terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Ão e am

Um erro de português que me deixa em pé o pouco cabelo que me resta, apesar de ser muito frequente (ou justamente por conta disso), é a incapacidade que muita gente possui de distinguir verbos que devem ser escritos com a terminação -ão ou -am.

Doi-me nos ossos ler obscenidades como "eles forão chamados" ou "as inscrições seram abertas". O pior é que, prestando atenção, os sons ali produzidos são parecidos, porém não idênticos. Mas num país em que não se consegue assimilar ortografia, louco será quem pense em fonética.

O plural de "tubaram" deve ser "tubarans"...
Vendo uma reportagem que nada tinha a ver com Língua Portuguesa, e sim com um imenso tubarão-baleia de 12 metros de comprimento achado morto no Mar da Arábia, litoral do Paquistão, deparei-me com uma comentarista lesa, indignada porque os humanos malvados mataram o animal. Lesa porque a matéria informa que o peixe fora encontrado já morto. No meio do texto, a dita cuja comete um barbarismo impressionante: "tubaram".

Como na linha de baixo ela escreve a palavra corretamente, até pode ter sido um erro de menor importância e não uma assustadora convicção de que a grafia era outra. No entanto, dada a disposição das letras no teclado, não se tratou de erro de digitação. Assim, chama a atenção como a garota redigiu incorrendo no erro que apontei acima e que nunca antes vira incidir sobre um substantivo. Se bobear, ela pode até ter dúvida sobre o modo correto de escrever o nome do aludido animal marinho.

Um leitor desavisado ficará pensando que se trata de um verbo  tubar , provavelmente coisa de surfista.

A louca do "tubaram" pode ser encontrada aqui.

7 comentários:

Luiza Martinelli Coelho disse...

Professor,
outro dia eu e meu pai refletíamos sobre esse assunto.
Estudei todo o ensino fundamental em Paragominas. Quando chegou o ensino médio vim estudar em Belém para me preparar para o vestibular. Na época meus pais ficaram apreensivos, achando que eu poderia estar um pouco atrasada ou coisas desse tipo. Não tive dificuldades, embora, tivesse que estudar mais.
Percebo hoje na faculdade colegas cometendo exatamente o tipo de erro que o senhor mencionou. Colegas que estudaram nas melhoras escolas da capital.
Acho que o fato de ter estudado em uma escola menor e com menos frescuras tenha ajudado um pouco.
No entanto,penso que o ensino fundamental esteja um pouco perdido, dando atenção para coisas desnecessárias em vez de focar no básico, (como o raciocínio matemático e o português). Percebo isso ao ajudar meus primos nas tarefas (uma mais inusitada que a outra!).
p.s.: caros leitores do blog e professor: não me acho a rainha da gramática,até pq nosso idioma não permite.Quer língua mais complicada?

Aline Bentes disse...

Kkkkkkk verbo "tubar" é ótimo! Brincadeiras à parte, ainda hoje eu conversava com uma estagiária no trabalho sobre esse ditos erros de português. Nesse ponto, a internet - em especial o Facebook, tenho achado - é um prato cheio. Fico impressionada e indignada com o que tenho lido... Mas, talvez nada me angustie mais do que o uso errôneo de "mas" e "mais", bem como a quantidade de pessoas que escrevem "anCiedade". Lamentável...

Anônimo disse...

Também fico muito impressionada com a quantidade de pessoas que não tem a menor noção na hora de empregar o "mais" e o "mas".

Anônimo disse...

Yúdice, parabéns pelo seu blog. Sou sua leitora assídua e sua fã número um (que a Poly não escute).kkkkkkk Brincadeiras à parte, realmente esses erros são lamentáveis e parece que está cada vez pior. Que saudade da escola primária lá de Óbidos onde estudei!

Yúdice Andrade disse...

Luiza, não existe mais essa de "ensino da capital" nem de escola de elite. Leciono numa instituição privada que recebe alunos egressos das escolas mais caras e famosas da cidade, mas eles não se distinguem dos demais, sendo visíveis os prejuízos na formação geral, em conhecimentos sobre a atualidade, em Língua Portuguesa e, sobretudo, na capacidade de raciocíno. A escola brasileira é, hoje e há muito tempo, uma reprodutora de conhecimentos encaixotados, que não ensina a pensar nem sequer estimula isso - afora iniciativas isoladas de professores.
Escrevo isto aqui porque digo as mesmas coisas para meus alunos. Não é uma crítica a eles, mas às escolas e à própria metodologia da educação brasileira. Merece crítica, entretanto, quem não se interessa em sair desse círculo vicioso.

Aline, o computador e as interações que ele propicia só pioraram as coisas. Como se não bastasse o empobrecimento geral da cultura, os modismos se disseminaram, dificultando às pessoas, notadamente as mais jovens, a saber o que é certo.

Das 16h08, esse é um dos mais recorrentes, junto com "concerteza", "derrepente", "excessão", etc.

Das 16h46, as famílias de minha mãe e de minha sogra são de Óbidos. Quem sabe não estudaram na mesma escola que você. Muitíssimo obrigado pelo carinho manifestado pelo blog.

Anônimo disse...

Yúdice, a família de sua sogra (Fatica) é minha também. Realmente, gosto muito do que você escreve. Você é muito inteligente e não nega as origens obidenses kkkkkkk Continue assim brilhante.

Yúdice Andrade disse...

Mesma família? Pode me esclarecer melhor, das 17h46?