A imprensa está cada vez mais impossível. Comporta-se em relação à matéria criminal do mesmo modo que em relação a outros assuntos, sem o menor interesse pelas implicações. Quer os furos de reportagem e as informações exclusivas, para se colocar acima dos concorrentes. Mas com isso revela a disparidade de forças entre os pequenos veículos de comunicação e os grandes, cujo poder e/ou dinheiro permite o acesso a dados e documentos que deveriam ser sigilosos, até porque um inquérito policial é um procedimento sigiloso! Ou deveria ser.
Fico profundamente repugnado de ver que um caso de grande repercussão (o homicídio da fisioculturista Fabiana Caggiano Paes) tem sido explorado a ponto de o Portal G1 expor fotos do exame necroscópico realizado sobre o cadáver, revelando as marcas de estrangulamento.
A atitude, obviamente movida pelo interesse comercial da repercutir a notícia, denota desrespeito à memória da vítima e, sobretudo, profunda desumanidade com os familiares, os quais poderiam jamais folhear os autos do inquérito e da futura ação penal. Será, todavia, muito difícil que escapem da exposição dessas imagens pela Internet, ainda mais num mundo em que as pessoas se comprazem em mostrá-las justamente a quem não quer e não merece vê-las.
Imagine um pai, uma mãe, um irmão, um amigo tendo que se defrontar com essas imagens e com o que elas representam de imediato: a projeção do sofrimento que a moça enfrentou, em seus instantes finais. Sinceramente, podíamos passar sem essa. Isso não é informação de interesse jornalístico (bastava noticiar o fato, sem as imagens): é sadismo, mesmo.
No mais, eu realmente questiono a postura de um delegado de polícia que convoca a imprensa para antecipar informações que, repito, são em princípio sigilosas. Digo antecipar porque o destinatário do inquérito é o Ministério Público e depois o judiciário. No mínimo, estes é que deveriam deliberar sobre que tipo de elementos poderiam ser divulgados, imbuídos do máximo de bom senso. Nunca a polícia.
Mas é clássica a relação entre uma polícia exibicionista e mundocanista e uma imprensa perversa e igualmente mundocanista.
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