atônita e desconversa. Não quer criar problemas com a tia das crianças, que as acompanhava na oportunidade. Pensou numa resposta indireta ("Pois eu não bato na minha filha"), mas nem essa ela soltou. Fosse para mim que a menina falasse, eu diria sem pena: "É mesmo? Você sabia que isso é crime? Diga a sua mãe que um advogado orientou que você a denunciasse ao conselho tutelar". E quero ver se a tia teria peito de redarguir.
Na verdade, diferentemente de Polyana, não sou absolutamente avesso a uma força corretiva, chamemos assim. Ou palmadinha evangélica, como prefiro. Mas pertenço àquela categoria de pessoas quem veem nesses recursos a via final e odiosa a que não esperam sucumbir. Pelo contrário: a ideia é jamais chegar a isso. Para se ter uma noção, inúmeras vezes fui obrigado a bater nos cachorros que criei ou crio e sempre me sentia mal depois de fazê-lo. Imagine uma criança! Não consigo compreender com alguém possa ver na violência um instrumento natural, automático, de prima ratio. Nem tolerar que se reproduza acriticamente o passado em que a pedagogia do tapa era a tônica.
Pelo visto, a criança de ontem, por mais danada que fosse, possuía uma mãe que batia como recurso primeiro. Bater é extremamente mais fácil do que educar. E produz resultados incomparavelmente menos satisfatórios. E ao contrário do que pode parecer, diante de uma menina de olhar malicioso e comportamento agressivo, as surras que leva geram uma mágoa tão profunda que ela já chegou ao ponto de, sem mais nem menos, levar seu queixume a qualquer estranho pelo caminho. É como um pedido de socorro.
E assim vemos um ser humano deseducado, perdendo-se dentro da própria casa. Uma lástima.

Boa frequência

A relativa parada do blog, que já se prolonga há alguns dias, não influenciou negativamente o número de acessos. Pelo contrário, nos últimos dias posso ver que a frequência de visitas tem sido até superior ao esperado, além de que algumas postagens mais antigas têm sido objeto de comentários.
Agradeço aos diletos senhores e senhoras pela enorme gentileza. E toquemos o barco.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Dia do professor

Comemoro hoje o meu décimo dia do professor, no recesso do meu lar. Trabalhando, claro. Corrigindo provas. O ofício do professor não se encerra nunca, ainda mais hoje, com as ferramentas virtuais de comunicação. Sempre há uma mensagem para ler e responder. Esta é uma tarefa de que gosto muito, porque há alunos que se intimidam de perguntar em sala de aula, mas encontram espaço para fazê-lo através do computador. Gosto de pensar, também, que a aula se estende para horários inesperados, numa espécie de metáfora de que a educação é uma atividade diuturna, a ser exercitada em cada ato de nossas vidas.
De minha parte, não pretendo que os professores sejam uma categoria endeusada, como na Índia. Respeito e reconhecimento já bastam. Afinal, a docência é um prazer que, por si só, já recompensa bastante.
Minhas homenagens aos professores.

Sobre empecilhos à investigação criminal

No último dia 5, publiquei a postagem "Nova lei sobre identificação criminal", para a qual me foi deixado o seguinte comentário, que faço questão de publicar:

