Não é de hoje que tenho conhecimento de que os andadores infantis (aqui no Pará costumam chamar de anda-já) são perniciosos ao desenvolvimento do bebê, por forçá-lo a realizar ações para as quais o seu corpo - o seu sistema nervoso, sobretudo - não está preparado. Por isso, acho bastante salutar que a Sociedade Brasileira de Pediatria decida, agora, encampar uma campanha contra o uso do equipamento.
Pessoalmente, acho que essa campanha de conscientização não dará muito certo. Afinal, o andador é uma enorme conveniência e as pessoas, hoje em dia, querem conveniência para tudo, inclusive para criar filhos. Pode-se largar o moleque lá, sentadão, enquanto você se ocupa de coisas mais importantes. Lá o estorvinho pode brincar, dormir (se vencido pelo cansaço ou pelo tédio) e explorar o mundo (hipótese em que os pais acham que estão fazendo grande coisa pelo pequeno). Há uma outra questão que merece lembrança: muitos pais hiperestimulam seus filhos, na perspectiva de que andem, falem e façam coisas especiais o mais rápido possível.
Depois que vi uma amiga altamente instruída, profissional da educação e tendo no currículo experiência com portadores de necessidades especiais, colocar o rebento num andador desses, percebi que apesar de termos muito tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais. A esmagadora maioria dos pais simplesmente não vê mal nenhum no equipamento e considera essas advertências exageros injustificáveis, quando não rematadas asneiras. Escutar sobre desenvolvimento do cérebro não é para qualquer um.
Faço uma comparação que pode soar absurda, mas que acredito pertinente. No passado, muita gente amarrava a mão esquerda de crianças sinistras (termo correto para "canhotas"), a fim de que elas não tivessem escolha e escrevessem com a mão direita, o que era considerado o "certo", o padrão desejável, sabe-se lá por quê. Com os avanços da neurologia, descobriu-se que - falando sumariamente - cada hemisfério do cérebro (direito/esquerdo) controla o lado oposto do corpo. Na verdade, há áreas do cérebro específicas para cada função, de modo que não é uma agressão dessas que poderia corrigir o suposto problema. Em caso de acidentes com perda dos movimento da mão, p. ex., pode-se ensinar a outra mão a escrever, mas isso pressupõe um método organizado que estimule as áreas corretas do cérebro e não simplesmente forçar o uso imediato da habilidade que o indivíduo não possui. Isto poderia até trazer-lhe prejuízos.
O uso do andador pode, em tese, implicar em prejuízos nesse nível, do desenvolvimento cerebral. Mas vá explicar isso para o cidadão comum...
Caso eu tenha dito alguma impropriedade no texto, por favor me alerte. Caso os pediatras estejam equivocados, justifique-se. Caso você seja adepto do andador porque conhece inúmeras crianças que o utilizaram (ou pior: só uma ou duas) e nenhuma morreu nem ficou doida e por isso considera tudo isto balela, saiba que sua preguiça mental é lamentável. Caso você seja adepto apenas por causa da conveniência, lamento por seu filho.
Não é que usar o andador vá trazer danos tão diretos (isto é uma possibilidade em tese). Mas é como fumar. Tal prática dá certeza de que o fumante terá câncer? Não. Mas aumenta (e consideravelmente) o risco. Então eu não faço. E acho que meu filho merece essa deferência.
Para conhecer outra abordagem, leia aqui.
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