quinta-feira, 7 de maio de 2009

Fábrica de loucos e monstros

Em uma de minhas turmas, os alunos estão apresentando trabalhos. É interessante ver como cada grupo compõe a sua apresentação, já que sempre temos que enfrentar uma série de coisas (p. ex., de tudo o que se pode dizer sobre o assunto, selecionamos alguns aspectos; dentre os aspectos selecionados, selecionamos a forma de abordagem, etc.). Considero esses trabalhos valiosos para testar certas habilidades dos alunos e a universidade existe também para isso.
Mas o meu objetivo é mencionar que, ontem, uma dupla falou sobre o tema crime organizado. Ao final da exposição, exibiu uma reportagem da Record (não sei de que data, mas não recente). Tratava-se de matéria sobre a vida de Fernandinho Beira-Mar, na Penitenciária Federal de Campo Grande, onde se encontrava há quase dois anos submetido ao regime disciplinar diferenciado. Exatamente por isso ele se refere ao presídio como "fábrica de loucos e de monstros". O termo é curioso, considerando que, para merecer o título de fábrica, o local deveria ter produzido loucos e monstros, ao passo que o senso comum indica que os indivíduos já eram loucos e monstros antes de chegar ali. Aliás, supostamente, seria precisamente essa a razão de ali estarem recolhidos. O discurso altamente passional e vingativo é inevitável.
A reportagem, detalhada e bem feita, mostra a estrutura física da penitenciária, altamente opressiva e com um nível de acabamento bem inferior às congêneres dos Estados Unidos, p. ex. Uma mesinha e um banco de concreto, um catre com um colchão à prova de fogo, um sanitário sem assento, uma ponta de cano funcionando como chuveiro: isso é tudo quanto existe dentro da cela. Nada que possa ser usado como arma. Chegar a uma instituição dessas é chegar ao fim do caminho. Mas ali ficamos com a sensação de que o Estado funcionou. Infelizmente, só para a punição e não para o que realmente interessa. Os crimes não foram evitados e vidas não foram poupadas.
Claustrofóbico, penso que um dia dentro de um local desses seria suficiente para me enlouquecer. Por isso, não fico satisfeito de ser necessário (como se supõe) colocar algum ser humano lá dentro. Mesmo Fernandinho Beira-Mar. E não adianta dizer que ele não é humano. A genética o desmente.
Angustiante essa sensação de que, quando alguma coisa funciona, mais parece que a sociedade fracassou. Que a civilização fracassou.

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