Infelizmente, em nosso país, às vezes boas leis acabam por surtir graves "efeitos colaterais" à sociedade.
Perdoe-me o autor, mas a realidade encontrada na sociedade brasileira não reflete o pleno respeito aos direitos e garantias da pessoa. A teoria é muito bela.. na teoria apenas...
E olha só, eu não invejo os estadunienses ("que possuem bancos de dados pra tudo"): na minha profissão (sou papiloscopista policial federal) conheço excepcionais bancos de dados e imagens que algumas polícias estaduais e a federal dispõem... mas acontece que, como se pode deduzir da situação atual, acaba ficando praticamente impossível abastecermos tais bancos se somos impedidos de coletar as impressões digitais! Preciso esclarecer aqui que as impressões digitais de TODOS os policiais federais constam em banco de dados nacional porque são coletadas no momento em que somos aprovados no concurso. Já as impressões digitais do suspeitos... ah, bom, eles não podem ser constrangidos...
À primeira vista, a lei 12.037/09 PARECE trazer maior proteção ao cidadão. Ocorre que, na prática, a polícia é cada vez mais tolhida e os investigados/criminosos cada vez mais protegidos (vale aqui lembrar a recente e ABSURDA PROIBIÇÃO AO USO DE ALGEMAS!!!).
Em vez de punir as situações de excessos sensacionalistas (CONDENÁVEIS SIM) acaba-se optando por fazer novas leis (infelizes)... Quem conhece a rotina das identificações criminais e as executa com profissionalismo sabe de sua extrema importância, pincipalmente num país em que é possível que um indivíduo tenha 27 carteiras de identidade com 27 nomes diferentes sem fazer muito esforço!! Essa é a REALIDADE BRASILEIRA...
A simples coleta das impressões digitais PODE garantir que uma pessoa presa hoje não seja cadastrada com o nome de outra!!! ABSURDO é pensar que ninguém se incomoda em ter sua foto e suas impressões digitais colhidas em academias, na entrada de prédios, consultórios médicos, locadoras de vídeo, mas se escandaliza se esses dados são para a polícia!! Veja só, um comerciante qualquer pode então ter mais certeza de que você é você do que a própria polícia!Seria cômico não fosse trágico... Depois a gente assiste na tv reportagens inúmeras de presos inocentes porque outros, com passagens pela polícia e verdadeiros bandidos, apresentaram-se com nomes e documentos falsos, ou roubados...Isso sem considerar outros interesses... só mesmo aqui no Brasil pra se acreditar que uma lei foi feita pensando no bem da coletividade, né? Num momento em que cresce o número de "autoridades" de diversos níveis, principalmente das classes econômicas mais altas, investigadase presas, surgem as tais LEIS PROTETORAS...
Quando se enfraquecem as autoridades policiais de uma sociedade, a criminalidade é protegida e se organiza melhor - nas favelas e nos palácios...

Minha resposta:

Caro anônimo papiloscopista, compreendo a sua crítica e a sua irresignação. Confesso não saber em que medida a legislação vigente atrapalha a sua rotina de trabalho, mas sei que ela cria situações embaraçosas para a investigação criminal. Realmente, o discurso excessivo de proteção às liberdades individuais acaba por comprometer a elucidação da verdade.
Percorrendo o blog, você verá que sou declaradamente garantista. Mas isto no que tange às opções incriminatórias e à forma de tratar o indivíduo no processo (quanto à prisão e à condenação, p. ex.) ou durante a execução. Já no que pertine à investigação, sou curto e grosso: o Estado deve dispor de meios para elucidar os fatos. Neste ponto, preciso repetir que invejo os americanos (só nisto, ok? Em geral, americanos me irritam): o sistema investigatório é rigoroso e a falta de colaboração pode ser tratada como crime de obstrução. As pessoas são, de certo modo, coagidas a produzir prova contra si mesmas, se culpadas forem. Mas quer saber? Acho corretíssimo. É a melhor forma de punir quem deve ser punido e proteger os inocentes.
Aliás, vale lembrar: ao contrário do que pensam os desavisados, o garantismo não foi pensado para proteger criminosos. Logo, se o sujeito é culpado, não pode invocar direitos constitucionais para não ser investigado ou atrapalhar as investigações. Mesmo, eventualmente, sendo um banqueiro famoso.

É interessante a menção do papiloscopista sobre o excesso de exposição das pessoas, em outros ambientes, quando então a coleta de digitais não é um problema. Claro que não seria, já que se trata de prazeres livremente procurados, sem repercussões punitivas. Mas não deixa de ser um sintoma algo cínico. Penso, assim, que as autoridades deveriam ter acesso a esses dados, desde que justificadas por uma investigação criminal concreta e supervisionada.
O essencial, enfim, é que se disponha de meios eficientes e rápidos para elucidar crimes.

