Se tive certeza de uma coisa nesta vida, é de que queria assumir o magistério como profissão, como meio de vida, como missão. Recordo-me de, em uma viagem, escutar duas colegas de turma conversando sobre suas respectivas experiências docentes e sentir uma invejinha queimando por dentro. Menos de dois meses depois, pelas mãos de uma delas, o sonho começou a se realizar.
Foi no dia 9 de setembro de 1999 — que eu, de brincadeira, digo ser uma data cabalística —, uma quinta-feira, que pisei numa sala de aula pela primeira vez, do outro lado. Foi tudo muito rápido: um dia para ser apresentado à chefia imediata e tratar dos aspectos legais, receber o programa da disciplina e informações sobre as três turmas, para em seguida entrar na sala, sem aquecimento e muito menos treino, e encarar algumas dezenas de concluintes do curso de Tecnologia em Processamento de Dados, para encerrar o ano letivo em substituição à professora que se retirava para cursar doutorado.
Imagine a boa vontade dos informáticos, principalmente em fim de curso, com uma disciplina chamada Noções de Direito, Legislação e Ética... Mas a experiência acabou sendo uma grata surpresa. Já naquele atropelo do début em carreira tão espinhosa, fiz boas amizades, construí um bom relacionamento com as turmas, a ponto de estar presente em suas confraternizações natalinas. Fui até convidado para a festa de formatura, com direito a plaquinha de homenagem. Adoráveis, eles!
Minha estreia ocorreu no CESUPA, que naquele ano de 1999 abriu seu curso de Direito. Em fevereiro de 2000, fui convidado para lecionar Direito Penal, tornando-me o primeiro professor dessa disciplina naquela instituição. É onde estou até hoje. Nesse meio tempo, fui professor substituto, da mesma disciplina, na UFPA, também uma experiência maravilhosa, de onde trago lembranças imorredouras e amizades valorosas. Em ambas as instituições, passei pelo Núcleo de Prática Jurídica, orientando a atuação forense dos acadêmicos.
Uma década depois, a sensação de exercer a docência é a de estar em casa. A de estar em meu lugar, no cantinho que a vida felizmente reservou para mim. Profissionalmente, não há, em absoluto, nada que eu goste de fazer tanto quanto ser professor. Nem de longe. Nada se compara. Você se cansa, se aborrece às vezes, mas é como um parto: passada a dor, você esquece os problemas e se entrega à alegria de ver nascer, no caso, um novo profissional. Isso é emocionante. Poucas coisas são tão bonitas de se ver quanto a emoção das famílias, quando um acadêmico se forma. É o maior ritual de passagem de nossa sociedade. E o mais útil.
Futuro? Que venham mais aulas, mais turmas, mais jovens! A experiência é forjada dia a dia. E agora, com a paternidade, encaro os fatos sob uma perspectiva diferente. Estudo, ensino e aprendo um pouco a cada dia.
Mais tarde tenho aula.
2 comentários:
É realmente alentador saber que existem pessoas sente prazer em ensinar. Que fazem da docência algo muito mais profundo de que uma relação empregado, empregador e alunos.
Parabéns primo, que continues a 'exalar' seu conhecimento aos que estão a sua volta. O dom da fala, da retórica muitos o têm, no entanto o dom de ensinar são poucos.
Grande abraços
Saiba, caríssimo Jean, que não é nada difícil encontrar professores falando dessa paixão por lecionar. Quando professores se reúnem, manifestações assim são recorrentes, mesmo quando permeadas por reclamações de toda ordem. Não é contradição nem hipocrisia: se você passa a vida exercendo uma profissão difícil, usualmente mal remunerada e não reconhecida pela sociedade como um todo, só sendo um louco ou um apaixonado. E os poetas dizem que as duas coisas são uma só.
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