Uma noite dessas, enquanto debatíamos em sala de aula sobre a redução da maioridade penal, tocou-se no inevitável tema do comportamento da mídia, no que tange à forma de divulgação de notícias sobre violência e criminalidade. Um de meus alunos, formado em jornalismo, manifestou-se enfaticamente no sentido de que é dever da imprensa, sim, aterrorizar as pessoas — o "sim", intercalado, e o verbo "aterrorizar" foram textualmente empregados por ele —, pois se com isso as coisas estão como estão, sem isso estaríamos todos mortos.
Analisando sua afirmação, lembrei o saudoso Juvêncio de Arruda, que comentando uma postagem minha, certa vez, informou-me sobre certas escolas de jornalismo, uma das quais, largamente adotada no Brasil, trabalha exatamente com a premissa de mostrar sempre o pior, o horrendo, o traumático, como forma de buscar algo de bom ou socialmente útil. Mais ou menos isso. Trata-se apenas de uma linha de pensamento. E uma péssima linha, a meu ver. Mesmo sem esta última frase, o aluno não pareceu tão satisfeito ou convencido.
Recordei-me do fato devido à manchete principal do Diário do Pará de hoje: "Bandidos não aliviam nem juiz federal".
Anteontem, o deputado federal Nilson Pinto; ontem, o juiz federal Rubens Rollo. A intenção de explorar crimes contra altas autoridades é, com certeza, provocar no cidadão comum a sensação de pânico, pois se nem os poderosos escapam, imagine o brasileiro desprotegido. Contudo, mais uma vez, isso é má fé, na medida em que tenta inspirar terror com base em distorção de fatos.
E por que distorção? Porque Nilson Pinto não possui a palavra "deputado" tatuada na testa, nem Rubens Rollo possui um luminoso em cima do carro, com uma enorme seta roxa piscando "juiz federal", para avisar a bandidagem. Um e outro foram escolhidos ao acaso, como nós outros, meros mortais, na roleta russa da criminalidade desta cidade cada vez mais agressiva. Aliás, quando se lê a matéria do jornal, a má fé se torna mais evidente, na medida em que, na opinião do próprio Rollo, os ladrões não o viram no banco traseiro quando o levaram. Tecnicamente, nem houve a intenção de cometer um sequestro-relâmpago.
Temo que não haja a menor esperança no horizonte de que a imprensa brasileira cresça e se torne mais responsável. Enquanto isso, pânico e horror. Para quê?
3 comentários:
Por que políticas públicas? Pergunta feita no início de uma aula lá por 1977. Tentarei resumir aqui uma definição de extrema simplicidade sobre este tema , mas de grande valor educativo para mim. Educativo no sentido de transformar meu modo de pensar e agir. Após ouvir vários opiniões o professor escreveu no quadro verde (naquela época ainda não dispunhamos das tecnologias educacionais de hoje): porque saúde, segurança, habitação, transporte, educação.. ou é para todos ou não é para ninguém, suas ações podem ser pecebidas e beneficiar a maioria, enquanto sua ausência, ainda que possa ser "usufruida" pela minoria, sempre deixará uma lacuna facilmente alargada e, com o tempo, insustentável para todos. O abandono deixa todos nós como pobres mortais sujeitos a qualquer tipo de sorte, pois escolhidos ao acaso na mira da roleta russa .
Maria Souza
Suas contribuições têm sido excelentes, Maria. Agradeço entusiasmadamente por elas, ao mesmo tempo em que me desculpo por demorar a respondê-las.
Um abraço.
Obrigada Yudice. Aprendo sempre com alguns blogueiros.És um deles. Voltarei sempre.
Maria Souza
Postar um comentário