Mais explicações

Blog parado, pode contar que as minhas obrigações profissionais estão por trás disso. E provas são a causa mais provável. Exatamente devido a isso as coisas por aqui andam lentas e ainda estarão um pouco, até a tarefa ser finalmente concluída.
Por essa razão, a moderação dos comentários também demorou, mas já atualizei, inclusive respondendo. Se você me escreveu algo, já lhe dei a atenção merecida.
Obrigado e bom dia.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Contra os paparazzi

Arnold Schwarzenegger, mais conhecido como ator canastrão de filmes com muita aventura e pouco conteúdo, há alguns anos se tornou célebre também por aderir à política e chegar ao governo de uma das unidades federativas mais importantes dos Estados Unidos, a Califórnia, onde dia desses esteve a nossa governadora, Ana Júlia Carepa.
Ele próprio um alvo dos famigerados paparazzi, que retiram dos artistas o direito inalienável à privacidade, Schwarza (para os íntimos) sancionou ontem uma lei que vai dificultar a vida dos fotógrafos abusados. Agora, além de multa, que já há dez anos podia ser imposta pela obtenção ilegal de imagens, surge a possibilidade de punir o veículo de comunicação que fizer uso do material obtido ilegalmente.
Com todo o respeito, acho bem feito. Abuso é abuso e, como tal, deve ser reprimido. Depois reclamam quando os caras se aborrecem e dão remada em jornalistas-que-estavam-apenas-fazendo-o-seu-trabalho...

Menor que minha filha!

Fiquei estarrecido: o menor homem do mundo, aos 18 anos, é menor do que minha filha!


Khagendra Thapa Magar tem 60 cm e menos de 5 quilos. Quer encontrar uma mulher de estatura parecida, para poder se casar. Não sei não, mas tenho a impressão de que será um pouco difícil.
Acho que vou parar de reclamar da minha altura...

Provas, muitas provas

Tenho colegas que se livram delas rapidamente. Eu, contudo, não aprendi a ser eficiente na tarefa de corrigir provas. Levo horas e horas para ler tudo e as horas se transformam em dias. Paro, penso, tento decodificar letras quase insondáveis. Tento interpretar frases que não parecem fazer sentido. E escrevo. Escrevo muito. Rabisco as provas, com correções e explicações, pois entendo que o aluno tem o direito de saber o que pensei ao ler o seu trabalho. Mas isso, claro, aumenta demais o meu.
Não tem jeito: só sei fazer assim.
Eis a razão de o blog ter ficado inerte hoje. Preciso de mais um tempo, depois retorno.
Um abraço.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Quem diria

Hudson Andrade, diretor do Auto do Círio este ano, durante entrevista na Rádio Cultura na última sexta-feira (quando o famoso espetáculo de rua foi apresentado), falou no ar com o diretor de operações da CTBel e elogiou-o publicamente por todo o apoio dado pela companhia aos trabalhos dos artistas, durante as noites de ensaio da Aldeia Cabana. Os agentes de trânsito foram eficientes e resguardaram a segurança de todos artistas, pedestres e condutores , cumprindo todos os horários e se relacionando com muita educação e gentileza muito diferente da imagem que todos nós construímos desses agentes públicos.
Perceptivelmente agradecido, o diretor desabafou, dizendo que as pessoas só sabem destacar os pontos negativos da CTBel, os seus erros e insuficiências, que ele mesmo admitiu seres muitos, mas não toda a realidade da companhia.
Na sexta-feira à noite, a eficiência voltou a ser sentida: desde cedo, foi interrompido o trânsito na área de influência do espetáculo e os veículos estacionados indevidamente foram rebocados. Aqui, uma grande supresa: em vez de serem recolhidos ao curral, para liberação mediante o pagamento das despesas (uma das tramoias que pesam contra a companhia), os veículos foram levados para o estacionamento aos fundos do Palácio Antônio Lemos e, ali, organizados lado a lado, puderam ser localizados pelos proprietários, sem maiores dificuldades e às proximidades de onde estavam antes.
Digo mais uma vez: quando há motivos para elogiar, elogia-se.

Capa

Muito bonita e capa da edição de hoje do Diário do Pará, mostrando uma enorme fotografia de uma das imagens que sempre tiveram o poder de me impressionar: o tão decantado mar de seres humanos durante a procissão do Círio. Impossível olhar sem ficar estarrecido. Em volta, vinte imagens menores, com flagrantes do evento.
Parabéns aos responsáveis pela arte final. Quando há motivos para elogiar, elogia-se.

domingo, 11 de outubro de 2009

Bom Círio a todos!

Mesmo que não seja a sua praia, não se pode desperdiçar um dia em que as pessoas estão envolvidas em sentimentos de fraternidade, religiosidade e paz.
Felicidade para você.

