segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O menino do pijama listrado

Tomei conhecimento da existência de um filme chamado O menino do pijama listrado através de um folheto da Foxvideo. Filme fora de circuito, para saber dele, só por meios especiais. Fiquei interessado, mas ainda não vi. Somente na semana passada fiquei sabendo do livro que inspirou tal filme e, no dia seguinte, ele me caiu nas mãos. Comecei a lê-lo quase que imediatamente e, não fossem os meus compromissos profissionais, teria acabado em poucas horas. Por ter que trabalhar, levei um dia para concluir a leitura.
Obra leve e direta, prende de imediato. Para você ter uma ideia, fiquei com o volume no carro. Bastava parar num sinal fechado ou mesmo num trânsito lento e já lia, mesmo que não desse para terminar um parágrafo. Um olho no texto, outro no trânsito. Ajudava a manter a mente focada na história do pequeno Bruno, que aos 9 anos se muda com a família para uma casa horrorosa num lugar desolado, que ele chama de Haja-Vista (uma corruptela de Auschwitz, campo de concentração que passa a ser administrado pelo pai de Bruno).
O estilo magnífico de John Boyne cativa literalmente no primeiro parágrafo do livro. E apesar de que a história tem um quê de previsível, próprio de tramas do gênero, não há como se desinteressar um instante sequer.
O pequeno Shmuel, que dá título ao livro, só aparece na metade. Bruno, contudo, segura a trama sozinho. A sua ingenuidade tipicamente infantil é encantadora e provoca emoções reais. Senti raiva quando ele comeu o bolo que podia ter dado a Shmuel como todo judeu num campo de concentração, faminto e enquálido. Precisei de alguns segundos para me recordar que ele não fazia a menor ideia do que ocorria no mundo e não compreendia porque o amigo era tão magro e cinzento.
Não há muito o que dizer sobre a história. Ela trata sobre a amizade dos meninos, que nasceram na mesma data e conseguem encontrar pontos em comum, mesmo sendo um judeu com o destino já traçado e um autêntico alemão, filho do comandante do campo de concentração. Acima de tudo, é uma história sobre humanidade, eficiente mesmo em seu estilo delicado, que retrata a vida em tempos de guerra sem nenhuma intenção de chocar. Sabemos, p. ex., que o judeu Pavel é severamente castigado por derramar vinho no arrogante tenente Kotler, mas não somos informados em que consistiu esse castigo. Na verdade, o horror do Holocausto paira no ar. Nossa sensibilidade é atingida pelo livro porque sabemos o que aconteceu, mas não é Boyne quem nos fala disso. A familiaridade com a tragédia vem de outras fontes.
O menino do pijama listrado é desses singelos romances que se tornam imprescindíveis, por falar daqueles sentimentos essenciais, ínsitos aos seres humanos, que andam tão esquecidos. Falta, agora, ver o filme (de Mark Herman, 2008).
Recomendado.

2 comentários:

Anônimo disse...

Confessor que este livro me despertou emoções indescrítiveis, ainda mais pra mim que estive na Polônia, em Aushwitz e demais campos.
Mas o que mais me deixou em certo ponto tranquila, é que às vezes, muito raramente, eles pareciam estar tendo uma vida normal nos campos. Foi bom poder tirar, embora por alguns minutos, a idéia de extermínio contínuo. Não que isso não tenha ocorrido.

Yúdice Andrade disse...

Quando li o livro e quando redigi o texto pensei em ti, Laila. Nem me recordava de que estiveste nos campos de concentração. Apenas penso em ti sempre que escrevo algo que remete aos judeus e o seu sofrimento histórico.
Aliás, sinto falta de aprender contigo um pouco mais sobre a cultura do teu povo. Abraços.