Quem gosta de acompanhar seriados importados naturalmente estabelece as suas preferências. Depois de Arquivo X, Plantão médico e do peculiaríssimo Lost, foi Criminal minds que alcançou a minha preferência, graças ao viés psicológico, embora eu confesse que já ando cansado desse papo de investigações criminais, FBI e coisa e tal.
Criminal minds é um programa de alta qualidade, que começou contando com a experiência do ator Mandy Patinkin e, a partir da terceira temporada, de Joe Mantegna. Naturalmente, como toda obra do gênero, tem falhas ditadas pelo formato, tipo de linguagem e outras questões técnicas. É por isso que existem os personagens gênios: Spencer Reid (Matthew Gray Gubler) e Penelope Garcia (Kirsten Vangsness), recursos fáceis para que os investigadores obtenham de forma imediata informações que, na vida real, demandariam muito mais tempo para se alcançar. Exigências do tempo de duração do episódio.
O maior senão do seriado, contudo, é a forma cartesiana e extremamente simplista com que os complexos processos psicológicos são tratados. É a condição para que o público entenda a trama e esta se desenrole com a necessária agilidade. O risco é fazer as pessoas acharem que para todo A existe uma consequência B.
Seriado de sucesso, chegou a sua oitava temporada e produziu um filhote, o que está na moda há algum tempo. Trata-se de Criminal minds: suspect behavior, que teve apenas 11 episódios e foi logo cancelado, o que em princípio me entristeceu mas, hoje, compreendo perfeitamente a razão.
No início de cada episódio, Suspect behavior começa com uma advertência de que, na estrutura do FBI, existem grupos especiais (as "células vermelhas"), que "operam para além da burocracia e respondem diretamente ao diretor do FBI". Profundo, não? Você logo imagina um grupo de elite, atuando em questões incomuns e delicadas. Aliás, o título do seriado me fez pensar que a intenção do grupo seria atuar de forma preventiva, evitando crimes. Mas me enganei. No final das contas, eles trabalham na mesma espécie de caso dos colegas "oficiais", não havendo razão lógica para chamar aqueles, em vez destes. O único caso que vi, até o momento, a justificar o chamamento de uma célula vermelha foi o do sexto episódio, no qual uma bomba explode numa escola, havendo a necessidade de examinar se o atentado fora ou não obra de terroristas, para se decidir a linha de ação.
No geral, portanto, o seriado mantém os procedimentos do original, mas sem a mesma classe. Aproveita a mesma personagem do irmão (Penelope Garcia) e traz agentes mais temperamentais. O destaque é o ator veterano Forest Whitaker, que vive o agente Sam Cooper, líder do grupo. A aparente preocupação em valorizar o festejado ator acabou custando caro a ele e, principalmente, ao seriado.
Desde o primeiro momento, Cooper é mostrado como um homem dotado de um talento especial para penetrar na mente dos criminosos, uma espécie de empatia que lhe permite pensar exatamente como eles, revelação que coloca expressões de enigmático espanto no semblante dos demais personagens. Graças a esse "dom", Cooper resolve os casos graças aos seus inúmeros e sempre certeiros insights.
O sétimo episódio, último a que assisti, foi particularmente pavoroso. Acho que a equipe estava com preguiça e mandou o estagiário redigir o roteiro. Empolgadíssimo com a oportunidade, o estagiário pegou um modelo e se danou a escrever todos os clichês que pode. Assim, o episódio é uma sucessão de tiradas absurdas do protagonista. A pior delas: investigando um caso em que um assassino enforca homens aparentemente na presença de uma mulher, que seria sua refém, Cooper escuta uma gravação de chamada telefônica e, porque escuta o assassino falar com a suposta refém e ela não responder, ele deduz que... ela estava morta!
Ela poderia estar amordaçada, aterrorizada a ponto de não conseguir falar ou, talvez, não existir — hipótese plausível porque já fora dito que o suspeito provavelmente era esquizofrênico, de modo que a refém poderia ser apenas um delírio de sua mente doente. Mas não! Cooper deduz que ela já estava morta. E voilà: o assassino de fato carregava o cadáver putrescente de sua irmã por aí.
Para mim, chega. Verei os quatro episódios finais porque... porque... Sei lá por quê. Mas já comemoro o cancelamento dessa malsinada empreitada, cuja existência só comprometeria o brilho do seriado original, este sim capaz de entreter sem irritar. Ou, ao menos, não tanto.
4 comentários:
Caro Professor Yúdice,
Como Você sou Fã de seriados, principalmente os de investigação e Criminal minds, hoje é um dos meus favoritos, e compartilho com suas observações, inclusive da sua franquia Criminal minds: suspect behavior. Ao longo dos últimos anos acompanhei vários, e inclusive alguns muitos bons terminaram, como Close to Home (excelente)e Without a Trace (Muito Bom, que recomendo). Contudo nessa linha de investigação criminal, Criminal minds ao lado dos três CSI estão entre meus favoritos, mas nada se compara ao fascínio que me provocava no passado as temporadas de Arquivo X, acho que eu mudei com o tempo. Caso interesse hoje há um seriado muito bom, mas que infelizmente está nas suas últimas temporadas, mas que recomendo, principalmente pelo modo que desenvolve suas narrativas, que é DAMAGES, vale a pena conferir, a quem interessar por casos jurídicos, desta vez não criminais, mas que não deixa de ter um bom suspense.
Também gosto muito de Criminal Minds!
Yúdice, o paranormal Whitaker não foi avisado de que o filme não era um enésimo remake de A Experiência.
Fico com o "CSI: Investigação Criminal", mas aquele com o Gil Grissom.
Mas, afinal, onde está passando Criminal Minds? No cine Ópera? Por que aqui na minha tv isso não pega. Eu ainda tenho tv aberta, aquela sem a tampa de trás.
Alexandre, acompanho Without a trace, do qual gostava mais do que da franquia CSI. Mas isso quanto comprava os boxes. Depois passei a assistir pela Sky e, desgraçadamente, o canal Space exibe o seriado dublado, o que retira metade do prazer de ver o programa.
Pelo visto, concordamos que Arquivo X é mesmo um caso especialíssimo.
Quanto a Damages, tenho grande interesse, a começar pela presença de Glenn Close, que admiro. Mas por alguma razão nunca vi. Talvez nas férias eu alugue o box da primeira temporada.
É bom, mesmo, Wirna.
Paranormal é um bom termo, Fred. Acho que o roteirista pensa que está em Millennium.
Infelizmente, Criminal minds só passa na TV com tampa atrás.
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