Acidente

Há poucos minutos, vi algo que jamais pensei que veria pessoalmente e na esquina de casa: um paraquedista estatelado no asfalto.
Devido à relativa confusão que se formou no trânsito o prazer mórbido de ver desgraças , fiquei retido uns minutinhos e foi assim que fiquei sabendo do que se tratava, pois a princípio pensei tratar-se de um atropelamento ou, talvez, de um baleamento, já que havia duas viaturas da Polícia Militar no local, posicionadas de modo a proteger a vítima.
Obviamente, não desci do carro como outros fizeram, o que só atrapalharia o trabalho da polícia. Aliás, faço questão de registrar que os policiais chegaram rápido e estavam visivelmente preocupados em assegurar o atendimento do rapaz, afastando os curiosos, pedindo por favor e tratando a todos com respeito e educação. Eu, p. ex., fosse o policial, não seria muito educado com o sujeito que sacou de um celular para fotografar o rosto ensanguentado da vítima, à queima roupa. Que falta de respeito! E mais, de humanidade!
Do que vi de minha janela, já que passei bem ao lado, sei que o rapaz estava consciente, falando e mexendo as mãos, talvez para se certificar de que possuía movimentos nelas. Pelos jornais, talvez fiquemos sabendo as circunstâncias do acidente.

sábado, 10 de outubro de 2009

Visões do Círio

Volta e meia me aproprio de alguma fotografia de Tarso Sarraf (mas sempre reconhecendo os seus direitos autorais!). Mais uma vez, socorro-me do talentoso fotógrafo para falar do que não vi pessoalmente.




Eis aí a imagem peregrina de N. Sra. de Nazaré, saindo de casa para a rodorromaria, ontem, vestida em seu belíssimo manto (magnífico o bordado do cordeiro, não?).
Hoje é dia de trasladação. Um bom Círio para os que o vivenciam. E para os que não, um bom Círio também.

Paradinha para cuidar da família

Blog silencioso ontem, por razões das mais relevantes. Durante este final de semana prolongado, a qualquer momento, uma postagem nova.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Infração e castigo

Esta era a redação do art. 250 do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 8.069, de 1990) até o último dia 2:

Art. 250. Hospedar criança ou adolescente, desacompanhado dos pais ou responsável ou sem autorização escrita destes, ou da autoridade judiciária, em hotel, pensão, motel ou congênere:
Pena - multa de dez a cinqüenta salários de referência; em caso de reincidência, a autoridade judiciária poderá determinar o fechamento do estabelecimento por até quinze dias.


Esta é a redação atual, dada pela Lei n. 12.038, de 1º.10.2009:

Art. 250. Hospedar criança ou adolescente desacompanhado dos pais ou responsável, ou sem autorização escrita desses ou da autoridade judiciária, em hotel, pensão, motel ou congênere: Pena – multa.
§ 1º Em caso de reincidência, sem prejuízo da pena de multa, a autoridade judiciária poderá determinar o fechamento do estabelecimento por até 15 (quinze) dias.
§ 2º Se comprovada a reincidência em período inferior a 30 (trinta) dias, o estabelecimento será definitivamente fechado e terá sua licença cassada.


A grande novidade é, portanto, a possibilidade de fechamento definitivo do estabelecimento.
Não existe turismo sexual e exploração de prostituição, sobretudo quando as vítimas são crianças, sem a retaguarda de uma rede hoteleira (chamemos assim, genericamente). Daí a preocupação do legislador, que produziu uma regra sensata e útil. Portanto, caros empresários do setor, botem as barbas de molho. Infrações administrativas não são crimes e, como tal, dispensam a demonstração de que o agente teve dolo, Fazer vista grossa pode custar muito caro.

Páginas da vida

A fantasia.
E a realidade.
Não sei se já envelheci ou se sou ruim mesmo, mas esse negócio de largar tudo por amor me parece assim como direi, sem ser indelicado? uma grande bobagem.
Não há Manoel Carlos que dê jeito.

Ânsia de vômito

Vocês viram a charge de ATorres, no Diário do Pará de hoje, na página A4 (caderno de política)?
Não a reproduzi aqui e não o faria de modo algum. Repugnante.

