segunda-feira, 18 de agosto de 2008

A velha injustiça

A imprensa tem sido dura com os atletas olímpicos brasileiros, por causa dos sucessivos insucessos nos jogos de Beijing. Nos sítios de humor, já cansaram as piadinhas sobre como estamos à frente do Quirguistão, Tadjiquistão, Djibuti e atrás da Etiópia, Cazaquistão e Zimbábue. É isso mesmo: o desempenho brasileiro está pífio, inclusive em modalidades nas quais ouros eram esperados, como na ginástica olímpica. Mas, por causa disso, vamos zoar os nossos atletas?
Já falei mais de uma vez aqui no blog: o Brasil é o país do futebol, infelizmente. Atenções e investimentos são destinados a essa joça. Contratos milionários e salários inacreditáveis fazem parte do universo desses batedores de bola. Mas onde está a verdadeira política de incentivo ao esporte? Algumas empresas, que batem no peito dizendo que incentivam o esporte brasileiro, na verdade patrocinam este ou aquele atleta, já consagrado.
Hoje, o vôlei tem visibilidade. Mas foi preciso que a geração de prata vencesse primeiro, para depois ver a cor da grana. É sempre assim: primeiro dê o seu jeito, faça o seu milagre de vencer e, se for o caso, eu libero uma verbinha. Mas investimentos sistemáticos em esporte, isso não existe. Como, então, podemos colocar o Brasil no nível, para dar apenas um exemplo, dos Estados Unidos, onde a prática esportiva é tão inerente à rotina escolar como as aulas de inglês?
Continuo aplaudindo todos os nossos atletas. Os que ficaram de fora, durante as seletivas. Os que morreram na beira. Os que caíram, literalmente. Tenho o maior respeito por todos.
Beijing, se Deus quiser, abrirá os olhos dos brasileiros. Não somos uma superpotência esportiva. Nossos sucessos recentes podem ter passado essa falsa idéia, mas não somos. Ou investimos de verdade, ou estaremos sempre atrás da Bielorrússia e da Mongólia. Quem sabe agora alguém descubra isso.

6 comentários:

Anônimo disse...

Respeito aos atletas: concordo.
Brasil abrirá os olhos pós-Beijing: não creio.

O Brasil, ou melhor, os BRASILEIROS têm uma dificuldade inerente de compreender o que precisa ser feito neste país. Ou pior, têm consciência sobre o que precisa ser feito, mas permanecem acomodados.

Para um país onde nem mesmo a Educação é levada a sério, o que esperar do patronício ao Atletismo?

Simplesmente não há o que esperar, a não ser um bronze, talvez.

Só para concluir, adorei esta parte: [...] aqui é o país do futebol, infelizmente. Atenções e investimentos são destinados a essa joça. [...]

Yúdice Andrade disse...

O pior, anônimo, é que meu comentário parte da minha velha mania de ter esperança. Mas se racionalizarmos, não é bom contar com essa mudança de mentalidade.
Você também pertence ao seleto grupo dos que não gostam de futebol e cabem numa Kombi? Bem vindo ao time dos excluídos!

Frederico Guerreiro disse...

Fico triste com o fracasso de nossos atletas, mesmo se se considerar que há um excesso de expectativa em torno de alguns deles, a exemplo do Diego Hipólito e da Diane dos Santos (?). No caso dele, deu pena ver um esforço de tantos anos terminarem em um desequilíbrio bobo, logo no finalzinho da série. Ele era realmente um candidato a medalha. Uma pena. Torcerei por ele nas próximas competições. Deu para perceber a profunda dor dele. O que o brasileiro pode fazer no momento é dar apoio ao seu atleta de nível, que nos representou melhor do que muito político.

Anônimo disse...

É, Yúdice. Eu também tinha essa mania de ter esperança. Aliás, confesso que às vezes ainda tenho. Mas a vida tem me ensinado muita coisa. Principalmente sobre não esperar muito do pouco.

Sim, também detesto (não gosto é muito superficial) esses batedores de bola de araque. E faço parte deste seleto grupo com muito orgulho, Yúdice. Como dizia um amigo: "Vocês riem de mim porque sou diferente. Eu rio de vocês porque são todos iguais." ;-)

Frederico, qualquer profissão representa melhor o nosso país do que muitos políticos.

