Há menos de um mês, escrevi uma primeira postagem elogiando o seriado The Killing. Na oportunidade, cometi o equívoco de dizer que o programa é exibido no Brasil com "poucos meses" de atraso em relação aos Estados Unidos, mas na verdade a diferença é de apenas uma semana, comprovando que o Brasil cresceu de importância no mercado dos controversos enlatados americanos.
Embora com uma trama nada original e um ritmo lento (não focado em ação), que reforça o clima sombrio e depressivo na vida dos personagens (e não apenas da família enlutada), quando cada episódio terminava eu pensava "cara, como eu gosto desse troço!"
Realmente, os roteiristas estão de parabéns pela competência com que desenvolvem a trama, sem ceder em momento algum aos maneirismos destinados a prender a atenção do público padrão de hoje. Não há perseguições de carro, nem porrada, nem efeitos sonoros alucinantes, nem cenas de sexo e, principalmente, nada é explicado didaticamente para os debeis mentais conseguirem entender (mas também não há nada tão complexo que não pudesse ser entendido por um espectador minimamente atento).
Ontem, eu e minha esposa assistimos ao último episódio da primeira temporada, exibido no Brasil na terça-feira passada. Espetacular. Quando terminou, só conseguia pensar no tempo que falta para voltar a assistir.
Desenvolver um seriado com trama contínua é mais complicado, acredito, do que um que exibe o monstro da semana (termo cunhado na época de Arquivo X). Porque a estória há de ter um começo, um meio e um fim, trazendo aos roteiristas o ônus de calibrar adequadamente o momento de liberar cada informação.
Um programa como The Killing não ficará no ar por 11 anos, como CSI, muito menos 15, como Plantão médico. Há um prazo de validade para estórias como essa, mesmo que muito bem contadas. E o seriado vem sendo preciso nessa tarefa, o que lhe valeu ganhar a segunda temporada, também com 13 episódios (previstos), pouco tempo após a sua estreia. Um privilégio, considerando a onda de cancelamentos que a crise econômica tem imposto à indústria do entretenimento na terra de Obama.
O seriado também recebeu seis indicações ao Emmy 2011: elenco de série dramática, atriz de série dramática (Mireille Enos), atriz coadjuvante de série dramática (Michelle Forbes), roteiro (pelo episódio piloto), direção (Patty Jenkins, pelo piloto), edição (Elizabeth King, pelo piloto). Ainda não venceu, mas é normal. Pode-se esperar premiações no futuro, porque o trabalho é realmente fantástico, sobretudo as atuações de Mireille Enos (Sarah Linden), Michelle Forbes (Mitch Larsen) e Brent Sexton (Stan Larsen). Estes dois últimos defendem com enorme dignidade os papeis dos pais da adolescente assassinada, à frente de uma família que desmorona a olhos vistos.
Identifico-me particularmente com o sofrimento do pai. Duas cenas me comoveram. Em uma, Stan responde aos dois filhos, ainda crianças, como a irmã morreu e, na outra, ajuda uma menina a andar de bicicleta. O seu semblante olhando a garotinha se afastar pedalando foi cortante.
O capítulo final terminou estrepitosamente, com direito a um provável atentado que não sabemos, sequer, se aconteceu mesmo. Agora é esperar. Paciência!
3 comentários:
Prezado Professor, já leu o livro da Privataria Tucana?
Seria ótimo pra ilustrar uma aula de direito penal de como ocorre o crime de lavagem de dinheiro.
Bem didático, nunca mais erro uma questão em prova depois de aprender como se faz, visualizando aqueles tipos difíceis da lei.
Fica a dica.
Caro Professor Yúdice,
Também acompanhei a 1º Temporada de The Killing e achei ótimo, o enredo, a construção dos personagens, a fotografia. Apesar das críticas de ter um clima lento demais, nada apaga a construção da estória. O seriado é a versão americana do seriado dinarmaques "Forbrydelsen" e como o original podia-se concluir a estória e desvendar o final.
Mas como parece que cada personagem tem um segredo, o segredo de Rosie vai ser desvendado completamente para a próxima temporada. Um enredo policial como os filmes de antigamente, sem efeitos especiais ou perseguição policial. Muito Bom.
Das 11h54, só se falou nesse livro por alguns dias. Em algum momento vou lê-lo, mas tenho outras prioridades agora, inclusive de mero lazer. Mas pelo visto os críticos não me deixarão esquecer o livro em apreço.
Agradeço a informação sobre o original dinamarquês, Alexandre. Espero que a equipe de "The Killing" continue produzindo uma estória de qualidade para nós.
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