O peso de uma greve

Cidadão comum, dependente de serviços bancários, já amarguei os meus prejuízos por conta da greve da categoria, que há vários dias inferniza a vida dos brasileiros. Prejuízos economicamente mensuráveis, além do desgaste emocional. Ontem, p. ex., sem a opção da Internet por não ser cliente de certo banco, 40 minutos perdidos na frente de um caixa eletrônico que, no final das contas, não me ofereceu a opção de que eu desejava. Tempo perdido, pura e simplesmente.
Os problemas se intensificam porque, como já reclamei aqui no blog, uma quantidade estarrecedoramente grande de pessoas insiste em ignorar que suas contas podem ser pagas pela Internet, em suas próprias casas, com toda a comodidade e segurança. Por sinal, tal serviço já está disponível há alguns anos. Mesmo assim, esses cornos cidadãos brasileiros insistem em se enraizar na frente das máquinas, com dezenas de contas a pagar, a maioria de consumo e prestações de alguma coisa, ferrando com a vida de quem só dispõe daquele meio para realizar a operação desejada.
Surge a notícia, contudo, de que o comando de greve já teria sinalizado a aceitação da proposta da categoria econômica. Em assembleia hoje, pode ser que o movimento termine.
Já passou da hora.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Só se der

Dia particularmente exigente hoje. Atualização incerta no blog.
Mas eu volto, com certeza.

Discursos de neutralidade

Do comentarista Nilson Soares, a respeito da postagem "Conveniente", duas abaixo desta:

Salve, toda vez que escuto essa baboseira de que o juiz é neutro, de que ele representa o Estado (jurisdição) e coisas do tipo me sinto cansado...
Só acho interessante observar que foi justamente no séc. XIX, quando a burguesia já era a classe dominante (e se agrava o risco social dos trabalhadores) que não por acaso surgem os discursos científicos da neutralidade do cientista social, com Comte e mais elaboradamente com seu discípulo Durkhein. E esse engôdo foi levado para o direito, e no Brasil até hoje faz escola.
Honestemente desconheço, no Brasil, literatura que discorra objetivamente sobre o discurso da neutralidade dos administradores da justiça e os resultados de suas ações.
Como não há discussão, e principalmente, como temos um bando de analfabetos funcionais nas faculdades, todo tipo de justificativa é apresentada sem qualquer pudor.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Seja um colunável

O jornalista Anderson Araújo, rápido no gatilho, dono do blog Bêbado gonzo, conquistou a minha simpatia com esta postagem bem humorada, porém realista, sobre ser colunável.
Aproveite.

Conveniente

Leia aqui um magistrado explicando por A + B porque ele está corretíssimo ao não receber advogados em seu gabinete.
A opinião é dele, bem entendido. E não me convence nem um pouco.

800 mil mortos

Idelphonse Nizeyimana. Poderia ser o nome de um escritor, p. ex. Alguém que, com sua arte, houvesse contribuído para um mundo melhor. Mas ele é, tão somente, um dos principais responsáveis por um dos piores crimes de que se pode ter notícia o genocídio. Foi perpetrado em Ruanda, no ano de 1994, e deixou um saldo superior a 800 mil mortes. Foi mais um dos conflitos étnicos que rasgam a superfície do continente africano até hoje. Étnico, segundo afirmam as ideologias locais, mas subvencionado por muita gente interessada em vender suas armas para esses países, como se fosse um comércio como outro qualquer.
"Não é minha guerra", diria Yuri Orlov, protagonista do filme O senhor das armas (Lord of war, dirigido por Andrew Niccol, 2005). Sem dilemas de consciência, o personagem interpretado por Nicholas Cage explicava, na ficção, qual é a realidade: países ricos, fabricantes de armas, notadamente os Estados Unidos, fomentam ódios raciais e disputas de todo tipo, para que eclodam guerras e eles possam vender suas armas. E não apenas armas e munição, mas todo tipo de material bélico, de ataque a contra-ataque, remédios adquiridos pelos governos para atender as populações atingidas, etc. Tudo comercializado para os dois lados, simultaneamente.
Felizmente, Nizeyimana foi preso anteontem e será julgado pelo Tribunal Criminal Internacional para Ruanda. Naturalmente, não há nenhuma resposta possível a esse tipo de criminoso. Nem mesmo os adeptos da pena de morte podem cogitar de uma. Não se morre 800 mil vezes.
A imagem ao lado mostra um memorial aos mortos nessa tragédia, que abala a nossa compreensão sobre a humanidade.