Esqueci de assinar o primeiro comentário, né? Me desculpe, caro Yúdice.

Tristes abraços,
Alexandre (Cps/SP)

Luiza Montenegro Duarte disse...

Fui atleta de natação do Clube do Remo por 9 anos. Nesse período, participei de campeonatos estaduais, regionais e nacionais e pude ver de perto a realidade do esporte brasileiro, em uma modalidade que nem é tão desprestigiada assim.

A diferença entre norte e o sul já é gritante, mas ainda assim, nossos amigos sulistas não têm necessariamente um apoio descomunal. Salvo raríssimas exceções, os custos com viagens, material, nutricionista, etc são todos arcados pelos pais dos atletas. Em alguns lugares (como os clubes paraenses), mesmo os atletas da equipe principal pagam mensalidades aos clubes, quando na verdade deveriam ser uma vitrine.

Os campeonatos são desprestigiados e só atraem os pais e amigos dos atletas, o que consequentemente afasta os patrocinadores. E sem patrocinadores é difícil ter resultados. E sem resultados não há público. E a bola de neve continua rolando...

É muito triste ver um atleta de ponta e de talento parar para estudar para o vestibular, aos 17 anos, quando começa a melhor fase de sua estrutura física, que deve durar até os 25, 26 anos. Não era exatament eo meu caso, mas vi campeões brasileiros juvenis passarem por essa situação. Quantos não se perdem nesse caminho? Sem dúvida serão ótimos em suas profissões, mas poderiam ser também excelentes atletas, como são os americanos, que têm todo o apoio das universidades.

Fico muito chateada com as críticas à esses heróis, que abdicam de suas vidas em rotinas de treinamento que podem durar até 8hs por dia. A medalha é deles, e não do país. Lembro como se fosse hoje da imagem do judoca Carlos Honorato, em Atenas, aos prantos, pedindo desculpas ao povo brasileiro pela PRATA. Fiquei revoltada com ele. A minha vontade era entrar na TV e dizer que ninguém tinha nada com isso e que em um mês ninguém lembraria da sua maravilhosa prata e nem mesmo lembraria de um eventual ouro.

Aqueles que conseguem a GLÓRIA de um pódio olímpico, independente de que posição ocupe, merecem todo o nosso aplauso. Na verdade, qualquer um que participe de um evento tão grandioso quanto às Olimpíadas deveria se sentir honrado.

Quem critica uma medalha de bronze definitivamente não sabe o esforço que se fez pra chegar até ali. As lágrimas derramadas, o afastamento da família, as dores musculares, a tensão e, principalmente, a pressão pessoal, de saber que todo o esforço de uma vida inteira deverá ser provado em alguns minutos, ou até segundos, e a última coisa que se quer é errar.


P.S.: Tenho lido bastante sobre o fato de o Zimbábue estar na frente do Brasil no quadro de medalhas. Em 100% dos comentários jocosos sobre as olimpíadas esse fato é citado. Acho importante frisar que isso se deve ao desempenho individual de uma única atleta, a nadadora Kirsty Coventry, que conquistou todas medalhas do Zimbábue. Obviamente, isso não significa que o Zimbábue tem uma equipe olímpica melhor que o Brasil. Frise-se que Kirsty treina na Auburn University, no Alabama, EUA.

Yúdice Andrade disse...

Corretíssimo, Fred. Eles se esforçaram. O insucesso de hoje ainda pode ser o começo de uma conquista maior, à frente, como hoje podemos dizer de Maurren Maggi. Só acho que qualquer atleta representa o país melhor do que a generalidade dos políticos.

Meu amigo Alexandre, espero ter essa lucidez que mencionas, nas diversas situações da vida.

Luiza, minha querida, um comentário feito com conhecimento de causa tem um valor todo especial. Agradeço pela contribuição especialíssima que trazes a este tópico, não apenas pelo aspecto do conhecimento pessoal, mas inclusive no que tange aos dados sobre Kirsty Coventry, que eu jamais saberia de outra forma. Abraços.