sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Viradão ligadão

Estava meu irmão, anteontem, na fila do caixa de uma farmácia quando uma jovem, a sua frente, pagou por aquelas bisnaguinhas contendo um estimulante vendido com o nome popularesco "Ligadão". Ela comentou com quem a acompanhava que precisava daquilo para enfrentar a virada do shopping 37 horas ininterruptas aberto.
Uma conhecida minha, ontem, comentou que os proprietários da loja em que trabalha providenciaram o lanche para o viradão: biscoitos e Red Bull. Isso mesmo, Red Bull, o energético. Aquele que te dá asas, mas que pode dar, também, problemas. Na própria embalagem existe a advertência de que o produto não pode ser consumido por crianças e mulheres gestantes. Consultando pela Internet, não encontrei sites confiáveis sobre os riscos do consumo; apenas uns fatalismos que podem ser tributados a falta do que fazer ou a interesses comerciais. Contudo, trata-se de um produto com restrições de consumo. Na loja da minha conhecida, ninguém perguntou às vendedoras se alguma poderia estar grávida. Nem levaram outro tipo de bebida.
Pessoalmente, sou contra essa virada de Natal. Meu motivo principal é o sacrifício que ele representa para os trabalhadores, já escorchados normalmente, porque trabalhar em shopping é abdicar do direito a uma vida normal. E esse negócio de fazer compras de madrugada não passa de um modismo, pelo menos aqui na taba. Sei que muita gente trabalha e não dispõe de muito tempo para suas compras natalinas. Mas um horário estendido poderia resolver. O problema é que essa entidade ultrapoderosa chamada Mercado gosta de mimar todos que podem lhe dar mais alguns tostões. E se há uns lesos que, de livre e espontânea vontade, saem de suas casas às três da manhã para comprar, só porque é o único dia do ano em que isso se torna possível, o Mercado não se peja de acabar com o repouso dos trabalhadores por conta de tal frescura.
Os dois episódios mostram que a saúde dos trabalhadores de shoppings está em risco, seja por iniciativas individuais, seja por ações concretas dos empresários. Mesmo no primeiro caso, a atitude da moça de comprar o "Ligadão" foi determinada por uma necessidade. Ela estava se defendendo. Tudo bem que o problema não possua a mesma dimensão dos rebites dos caminhoneiros, mas a lógica é idêntica. E deveria ser objeto de preocupação dos sindicatos profissionais, das Delegacias do Trabalho e do Ministério Público do Tabalho.

2 comentários:

Ana Miranda disse...

Aqui tbm está ocorrendo esse abuso.
Minha filha faz estágio na auditoria do maior shopping de Juiz de Fora e disse que os funcionários estão trabalhando 13 horas diárias.
Até ela, que é só estagiária tem feito 8 horas diárias ao invés das 6 recomendadas.
Detalhe: sem receber hora extra.

Yúdice Andrade disse...

Se o Ministério do Trabalho quisesse pegar, pegaria. Os abusos estão na cara. Todo mundo vê e quem não vê sabe onde eles estão. São essas omissões que dificultam o efetivo funcionamento de um sistema trabalhista que proteja o cidadão vulnerável. Nos Estados Unidos, p. ex., há muito menos direitos, mas os sindicatos são fortes e os empregadores respeitam. Porque não têm escolha, é certo, mas respeitam muito mais do que aqui.