sábado, 5 de setembro de 2009

Gigante de concreto

Esta monstruosidade em todas as dimensões atende pelo nome de Porto Dias Prime, o futuro hospital mais sofisticado da cidade, com direito a apartamentos-família, de 80 metros quadrados - maior do que boa parte dos empreendimentos imobiliários atuais (aqueles da "liberdade em 70 m2"). Inauguração prevista para o próximo ano.





A construção impressiona mas, a meu ver, negativamente, no que tange ao impacto urbanístico.
Perguntei a um morador da vila de casas de onde a fotografia foi tirada e ele me disse que é perceptível o aumento do calor, depois que o espigão foi erguido. Isso, com certeza, se deve ao fato de que o vento foi bloqueado e não circula mais como antes.
Ninguém nega que um hospital de ponta é imprescindível para uma cidade, mas o conforto ambiental também é uma necessidade humana, não?
O morador apresentou, como queixa principal, o excesso de poeira. Observe que a construção não possui as cortinas externas (não sei se há um nome mais correto), que eu julgava ser obrigatórias. Do outro lado, elas estão instaladas, mas deste não, sugerindo que a construtora não está dando a mínima para os danos causados à vizinhança. Isso não me surpreenderia nada.
Quando a obra acabar, vai-se a poeira. Em contrapartida, o caos no trânsito vai piorar exponencialmente. Hoje, estacionar naquele perímetro da Mauriti é quase impossível, a qualquer hora. O motivo é justamente o hospital, o que já existe. Quando a nova e imensa unidade estiver funcionando, a pressão sobre o tráfego será estarrecedora. Some-se a isso que o prédio não possui área aparente de estacionamento (por enquanto, não dá para perceber). Terá uma certa quantidade de vagas subterrâneas, ou quiçá alguns níveis de garagem. Exigência das normas edilícias. Entretanto, pode anotar: o número de vagas será infinitamente menor do que a demanda. O resultado? Quem quiser, dê seu jeito pela rua, para alegria dos flanelinhas que não param de surgir do nada e horror dos moradores, como me relatou o que entrevistei, ele mesmo vítima ocasional de garagem obstruída.
Impacto de vizinhança: eis algo com que os empreendedores simplesmente não se importam. Esse é o padrão de qualidade que o Porto Dias Prime pretende oferecer a Belém?

6 comentários:

Nilson Soares disse...

Problema dessas "soluções" de espaço subterraneas para estacionamentos, p.e., é que fatalmente bloqueiam o escoamento do lençol freático e terminam deixando consequências desagradáveis para vizinhança, como os alagamentos em épocas de chuvas.

(sou contra construção de estacionamentos, para mim o poder público deve investir em transporte público, ele é mais economômico, menos poluente e de longe gera menos violência que o transporte privado, sem falar da corrupção)

Rafael Amarante disse...

Professor, para o desespero da vizinhança, exatamente no mesmo perímetro, mas pela Trav. Barão do Triunfo (em frente ao estacionamento do Hosp. Belém) serão erguidas duas torres, uma comercial e outra residencial, que atenderão pelo sugestivo nome de "Infinity Corporate Center" (Quality Incorporadora/ Marko Engenharia). "Me" parece que estão tentando transformar aquela parte da cidade numa espécie de centro médico-ambulatorial gigante. As pessoas que moram nas proximidades deveriam fazer jus a remuneração por insalubridade ou algo que o valha!

GNS disse...

Pior do que os empreendedores não se importarem com estacionamento, são as autoridades competentes liberarem uma obra desse porte sem vagas de garagem.
Em Belém é assim: faculdade encontra prédio no centro de Belém e se instala, fácil! Que se dane o trânsito ao redor! Supermercados e shoppings abrem sem terem área de carga e descarga. Mas é isso aí? Cada um que olhe pro seu umbigo! Ghhhrrrr
Imagina como ficará o trânsito na Doca com a inauguração do shopping?
Quem nunca foi, experimente ir ao Líder por volta de 18h30/19h... sem mais palavras, é estressante! Com o shopping então...

Bia disse...

Boa noite, caro Yúdice;

infelizmente não lembro a data, mas não esqueci a notícia.

Creio que cerca de dez anos, um cidadão japonês ganhou na Justiça uma causa contra uma imobiliária. Com o argumento de que a ao lado da sua casa construção lhe tiraria o direito ao sol e à ventilação, foi vitotioso.

É. É só uma memória. Impossível de tornar-se realidade numa cidade onde Átila governa e a grama da cidadania não cresce.

Abração.

Cid Pacheco disse...

O outro também tem estacionamento, mas é somente para os médicos. A gente paga os planos de saúde caríssimos (pois nosso governo não cumpre com seu papel de nos dar uma saúde digna), temos que ficar com os carros pelas ruas mesmo. Os flanelas agradecem.

Yúdice Andrade disse...

Nilson, agradeço a tua manifestação, porque insere uma informação da qual não tinha conhecimento - com certeza, só os especialistas possuem ou aqueles que já amargaram esse tipo de prejuízo.
Quanto à melhoria do transporte público, tornando dispensáveis os estacionamentos (em parte, claro, pois sempre haverá carros na rua), a ideia é revolucionária. Mas não sobrevive, na prática, à corrupção e inoperância do poder público.

Estou ciente do "Infinity Corporate Center", Rafael. Já postei aqui no blog uma crítica a esse nome redículo.
Com efeito, o mercado imobiliário funciona com modismos. Se alguém abre um empreendimento em certa região e dá certo, logo aquela parte da cidade vira o point dos empreendimentos do gênero. Aguardem mais hospitais e clínicas no entorno. E torçam para que não haja nenhum vazamento de material biológico...

GNS, quantos engarrafamentos já peguei por ali! Mas em frente ao Líder, o supermercado é só uma parte do problema. O ponto de táxi também faz um inferno. Sabemos como taxistas têm talento para avacalhar com o trânsito. E um pouco à frente temos a Sol Informática, que em certos horários vira um transtorno imenso, com seu estacionamento incapaz de suportar a demanda de uma loja grande que se soma a um concorrido café.

Bia, mesmo no Brasil há fundamentos legais para processos do gênero. Quem fizesse algo parecido, por aqui, também venceria a demanda (não sei se receberia o dinheiro, porque aí já é outra história...).
O que nos falta, mesmo, é o senso de cidadania. Se ele existisse, esse tipo de abuso já teria parado ou pelo menos se reduzido drasticamente. Mas, aqui na terrinha, quem luta por seus direitos é imediatamente tachado de chato, ridículo, iludido e de coisas piores. Os abusadores são, frequentemente, também violentos. Como os bons são tímidos, acabam desistindo.

Na verdade, Pacheco, no Porto Dias original há vagas para o público (ou pelo menos havia). Estacionei algumas vezes lá dentro (na época em que meu irmão tinha piripaques frequentes, que concluíram com uma cirurgia bariátrica realizada lá, após cinco dias na UTI), quando dava sorte ou os anjos diziam amém. Mas era muito difícil.
Na prática, vale dizer, o estacionamento é só para médicos, mesmo.