No espaço de apenas cinco dias, o curso de Direito do CESUPA se viu privado de duas acadêmicas, ambas em circunstâncias súbitas e difíceis. Ambas eram jovens e muito queridas. Não ter conhecido nenhuma das duas não me priva, entretanto, dessa sensação de estranheza e desconforto, para dizer o mínimo.
Durante minha graduação, dois de nossos colegas de turma faleceram. Não colegas de curso, contemporâneos ou algo assim: duas pessoas que estudavam na mesma sala de aula que eu. O primeiro deles foi levado por um acidente de trânsito e atingiu a todos com perplexidade. Para vários de nós, ainda tão jovens, decerto era o primeiro contato com a morte. A segunda sofria de uma doença grave, que acabou por atingir o seu sistema nervoso. Ela deixou o curso e a cidade, sendo que meses depois soubemos que ela se fora, sob graves sofrimentos. Não estava mais entre nós, o que de certo modo anestesia a dor, mas as circunstâncias também foram perturbadoras.
Os primeiros dias após essas perdas foram de estranheza. É muito diferente quando acontece com alguém que você conhece, tornando-se mais agudo quanto maior a proximidade. Nós nos olhávamos com expressões estranhas, difíceis de definir. Era infelicidade, simplificando. Mas, no final, tocávamos adiante, como tinha que ser. Nossas vidas são como água que escorre: ela procura todos os espaços por onde possa escoar. Se há obstáculos, se acumula e transborda, transpõe o que for preciso. Sempre chega a algum lugar. E cada um de nós, de seu jeito, como pode, chegou.
Em 30 de abril de 1997, na condição de orador das quatro turmas de concluintes, iniciei meu discurso dizendo que não havia apenas 155 colandos, e sim 157, porque incluí na conta os dois amigos, como presenças vivas naquele recinto. Houve uma reação calorosa por parte da plateia. Nossos amigos se fizeram presentes de fato, por meio de uma emoção firme, exteriorizada pelos aplausos a sua memória. Eu me calei e esperei que os colegas se recompusessem. Olhei para o ar e pensei: "Isto é para vocês." Houve quem agradecesse depois a lembrança de seus nomes. Eu realmente acho que a festa ficou mais completa assim.
Mais de 18 anos se passaram desde a primeira dessas separações. Com o tempo, é vero, as feridas vão cicatrizando e você arranja um local bonito e digno para as suas lembranças sofridas. Elas também nos fazem crescer. Tudo faz parte do tal ciclo da vida. E enquanto a dor ainda está presente, você busca se concentrar nas melhores recordações, nos sorrisos, nos afagos, nos abraços, nas brincadeiras, nas promessas de futuro, porque permanece havendo um futuro para todos nós.
7 comentários:
Belíssimo texto. Ficou emocionado com o carinho e a sensibilidade de sua lembrança de seus colegas. Colocou um tom mais profundo na minha noite.
Seu texto é importante. Marcar com palavras e sentimentos a partida de duas jovens, alunas do curso em que você é professor, é uma forma de homenagear a sua memória.
Me corrigindo: * "fiquei emocionado".
Nossa Yúdice! que bonito amigo! Também não conheci as duas moças, mas senti uma tristeza profunda pela perda delas e tentei consolar alguns de seus amigos, meus alunos. Assim como você descreveu, o sentimento é de infelicidade.
Yúdice, não soube nem quem eram nem o que houve com as referidas duas moças do CESUPA. Podes me dizer?
Também não soube sobre o que ocorreu. Só soube que uma aluna do quinto faleceu ao cair do seu prédio. O que sucedeu à segunda aluna?
A outra moça foi atropelada dentro do túnel do entroncamento.
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