As relações entre os familiares e herdeiros de J. R. R. Tolkien e os produtores dos filmes baseados nas obras do escritor inglês nunca foram muito cordiais. Veja-se, p. ex., que assim que se acenderam as luzes ao término da exibição de O retorno do rei, capítulo final da trilogia O senhor dos aneis, em 2003, já era grande a expectativa em torno do lançamento de O hobbit, versão do romance que Tolkien escreveu em homenagem aos filhos, quando torturado de saudade deles, por estar no front da I Guerra Mundial. Àquela altura, o linguista não tinha ideia do quanto desenvolveria a trama, criando um verdadeiro universo mitológico.
O fato é que herdeiros e produtores começaram a brigar sobre a divisão dos lucros de O senhor dos aneis, o que, juntamente com questões ligadas a roteiro e direção, emperrou a produção de O hobbit em vários anos. Parecia mesmo haver uma cabeça de burro enterrada sob o ambicioso projeto. Mas eis que enfim a coisa andou e agora estamos a menos de um mês da tão aguardada estreia (em 14 de dezembro próximo). Problemas resolvidos? Nem de longe.
Os lados opostos acabam de se enredar em mais uma disputa judicial milionária. Desta vez, os herdeiros cobram 80 milhões de dólares referentes a produtos destinados à Internet e jogos, que naturalmente não foram mencionados no contrato por meio do qual os direitos autorais foram vendidos à indústria cinematográfica, no já distante ano de 1967. De quebra, queixam-se que os produtores licenciaram jogos até mesmo em cassinos, conspurcando a obra de Tolkien, no sentido moral. Posso compreender o argumento, já que Tolkien era um católico fervoroso, e ainda por cima, inglês, de modo que seu temperamento contido e devoto realmente não se coadunaria com esse tipo de licenciosidade. Há quem diga que o autor jamais venderia os direitos de sua obra sequer ao cinema, providência tomada já pelos filhos.
Pelo visto, está mais fácil pacificar a Terra Média do que alcançar um consenso entre herdeiros e produtores. Nem Sauron aguenta.
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