Levo muito a sério a política municipal. Afinal, é no Município que vivemos. São as decisões locais que afetam de modo direto o nosso cotidiano, nas coisas mais simples e necessárias, como abastecimento dos mercados, transporte, iluminação, saneamento, etc. Por quase 4 anos, entre 1997 e 2000, fui assessor na Câmara Municipal de Belém. E por 2, entre 2001 e 2003, fui procurador jurídico do Município de Belém. Ou seja, passei cerca de 6 anos de minha vida lidando diariamente com aspectos da gestão municipal, seja no Legislativo, seja no Executivo. Fiquei muito mais interessado na questão. E conheci de perto alguns rostos e nomes.
Passados 17 anos, eu simplesmente não tenho ideia de quem são muitos dos atuais vereadores de Belém. E alguns eu só sei que existem porque foram citados aqui e ali, por alguma razão, inclusive as estúpidas, como fazer um projeto de lei instituindo o "dia do orgulho heterossexual". E olha que eu tento ser minimamente informado. Por outro lado, alguns vereadores que já estavam aboletados na Câmara Municipal nos meus tempos de assessor ainda estão por lá! Mais de duas décadas transformando a vereança em carreira, porém sem compromisso de produtividade, porque simplesmente não se escuta, não se lê, não se vê nada que esses caras tenham feito, a não ser sustentar prefeitos vergonhosos.
Veja quem são os atuais vereadores de Belém (por seus nomes parlamentares e, mesmo assim, é possível que você jamais tenho ouvido falar de vários deles): Adriano Coelho, Altair Brandão, Amaury da APPD, Bieco, Blenda Quaresma, Celsinho Sabino, Dinely, Dr. Chiquinho, Dr. Elenilson, Emerson Sampaio, Enfermeira Nazaré Lima, Fabrício Gama, Fernando Carneiro, Gleisson, Henrique Soares, Igor Andrade, Joaquim Campos, John Wayne, Lulu das Comunidades, Marciel Manão, Mauro Freitas, Moa Moraes, Nehemias Valentim, Neném Albuquerque, Nilda Paula, Paulo Queiroz, Pablo Farah, Professor Elias, Professor Wellington Magalhães, Rildo Pessoa, Sargento Silvano, Simone Kahwage, Toré Lima, Wilson Neto e Zeca Pirão.
A primeira vergonha é que só há quatro mulheres na câmara, de 35 vagas. Em azul, os que se reelegeram: são 16 no total. Eu sempre espero uma renovação maior, mas não adianta. Estar no cargo proporciona inúmeras conveniências, em alguns casos nada republicanas. No entanto, preciso destacar que há, sim, nomes cuja reeleição me deixa muito satisfeito. No geral, é bom que tenhamos uma renovação superior a 50%, com 19 calouros: Allan Pombo, Augusto Santos, Bia Caminha, Dona Neves, Emerson Sampaio, Fábio Souza, Goleiro Vinícius, João Coelho, Josias Higino, Juá Belém, Lívia Duarte, Matheus Cavalcante, Miguel Rodrigues, Renan Normando, Roni Gas, Pastora Salete, Túlio Neves, Vivi e Zeca do Barreiro.
Agora são 6 vereadoras. Uma vergonha, uma lástima. A ausência de representatividade segue a toda, ainda mais se pensarmos que tem muito classe média se metendo em política pensando em projetos pessoais, porque não possui uma verdadeira base eleitoral. Alguns só têm um curral, mesmo. E os nossos vícios permanecem: eleger jogador de futebol aposentado de time ruim, os onipresentes evangélicos, etc. Mas há o que comemorar, sem dúvida. Há candidaturas que se forjaram nas ruas e conquistaram mandato sem dinheiro de papai, de empresário, de político que não podia apoiar mas apoiou, etc. Encaro como um avanço minúsculo, mas um avanço. Só de pensar que os vereadores vintenários vão finalmente pegar o beco e, junto com eles, o sargento (bolsominion arrependido) e o truculento apresentador de programa mundo-cão. São pequenas alegrias da vida adulta, parafraseando Emicida.
Ao conceder entrevista após o anúncio de sua eleição a prefeito, Edmilson Rodrigues disse ter sido procurado por 20 vereadores eleitos, dando a entender que essa será a sua base de sustentação. Do outro lado, seriam 15 edis na oposição. É numericamente maioria, mas vale a pena lembrar que é da natureza de muitos desses partidos negociar apoio. Logo, mesmo que seja esse o cenário, Edmilson não deve governar em céu de brigadeiro. Mas já seria bem melhor do que em seus dois mandatos anteriores, sendo sabotado por todos os lados. Pessoalmente, acredito que essa tensão é positiva, porque obriga o Executivo a vigiar sempre, a escutar, a ponderar, a se justificar, a ser mais humilde. Coisa muito diferente do que fez um prefeito medíocre como Zenaldo Coutinho, sustentado por 30 vereadores. Assim se consegue tudo, mesmo que isso afunde a cidade, como afundou.
Assim como o Congresso Nacional desceu ao nível mais degradante de sua já não honorável história, a Câmara Municipal de Belém também dá vergonha. Mas tudo muda quando se tem um governo de esquerda. Os acomodados se levantam, a imprensa se torna superfiscalizadora, as instituições públicas não dormem, à caça da mínima improbidade. Enfim, as forças se alinham, tudo se conflagra para que o projeto dê errado.
Seja como for, prefiro navegar nesses mares revoltosos do que nas águas plácidas da direita. Quando o povo se cala, a imprensa finge não ver, as instituições cruzam os braços e a politicalha intenta golpes, tudo parece no lugar. Mas nós, povo, estamos perdendo. Com a esquerda no poder, ninguém dorme. E essa é a única oportunidade de algo bom acontecer para quem vive em uma cidade combalida como Belém.
Em tempo: Após esta publicação, tomei conhecimento de que a vereadora eleita Vivi Reis assumirá o mandato de Edmilson Rodrigues na Cãmara dos Deputados, pois é sua suplente. Em seu lugar, a Enfermeira Nazaré Lima assumirá um segundo mandato como vereadora. Portanto, será mantido o número de mulheres e a identidade partidária, pois ambas são do PSOL. Serão, portanto, 17 vereadores reconduzidos e 18 calouros, mas isso não mudará a relação com o futuro prefeito.