O excesso de trabalho do final de semestre letivo teve um aspecto positivo. Consegui me manter afastado de uma discussão que considero inócua: a campanha política do plebiscito sobre a divisão do Pará.
E por que inócua? Deus me livre falar como um analfabeto político ou minimizar a relevância do tema. Mas inócua porque esse é um embate passional onde todos já têm as suas escolhas encravadas nas almas furiosas. Quem votar 55 no próximo domingo já era contra a divisão antes da campanha, no ano passado e anos atrás. Do mesmo modo, quem votar 77 não formou opinião com essa campanha estúpida, nem este ano nem no anterior.
Digo campanha estúpida porque dispõe de apenas dois ou três argumentos para cada lado, repetidos à exaustão e severamente prejudicados pela falta de isenção, de técnica e até de serenidade. É uma batalha de cães raivosos. Juro que me dá uma irritação extrema quando alguém começa a falar do assunto perto de mim, repetindo as mesmas estultices.
O plebiscito de 11 de dezembro de 2011 só não perde, em matéria de imbecilidade, para a campanha do referendo do desarmamento. Ali a mediocridade e falta de caráter chegou a níveis superlativos, com muita exploração dos inocentes úteis e muito financiamento privado de campanha.
No final das contas, mesmo que com campanhas desprovidas de inteligência e de honestidade, podemos tirar uma coisa boa desses episódios. Uma só e olhe lá, porque o brasileiro médio não é capaz de perceber isso. Refiro-me ao fato de, a pouco e pouco, ensinar o brasileiro a exercitar a democracia direta, a possibilidade de decidir algo importante para a própria vida, para a vida de todos, fazendo-o pessoalmente e não através de representantes eleitos, que na maioria dos casos só almejam um mandato para locupletamento pessoal e para obter foro privilegiado.
Infelizmente, o brasileiro médio reclamará de ter que "perder um domingo" para ir votar. Qualquer que seja a eleição, o cara sempre pensa que está perdendo tempo, que é tudo um grande aborrecimento. Com um povo pensando assim, não é à toa que não evoluímos.
3 comentários:
A única propaganda eleitoral construtiva que me vem à memória foi a do referendo do desarmamento. Ao menos alí as partes adversárias se preocupavam em apresentar propostas, expunham argumentos diversificados para defender sua causa, não apelavam para baixarias ou ataques pessoais (desviando completamento o assunto de debate).
No auge de minha ingenuidade eu acreditei que o mesmo aconteceria com a presente campanha da divisão, uma propaganda sadia, com propostas e ideias pra se debater. Hoje já estão até fazendo propaganda contra o Jatene no progama do 77, tudo porque ele fez um pronuciamente na internet favorável ao Não. Isso sem falar dos tapas na cara, da Fafá de Belém chorando pra fazer chantagem emocional...
Enfim, embora eu seja contra a divisão, concordo com o seu posicionamente, professor, os dois lados perderam em matéria de formação de conhecimento.
Pois é primo.
Eu mesmo, que sou do Pará mas tenho meu título eleitoral aqui em SC, não tenho opinião formada acerca do tema.
Mas isso se deve ao fato das "campanhas" serem sem profundidade e pouco convicente. Não consegui sequer fazer uma análise sobre os impactos.
Infelizmente, como na maioria dos debates, perde-se a oportunidade para se discutir questões mais relevantes, sempre reduzindo às questões ao bairrismo e ao achismo.
Grande abraço
Felipe, pelo meu texto você já pode ver que eu não concordo quanto ao estilo da campanha do referendo. Era horrorosa, na forma como manipulava o eleitorado com base numa suposta "supressão do direito de defesa", que era a coisa mais ridícula.
Nem nós aqui conseguimos, Jean. Imagine o sufoco que passaria, para decidir, alguém que ainda não tivesse opinião formada.
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