Homens de valor

"Todo o meu patrimônio deverá ser tratado da seguinte maneira. O capital será investido pêlos meus executores em títulos seguros e deverá constituir um fundo, a participação onde deverá ser distribuído anualmente em forma de prêmio para aqueles que, durante o precedente ano, deverá ter conferido o grande benefício para a humanidade.A dita participação deverá ser dividida em cinco partes iguais, onde deverá ser aplicado como se segue: uma parte para a pessoa que deverá ter feito a mais importante descoberta ou invenção no campo da física; uma parte para a pessoa que deverá ter feito a mais importante descoberta química ou aperfeiçoamento; uma parte para a pessoa que deverá ter feito a mais importante descoberta no domínio da fisiologia ou medicina; uma parte para a pessoa que deverá ter produzido no campo da literatura o mais impressionante trabalho de uma tendência idealista; e uma parte para a pessoa que deverá ter feito mais ou melhor trabalho para a fraternidade entre as nações, para a abolição ou redução de exércitos permanentes e para conservação e estímulos de congressos de paz.
O prêmio para físicos e químicos deverá ser entregado pela Swedish Academy of Sciences; o de fisiologia ou trabalhos médicos pelo Caroline Institute em Estocolmo; o de literatura pela Academy em Estocolmo; e para os campeões da paz por um comitê de cinco pessoas ainda para ser eleito pela Norwegian Storting. É o meu desejo expresso que quando entregue os prêmios nenhuma consideração deverá ser feita para a nacionalidade dos candidatos, para que o mais qualificado deverá receber o prêmio, seja ele escandinavo ou não."
Paris, novembro 27, 1895
Alfred Bernard Nobel
1833-1896

Todos os anos, são entregues os prêmios Nobel de Química, Física, Medicina, Economia, Literatura e o mais famoso, o da Paz. Estamos na fase de anúncio dos vencedores de 2009. A efetiva premiação ocorrerá no dia 10 de dezembro, aniversário de morte de Nobel. Já conhecemos os três ganhadores do prêmio de Medicina e os três de Física. Aguardo, com especial expectativa, os vencedores nos campos da Literatura e da Paz.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Içami Tiba — educação de crianças e adolescentes

O texto abaixo foi originalmente publicado no Blog do Pedro Nelito. Içami Tiba é uma referência em educação de crianças e jovens. Confesso que estranhei algumas das afirmações (por acaso só as mães são permissivas?), notadamente a recomendação de "abandonar" o filho, mas vale a pena aprender com o mestre e, naquilo em que dele divergimos, debater a respeito.

Recebi de uma amiga algumas frases retiradas da Palestra ministrada pelo médico psiquiatra Dr. Içami Tiba, em Curitiba, 23/07/08. [O palestrante é membro eleito do Board of Directors of the International Association of Group Psychotherapy. Conselheiro do Instituto Nacional de Capacitação e Educação para o Trabalho "Via de Acesso". Professor de cursos e workshops no Brasil e no Exterior.]
Içami Tiba sempre me ajudou na tarefa de pai, professor, cidadão... Leiam as frases retiradas da palestra:

1. A educação não pode ser delegada à escola. Aluno é transitório. Filho é para sempre.

2. O quarto não é lugar para fazer criança cumprir castigo. Não se pode castigar com internet, som, TV, etc.

3. Educar significa punir as condutas derivadas de um comportamento errôneo. Queimou índio pataxó, a pena (condenação judicial) deve ser passar o dia todo em hospital de queimados.

4. É preciso confrontar o que o filho conta com a verdade real. Se falar que professor o xingou, tem que ir até a escola e ouvir o outro lado, além das testemunhas.

5. Informação é diferente de conhecimento... O ato de conhecer vem após o ato de ser informado de alguma coisa. Não são todos que conhecem. Conhecer camisinha e não usar significa que não se tem o conhecimento da prevenção que a camisinha proporciona.

