Estava eu ontem, em uma das minhas turmas, falando sobre os regimes penitenciários quando se aventou uma comparação entre o tratamento dispensado aos infratores maiores e aos menores. Foi a deixa para que se manifestasse a aluna Janaína Pamplona Ximenes Ponte, que já administrou um centro de recolhimento de adolescentes infratores.
O conhecimento pessoal faz toda a diferença. Janaína discorreu sobre aspectos legislados, mas acima de tudo nos instruiu — e aqui me coloco no mesmo nível dos alunos, porque somos todos membros de uma sociedade que ignora completamente o que se passa dentro daqueles muros — sobre a realidade dessas instituições: sobre o perfil dos adolescentes, que nunca entraram num cinema ou shopping, que nunca viram uma praia e têm uma compreensível curiosidade imensa a esse respeito. Falou de como os centros de internação são locais pesados, mal cheirosos, onde os jovens entram muitas vezes seriamente lesionados. Falou sobre como as equipes dessas instituições interagem e tentam auxiliar as famílias, sem o que as medidas socioeducativas seriam inócuas.
Enquanto falava, alguns de seus colegas fizeram perguntas, porque efetivamente se interessaram. Isto foi o mais importante para mim, porque havia sensibilidade nessa curiosidade. Era um abrir de olhos, para uma realidade feia, triste e ignorada. Ontem, quem mais educou foi Janaína.
Fiquemos com sua advertência: dentro dessas instituições, as coisas não são nada fáceis. O senso comum está grandemente equivocado. Inclusive por pensar que nenhum daqueles garotos quer mudar e melhorar. Principalmente nisso. Palavra de quem convive com eles há anos.
4 comentários:
Yúdice,
A prática, aliada à teoria, é que o que se pode chamar de construção de conhecimento. A tua aluna demonstrou isto de forma brilhante. Os estagiários que tive, aqui no fórum, comentavam que os colegas ficam muito curiosos, fazem perguntas e tornam as aulas muito mais ricas.
Um abraço.
Fiquei com a sensação, Ana Cleide, de que a aluna aguardava uma oportunidade de falar sobre o assunto e essa oportunidade finalmente surgiu. Já havíamos trocado algumas ideias antes, mas provavelmente ela nunca pode esclarecer os seus colegas sobre esse universo tão problemático.
Sei que ela exerceu essa missão com muita dedicação e humanidade, por isso seu desejo de esclarecer os demais. Gostei muito de disponibilizar esse espaço para ela. Espero que tenha tocado algumas mentes.
E, enquanto isso, a sociedade discute a diminuição da idade penal...
Se discutisse a sério, Ana, ainda seria bom. Mas cadê a seriedade?
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