sexta-feira, 22 de março de 2013

Decisões, princípios e coerência

Nada mais óbvio que a decisão do Conselho Federal de Medicina, de se pronunciar oficialmente a favor do abortamento voluntário, até a 12ª semana gestacional, daria um quiproquó dos diabos. Esperemos pranto e ranger de dentes de todos os lados e, claro, uma esmagadora maioria de comentários toscos sobre uma questão importante, que merecia, ao menos, ser debatida com conhecimento de causa e bom senso.

Em meio à balbúrdia e insensatez geral, dei-me ao trabalho de ler os comentários apostos a uma reportagem local, e me deparei com esta pérola, que gostaria de compartilhar, a fim de colocar o blog de novo ativo, após dias de inércia devido aos meus compromissos do período:

1 | Ó MEU JESUS - Sexta-Feira, 22/03/2013, 08:03:16Querem preservar a mãe, quem mata tem mais é que morrer! E esses médicos do diabo que são a favor de tirar vidas tem mais é que morrer também! Se essas mães não querem filhos, porque fazem? O que não faltam são modos de prevenção. Cara, eu não acredito que leio isso, tá tudo virado, que merda é essa? Bando de assassinos! Cadê o princípio divino?

Sabe o que achei mais bacana no protesto do cidadão aí em cima? Além de ele defender a vida propondo a morte de mulheres e médicos, foi ele perguntar "cadê o princípio divino?" Seria cômico, de rolar de rir, se não fosse trágico.

Sendo eu um leigo em matéria de religiões  a esta altura do campeonato, não estou mais dando conta nem da minha , posso ao menos especular que o tal princípio divino deve corresponder ao que Deus supostamente preferiria no caso. E se Ele não deseja a morte dos conceptos, decerto também não quer nem tolera a dos adultos, a dos criminosos, a dos pecadores, a dos ímpios et caterva. O princípio divino, tal qual o compreendo, está embasado no perdão, na tolerância, no desejo de ajudar o pecador a se tornar uma criatura melhor, não à vingança e à aniquilação. Aliás, esta premissa não é exclusividade das religiões cristãs. Muito pelo contrário.

Mas não adianta debater com apaixonados cegos. Se você quiser começar uma conversa minimamente razoável, faça o dever de casa e vá saber o que realmente sustentou o CFM:


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