domingo, 20 de abril de 2008

Abordagem cuidadosa?

Hoje a Rede Globo tirou o dia para defender o próprio jornalismo, sustentando a cautela com que tem coberto o caso Isabella Nardoni, evitando pré-julgamentos e sensacionalismos. Realmente, não me parece que, desta vez, os abusos de outros casos estão ocorrendo. Há uma certa contenção no que se diz, apesar da exploração maciça do caso.
Gostei da matéria exibida no Fantástico, mostrando psiquiatras a explicar o impacto emocional do caso sobre as pessoas. Plausível. Todavia, ficou faltando um reconhecimento: se as pessoas estão acompanhando o caso de modo quase psicótico, não é apenas porque temem a possibilidade algo semelhante acontecer perto ou com elas mesmas; é também porque a mídia está servindo esse prato para consumo permanente. Se a abordagem fosse menos intensa, certamente as reações populares seriam menos extremadas.
E agora mais pessoas estão citando um aspecto importante: todos os dias, crimes horrendos são perpetrados contra crianças e ninguém toma conhecimento. Às vezes, a postura das pessoas que tomam conhecimento é de indiferença. Por isso, a repercussão tem a ver com algum aspecto do caso que pegou as pessoas de jeito. Mas isso não explica por que a violência excessiva de todos os dias passa despercebida.
Diferença entre varejo e atacado?

PS — Resta esperar as reações à entrevista do casal, que ainda está sendo exibida. Argumentos repetitivos, terço na mão, muito choro. Alheamento quanto aos aspectos essenciais da acusação (eles alegam desconhecer os laudos periciais). Sem dúvida, elementos a serem altamente explorados. Amanhã será um dia cheio.

7 comentários:

Anônimo disse...

O casal Alexandre e Ana Carolina Jatobá é inocente.
Houve uma reviravolta no caso.
Pegaram o assassino.

Frederico Guerreiro disse...

A que ponto chegou o cinismo no caso, ein Yúdice? Quase não me contenho em lágrimas pelas declarações do casal. Pôxa! Como são inocentes...!!!

Yúdice Andrade disse...

Anônimo, estou à espera do seu furo jornalístico.

É, Fred, no segundo bloco da entrevista me cansei e vim escrever no blog. O andar em círculos estava me cansando. Foi no segundo bloco que o repórter mencionou os laudos, mais especificamente, porém ainda assim não saiu nada. E Nardoni fugiu das perguntas, como quando questionado sobre seu relacionamento com a mãe da menina.
Enfim, eu acredito na ciência. Se os laudos me apontam uma conclusão, confiarei nela até prova em contrário.

Anônimo disse...

Inacreditável. O magistrado não é escravo de laudo nenhum. Acima de tudo deve prevalecer sempre a presunção da inocência, garantia constitucional (que a gente só costuma invocar quando as coisas acontecem conosco ou com nossos amigos e parentes). Pimenta só arde...

Anônimo disse...

A entrevista de ontem me fez recordar uma antiga piada sobre advogados...

"Um cliente entra, esbaforido, com as roupas sujas de sangue, no escritório do advogado:
- Doutor, só o senhor pode me salvar! Acabei de matar minha mulher .
E o advogado responde tranqüilo :
- Calma, calma... Não é bem assim. Estão dizendo que você matou a sua mulher."

Vladimir Koenig disse...

Yúdice,
eu não acompanhei muito bem o caso. Mas uma coisa me chamou atenção: porque essa comoção toda?
Ao meu ver, essa exposição geralmente acontece quando a barbárie chega perto da classe média, quando algum de seus membros é vítima, quando se percebe que pode-se também ser vítima. Fiquei incomodado com o fato desse caso ter causado tamhanha repercursão quando tivemos conhecimento de um outro crime particularmente escabroso, o daquele menina, empregada doméstica, torturada pelos patrões e por outras emtpregada.
O caso Nardoni é terrível. Mas, mau-tratar crianças acontece a rodo. Basta uma ronda pelos hospitais de Belém para ver. É algo que, infelizmente, é frequente. Até concordo que nem sempre se joga uma criança pela janela. Mas não acho que esse detalhe seja mais impressionante ou impactante do que submeter uma outra criança às práticas de tortura inimagináveis para uma mente sã.
Não estou tentando demonstrar o que é mais grave ou menos grave. É apenas um exemplo de que, quando o crime atinge a classe média, sua repercussão é bem maior do que quando o pobre é a vítima, pois os melhor abastados não se identificam como possíveis vítimas, não se sensibilizam, por acreditar que estão longe da violência a que são submetidos os pobres.
Posso estar errado, mas em minha profissão vejo tanta barbárie contra os pobres, que me causam indignação todos os dias e que não chamam a menor atenção da mídia, que só posso concluir que a violência contra o pobre não é tão importante para a classe média.
Abraços,
Vlad.

Anônimo disse...

É fato que eles são condenados. Como um pai que perdeu a própria filha assassinada por terceiro estaria naquela tranqüilidade e frieza toda (entrevista Fantástico)? Isso não existe!

Os safados, além de matar a pobre criança ainda têm coragem de aparecer na TV dizendo que são inocentes.

Sinceramente? Para mim, isso simplesmente não cola.

Por este motivo, e creio que veraz, evito TV e jornalismo. Não desmerecendo os honestos, mas eles adoram manipular a população. E, cá entre nós: acabam conseguindo. Mas comigo NÃO.

Como o Sr. Yúdice citou: "... todos os dias, crimes horrendos são perpetrados contra crianças e ninguém toma conhecimento. Às vezes, a postura das pessoas que tomam conhecimento é de indiferença."

Lembrem-se disso.

Sem mais,
Alexandre

PS: Como um caro professor de Direito dizia: "Não sou bobo de cair nas $afardagens de Marinho." Eis aí uma reflexão.