sábado, 14 de abril de 2012

Metabólico

Na madrugada de sexta-feira, minha mãe passou mal. Agora nós sabemos que ela estava com níveis baixíssimos de glicose e sinais de infecção, o que provocou um desequilíbrio metabólico. A consequência disso foi que ela se levantou da cama surtada, completamente desorientada. Não falava coisa com coisa, repetia frases sem sentido, e alternava esses momentos de agitação com outros nos quais nos encarava de um jeito estranhíssimo, parecia lenta e distante, e demorava a responder aos nossos comandos.
Atônitos, imaginamos que poderia ser um AVC ou um processo de doença demencial. Foi um desespero. No hospital, o médico considerou todo o histórico que eu e meu irmão lhe fornecemos na anamnese e rejeitou a primeira hipótese (mas pediu uma tomografia para confirmar, por cautela), admitindo entretanto a segunda. Contudo, para ele os sinais apontavam para uma descompensação metabólica, prognóstico pelo qual passamos a torcer, porque era o único que nos permitiria ter nossa mãe de volta. Graças a Deus, era isso mesmo e, após receber glicose injetável, em poucos minutos ela foi voltando a si.
Ficamos algumas horas no hospital aguardando os resultados dos exames laboratoriais e, com base neles, o médico arriscou um palpite, que precisa ser checado em consultas posteriores, já com os profissionais que cuidam dos diversos problemas médicos de nossa mãe. Há alguns dias, ela começou a tomar um medicamento novo para diabetes, chamado Trayenta. O médico examinou a bula e disse que pode ser que este medicamento tenha levado a uma perda de açúcar que, no quadro de minha mãe, portadora de insuficiência renal, geraria uma combinação infeliz. Por cautela, mandou suspender o Trayenta até a nova consulta com a endocrinologista que o receitou.
Longe de mim levantar falsos, até porque advoguei para o Sindicato dos Médicos e vi como eles são acusados de mundos e fundos, injustamente. Mas só eu e meu irmão sabemos o terror que passamos naquela madrugada, por isso me permito compartilhar minha irresignação.
Trayenta é uma droga nova no mercado, por isso muitos médicos nem o conhecem (como o que nos atendeu, p. ex.) e não há maiores informações sobre os seus efeitos, além daquelas que o fabricante quer que sejam conhecidas. Além disso, custa caro. Já escrevi outras vezes aqui no blog sobre meu horror à indústria farmacêutica, uma das mais calhordas e criminosas do mundo. Então me ocorreu: será que a endocrinologista (que não sei quem é) recebeu a visitinha daqueles tipos odiosos (os representantes), que vivem puxando o saco, dando presentes e comodidades aos médicos, oferecendo inscrições em congressos, pagando almoços, etc.  propina, eu chamaria , para que os seus produtos sejam prescritos aos pacientes, mesmo que caros e não sejam exatamente os mais recomendáveis à necessidade do paciente?
Como pacientes, eu e pessoas de minha família já recebemos recomendação de tomar medicamentos inócuos, já fomos orientados para farmácias de manipulação e laboratórios específicos, ou seja, instruções altamente direcionadas, que acolhemos de boa fé pela pressuposição ingênua de que o médico só nos pediria o que fosse melhor para nós. Ledo engano. Certa vez, meu irmão entrou na farmácia recomendada e deparou com o médico lá: o estabelecimento pertencia a sua família.
Insisto que isto é apenas uma suposição, mas é algo a ser considerado. Por isso digo a todos: quando receberem prescrições e demais orientações médicas, perguntem o porquê de tudo. Principalmente se lhes impuserem alguma novidade. A informação completa e correta é direito inalienável do paciente.
No mais, quero deixar registrados os nossos agradecimentos ao médico Olávio Silva Neto, que nos atendeu com grande solicitude e interesse, acertou o diagnóstico e tirou nossa mãe da crise.

3 comentários:

Anônimo disse...

Yúdice, estou por perto. Sabes que podes sempre contar comigo.
Estimo melhoras para sua mamãe.
Ab
Fred

Yúdice Andrade disse...

Mais uma vez, Fred, meus melhores agradecimentos. Felizmente, eu estava perto e acessível, por isso consegui socorrê-la com rapidez e dispunha do meu irmão junto!
Ela já está bem.

Scylla Lage Neto disse...

Yúdice, no contexto atual da medicina, uma das poucas vantagens de ser médico é saber escolher qual o colega de profissão vai cuidar dos membros da sua família.
Um abraço.