6. A autoridade deve ser compartilhada entre os pais. Ambos devem mandar. Não podem sucumbir aos desejos da criança. Criança não quer comer? A mãe não pode alimentá-la. A criança deve aguardar até a próxima refeição que a família fará. A criança não pode alterar as regras da casa. A mãe NÃO PODE interferir nas regras ditadas pelo pai (e nas punições também) e vice-versa. Se o pai determinar que não haverá um passeio, a mãe não pode interferir. Tem que respeitar sob pena de criar um delinqüente.

7. Em casa que tem comida, criança não morre de fome. Se ela quiser comer, saberá a hora... E é o adulto quem tem que dizer QUAL É A HORA de se comer e o que comer.

8. A criança deve ser capaz de explicar aos pais a matéria que estudou e na qual será testada. Não pode simplesmente repetir, decorado. Tem que entender.

9. É preciso transmitir aos filhos a idéia de que temos de produzir o máximo que podemos. Isto porque na vida não podemos aceitar a média exigida pelo colégio: não podemos dar 70% de nós, ou seja, não podemos tirar 7,0.

10. As drogas e a gravidez indesejada estão em alta porque os adolescentes estão em busca de prazer. E o prazer é inconseqüente.

11. A gravidez é um sucesso biológico e um fracasso sob o ponto de vista sexual.

12. Maconha não produz efeito só quando é utilizada. Quem está são, mas é dependente, agride a mãe para poder sair de casa, para fazer uso da droga. A mãe deve, então, virar as costas e não aceitar as agressões. Não pode ficar discutindo e tentando dissuadi-lo da idéia. Tem que dizer que não conversará com ele e pronto. Deve "abandoná-lo".

13. A mãe é incompetente para "abandonar" o filho. Se soubesse fazê-lo, o filho a respeitaria. Como sabe que a mãe está sempre ali, não a respeita.

14. Se o pai ficar nervoso porque o filho aprontou alguma coisa, não deve alterar a voz. Deve dizer que está nervoso e, por isso, não quer discussão até ficar calmo. A calmaria, deve o pai dizer, virá em 2, 3, 4 dias. Enquanto isso, o videogame, as saídas, a balada, ficarão suspensas, até ele se acalmar e aplicar o devido castigo.

15. Se o filho não aprendeu ganhando, tem que aprender perdendo.

16. Não pode prometer presente pelo sucesso que é sua obrigação. Tirar nota boa é obrigação. Não xingar avós é obrigação. Ser polido é obrigação. Passar no vestibular é obrigação. Se ganhou o carro após o vestibular, ele o perderá se for mal na faculdade.

17. Quem educa filho é pai e mãe. Avós não podem interferir na educação do neto, de maneira alguma. Jamais. Não é cabível palpite. Nunca.

18. Se a mãe engolir sapos do filho, ele pensará que a sociedade terá que engolir também.

19. Videogames são um perigo: os pais têm que explicar como é a realidade, mostrar que na vida real não existem "vidas", e sim uma única vida. Não dá para morrer e reviver. Não dá para apostar tudo, apertar o botão e zerar a dívida.

20. Professor tem que ser líder. Inspirar liderança. Não pode apenas bater cartão.

21. Pais e mães não podem se valer do filho por uma inabilidade que eles tenham. "Filho, digite isso aqui pra mim porque não sei lidar com o computador". Pais têm que saber usar o Skype, pois no mundo em que a ligação é gratuita pelo Skype, é inconcebível pagarem para falar com o filho que mora longe.

22. O erro mais freqüente na educação do filho é colocá-lo no topo da casa. O filho não pode ser a razão de viver de um casal. O filho é um dos elementos. O casal tem que deixá-lo, no máximo, no mesmo nível que eles. A sociedade pagará o preço quando alguém é educado achando-se o centro do universo.

23. Filhos drogados são aqueles que sempre estiveram no topo da família.

24. Cair na conversa do filho é criar um marginal. Filho não pode dar palpite em coisa de adulto. Se ele quiser opinar sobre qual deve ser a geladeira, terá que mostrar qual é o consumo (kWh) da que ele indicar. Se quiser dizer como deve ser a nova casa, tem que dizer quanto isso (seus supostos luxos) incrementará o gasto final.

25. Dinheiro "a rodo" para o filho é prejudicial. Mesmo que os pais o tenham, precisam controlar e ensinar a gastar.