Resulta dai que acabei de saber, com surpresa, que finalmente aconteceu o concurso "Miss Bumbum". Digo surpresa porque todos os dias somos premiados com um sem número de notícias sobre as disputas entre as candidatas, seus ataques recíprocos, suas fotos sensuais e suas peculiares visões de mundo. Como tais notícias sempre estão nas home pages, não há como não ver. Esse tema tem sido tão totalizante que, honestamente, fiquei com a sensação de que desde que o mundo é mundo esse já era um evento importante. Quem quer saber da bunda da Rita Lee? Fala sério! Ela exibir a buzanfa no palco só serviu para perder patrocínio e ter que cancelar a turnê, coitada!
O fato é que o Brasil ainda não tem justiça social, mas já possui a sua nova Miss Bumbum! Graças a Deus, agora tudo vai funcionar.
Veja, aí ao lado, a felicidade das três primeiras colocadas. Deve ser maravilhosa a sensação de conquista depois de tanto trabalho sério, tanto esforço, tanta dedicação! Enfim, depois de se ter dado tanto duro (ou recebido, sei lá).
Mas mesmo na banalidade podemos encontrar sintomas claros do mundo em que vivemos. Veja, p. ex., como as vencedoras são um microcosmo da homogeneização social, que atingiu o seu nível mais grave até aqui através da homogeneidade fenotípica (porra, se eu escrever assim, elas vão pensar que estou ofendendo!). Falando em língua de gente: a obrigação de ser igual a todo mundo ficou tão séria que até os corpos precisam ser iguais.
Assim é que as três (e decerto as outras, também) parecem ter saído da mesma forma, da linha de produção das academias de ginástica e das mesas cirúrgicas, porque todas as peitcholas são puro silicone, como se pode perceber pelas bolinhas esquisitas que nitidamente saltam do corpo, em vez de descerem em curvas contínuas. Até os sorrisos parecem pré-fabricados (na verdade, são: custaram inúmeras visitas a salas de dentística estética). E todas estão com a indefectível pose mãozinha-na-cintura-porque-eu-sou-poderosa. Se você der um passeio rápido pelo Facebook, encontrará um monte de amigas suas exatamente na mesma posição (ou você mesma).
Hoje é assim: basta anunciar uma fotografia e automaticamente as mulheres se empertigam e botam a mão na cintura, virando um pouquinho de lado. E os homens levantam os dedos, fazendo sinal de tudo bem, V (qual foi a vitória, meu?) ou hang loose. Quando não exibem os copos de cerveja. Prometi a mim mesmo que faria uma postagem sobre isso, há tempos.
O que o Pará tem de melhor. O IDH é que não seria... |
Perguntei a minha esposa e ela disse que não precisa ser capa: ficaria exultante se publicasse um artigo na revista da IEEE, maior publicação em tecnologia do mundo. E podia ser na versão nacional, mesmo. Com a racionalidade tão espontânea que a caracteriza e que eu amo, ela ainda me perguntou: "Eu aparecer na capa de uma revista implicaria em que fiz alguma coisa. Você está me perguntando o que eu gostaria de ter feito?"
Ah, essa Polyana! Ainda bem que casei com ela.
Enfim, resta adaptarmo-nos a uma vida sem notícias sobre o concurso "Miss Bumbum". Não sei se seremos capazes, mas creio que poderemos lutar por isso, já que a todo momento a imprensa nos apresenta novidades sobre pessoas que têm na bunda a única parte ativa do corpo.
4 comentários:
Tudo que falastes e verdade, mais que ela e gostosa ninguém pode negar. Gostas?
Yúdice, você é, simplesmente, perfeito. Bom, mas isso eu já sei há tempos, desde que te descobrimos, eu e Mary. Thank God!
Não, das 15h38. Ninguém pode negar. A moça provoca palpitações...
E eu sempre agradeço por essa "descoberta", Silvia!
Caro Yúdice, a sociedade de consumo necessita desse tipo de informação "fast food". Infelizmente, em nosso país, alastra-se pelas classes mais "abastadas" (dinheiro) o consumo do lixo. Dinheiro não é sinônimo de cultura, não é mesmo? Grande abraço. HLN.
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