Em Belém, o excesso de veículos e a insuficiência da malha viária tornou difícil não apenas mover-se, mas também parar: é bem complicado estacionar em boa parte da cidade. A situação se agravará bastante, agora que a CTBel decidiu proibir o estacionamento em regiões mais estranguladas, além de instituir áreas onde o estacionamento é restrito a idosos ou a deficientes, controladas por cartão.
Se formos pensar com um mínimo de isenção, entretanto, constataremos que os únicos insatisfeitos serão aqueles que precisam estacionar. Os primeiros a se beneficiar com a medida serão os moradores desses locais, que se verão livres de incômodos como garagens bloqueadas, flanelinhas que se acham os donos do pedaço e congestionamentos, que geram barulho e poluição. Os demais beneficiados serão todos os que passarem por essas vias.
Neste ponto, é oportuno frisar que, ao contrário do que pensam uns incautos, tais medidas mão beneficiam apenas quem anda em automóvel próprio. Toda medida que aumenta a fluidez do tráfego beneficia, em tese, todos os usuários da via, alcançando quem depende do transporte público, pessoas que por sinal sofrem bem mais em caso de congestionamento.
A faculdade onde leciono fica na Alcindo Cacela, uma das ruas atingidas pela proibição de estacionamento, embora não no perímetro da instituição. Quase todo dia, para chegar lá, preciso enfrentar um tráfego lento e aborrecido. Agora, vai melhorar bastante, como já comecei a perceber. Outra rua habitual para mim, a 9 de Janeiro, também está no pacote. Nela, o melhor escoamento do tráfego beneficiará quem se dirige ao Hospital Amazônia, p. ex.
A despeito disso, fica no ar a pergunta: para onde irão esses veículos? Mais uma vez, lembramos da necessidade premente de melhorar o transporte público. Contudo, isso não será suficiente, porque a mentalidade de novo rico do brasileiro conduz a uma adoração por automóveis. Quem tem o seu, se recusa a usar transporte público, por melhor que seja (se fosse). Coisa de pobre, mesmo. Pensando nos meus alunos, que serão bastante afetados pelas mudanças, imagino que poderiam desenvolver o hábito da carona, mas sei que não vai acontecer. Ou seja, estamos apenas mudando os problemas.
2 comentários:
"... a mentalidade de novo rico do brasileiro conduz a uma adoração por automóveis. Quem tem o seu, se recusa a usar transporte público, por melhor que seja (se fosse). Coisa de pobre, mesmo."
Aproveito a deixa para perguntar: VOCÊ Yúdice, deixaria o seu carro para andar de ônibus? Sim? Não? Justifique sua resposta.
Fernando Peixoto
Já esperava essa perguntava provocativa, Fernando. E a resposta é sim, a depender de uma série de fatores. Veja o meu caso:
1. Trabalho em dois lugares diferentes e, dependendo do dia, corro de um para o outro. O pouco tempo não me permite abdicar do carro.
2. Um dos meus locais de trabalho é relativamente perto de minha casa, mas no horário em que preciso sair os ônibus passam lotados, não sendo incomum perder várias conduções até o usuário conseguir entrar.
3. Levo minha filha para a escola antes de ir para o primeiro trabalho. Não, eu não a colocaria num ônibus por opção. Fora de questão.
4. Meu segundo trabalho, a faculdade, fica longe de casa. Minha esposa leciona na mesma instituição e temos aula à noite, frequentemente até as 23 horas. Pegar ônibus nesse horário é um problema. Além disso, carregamos peso (como livros), documentos importantes (como provas) e material de valor (como notebook). Eu não me imporia esse desconforto e esse risco. Muito menos o imporia a minha esposa.
5. Considere, também, que trabalho de terno numa cidade de clima escaldante.
6. Finalmente, o fato de eu possuir estacionamentos nos meus dois locais de trabalho me induz à comodidade do carro. Mas se eu tivesse que me expor ao sacrifício de buscar uma vaga todo santo dia, certamente pensaria em deixar o carro, de vez em quando.
Por outro lado, tenho perfeita ciência de que as pessoas não deixarão seus carros para enfrentar o sufoco que é o transporye público local. Sempre disse que o primeiro passo é o poder público fazer a sua parte. Mas a questão que critiquei tem a ver com isto: se o transporte passasse a ser bom, as pessoas deixariam seus carros, ao menos de vez em quando? Não. Por puro elitismo. E aí começaria a babaquice.
Não é necessário se ofender porque não critiquei quem anda de carro, e sim quem o supervaloriza, a ponto de não abrir mão dele, em hipótese alguma. Observe que, em minha postagem, eu sugeri a carona.
Dou carona para um colega de trabalho todos os dias, na volta para casa. Às vezes, ele me dá carona. Se eu fosse estudante e tivesse carro, pensaria sim num esquema de carona com colegas. O ideal seria alternar o "motorista" do dia. Isso traria várias vantagens: maior confraternização, aumento na segurança (ladrões às vezes evitam atacar grupos), menos carros na rua, etc.
Hoje, tendo uma filha pequena e amigos com filhos também, saio pouco e no próprio carro. Mas antigamente eu sempre oferecia carona ou, se fosse o caso, pedia. Sempre achei mais sensato reunir no mesmo carro quantos fosse possível. Não vamos todos para o mesmo lugar?
Espero ter esclarecido.
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