Valente (Brave, dir. Mark Andrews, Brenda Chapman e Steve Purcell, 2012) mostra que a parceria entre os dois maiores estúdios produtores de filmes de animação recuperou a plenitude de suas forças, deixando para trás trabalhos menores e criando um triunfo para o gênero.
Fruto de um trabalho de mais de 5 anos, durante as quais a aparência da protagonista foi cuidadosamente testada e retocada até chegar a sua forma final, o filme apresenta um roteiro conciso, muito bem amarrado e repleto dos ingredientes próprios do estilo: aventura, humor, personagens cativantes e uma lição de moral. Tudo em doses certas, sem jamais cair na falta de conteúdo, no histrionismo imbecilizante ou no moralismo.
Eu, que prezo acima de tudo um bom roteiro, fiquei encantado com a trama sem vilões implacáveis (o que pode ser considerado o vilão da estória é, acima de tudo, uma alma desesperada em busca de ajuda, como fica claro em sua última aparição, quando agradece com um simples aceno de cabeça), que reduz tudo à velha e gasta batalha do bem contra o mal — temática explorada à exaustão pela Disney, mas felizmente não pela Pixar. Aplausos ao trabalho subscrito pelos diretores e por Irene Mecchi.
No que ambos os estúdios são irrepreensíveis — a técnica —, o resultado é impecável. Valente apresente imagens belíssimas, preparadas com o habitual cuidado aos mínimos detalhes, como se pode perceber pelo movimento das roupas da rainha ou das ancas do urso, quando ele caminha. Nossa atenção fica particularmente presa à cabeleira intensamente ruiva e emaranhada da protagonista, símbolo mais evidente de sua personalidade — algo que não adianta tentar domar.
Por fim, Valente inventa uma nova princesa. Não uma princesa típica da Disney, que produziu esta atual geração de meninas peruas e afrescalhadas, repletas de cor-de-rosa, lilás e brilhos. Mas uma princesa jovem, cheia de energia e atitude, com um visual infantilizado e não patricinha, além de atitudes capazes de tornar as pequenas fãs úteis, em vez de ficar pintando as unhas e conversando sobre moda. A começar que chapinha não tem vez com ela.
Fomos poupados inclusive dos números musicais. Há música, sim, claro, mas que toca enquanto corre a trama, sem que precisemos suportar as breguíssimas incursões pelo estilão musical que os americanos tanto adoram. Em suma, um primor de filme, que merece ser visto e que será sempre lembrado.
PS — Confirmando que críticos são um pé no saco, leia aqui uma crítica que detona o roteiro que acabei de elogiar. Mas ao contrário dos aspectos técnicos, sobre os quais o crítico tem conhecimento especializado e eu sou um zero à esquerda, por isso não discuto, aqui se pode perceber que os ataques são estritamente subjetivos. Discordo, p. ex., que não sejam exploradas as nuanças emocionais da rainha Elinor após sua transformação. Mas é isso: o crítico gosta ou não gosta e trata sua opinião como se fosse um conceito técnico indiscutível.
E atenção: há uma cena após os créditos, que ninguém vê porque ignora a sua existência e normalmente o povo levanta assim que aparece a primeira linha dos créditos.
Valente no IMDb.
***
Valente nos proporcionou um momento pitoresco, graças a minha filha. No clímax da estória, em momento de grande tensão entre a protagonista e sua mãe, Júlia foi aos prantos para o colo de Polyana. As lágrimas lhe escorriam pelo rosto e, de repente, no silêncio da sala, ela se lamuria:
— Mamãe! Já pensou se fosse com você?!
Risada geral no cinema. Quando as luzes se acenderam, muitos olharam para ver quem era a criança cheia de preocupações com a própria mãe. Foi mais quem achou uma fofura.
2 comentários:
Essa Júlinha é um encanto mesmo!
Bjs
O público no cinema achou, Rafaela!
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