terça-feira, 8 de novembro de 2011

Guerra fria

Uma sala de aula é um microcosmo, que pode ser comparado ao planeta. Cada indivíduo corresponde a um país e, infelizmente, nem sempre as relações internacionais são amistosas. Regendo-se cada um por interesses particulares, a diplomacia funciona melhor entre aqueles que pensam de modo semelhante ou estão vinculados por laços reais de afinidade. É muito difícil a organização em torno de coalizões supranacionais, como o MERCOSUL e a União Europeia. De outra banda, existe a convivência pacífica, mas não exatamente colaborativa. Em alguns casos, surgem as tensões e, em situações mais extremas, os conflitos declarados.
Tal qual a ONU, no mundo, um professor, em sala de aula, exerce uma função de liderança que não consegue superar a autodeterminação dos povos. O objetivo, claro, não é transformar países e obrigá-los a pensar de acordo com uma mentalidade externa, e sim convencê-los a adotar posturas pró-ativas de colaboração recíproca. Frequentemente não dá certo, o que é uma pena. Países obtusos ou beligerantes comprometem a paz no mundo. E prejudicam o atendimento das reais necessidades das pessoas. Como se trata de uma questão de poder, essas necessidades reais acabam ignoradas.
Nem sempre somos bons diplomatas. Quando o consenso falha, o jeito pode ser apelar para a autoridade.

6 comentários:

Marcelo disse...

Caro Yudice,

Vou utilizar esse seu texto para declarar algo que está me incomodando profundamente. Bem...é assim...

Quando adotamos a sua comparação, entendemos que não é fácil manter sempre os bons relacionamentos em uma sala de aula e que é sempre bom um pouco de cordialidade ou no máximo respeito para que duas pessoas, ou países, possam ter uma boa relação. Todos conhecem como é a convivência em uma instituição de ensino, tanto no Infantil, Fundamental, Médio ou Superior. Os semelhantes sempre se entendem melhor e se não entendimento, então o professor, ou a ONU intervém. Aí está o problema.
Estamos passando nesse momento por uma crise na ONU, onde quem deveria salvaguardar aqueles mundinhos, que são as salas de aula, atuam como um Hitler, agindo através de muita teimosia, pirraça e tornando-se cruel com a única finalidade de obter benefícios próprios.
Comparado a quem quer porque quer firmar seus interesses e obter a raça ariana, os professores batem o pé para obterem seus direitos, sem pensar que para muitos jovens e adolescentes, essa atitude é como jogá-los em um campo de concentração, pois estes, com tanto tempo sem ter o que fazer podem nesse momento estar se entregando a violências, furtos e/ou drogas. São jovens humildes e para a maioria sua distração sem o estudo é a rua.
Mas a nação de Hitlers não se comove, pois pra ganhar seus quase R$ 100 reais de aumento e a implementação de Cargos e Salários, não se entregam. E cada dia que passa, é um grupo de jovens que é mandado aos banheiros dos campos para receberem o veneno da ignorância.
Não sou pró ou contra o governo atual, mas é visível a qualquer um que existe a boa vontade. Ninguém está se negando a pagar nada, mas tem que ser do jeito dos Hitlers. Minha preocupação é com quem poderia fazer a diferença no futuro e não vai. Dias perdidos. Anos perdidos, Hitlers sorrindo e países ruindo.

Anônimo disse...

Infeliz analogia!

Yúdice Andrade disse...

Marcelo, mesmo sendo professor, tenho grande dificuldade de analisar a situação dos colegas que lecionam nos ensinos médio e fundamental da rede pública. Minha situação, no ensino superior privado, é completamente diferente e isso se torna mais claro quando converso com amigos que trabalham para o Estado ou o Município. As histórias que me contam são impressionantes.
Por uma questão de empatia, tenho dificuldade em assimilar a sua analogia entre a atual greve da rede estadual e um processo de "hitlerização" da educação. Acho que compreendo o fundamento do seu desabafo, porque os grandes prejudicados são os alunos (e, creia-me, eu sei bem o que isso representa), mas o que dizer do professor, que é um profissional e um cidadão? O que lhe restou para enfrentar um Estado omisso e indiferente às suas necessidades de subsistência (que dirá as de dignidade!).
Não gosto de greves, mas as vejo como o ato final de uma luta entre desiguais, que se torna ainda mais cruel quando, do outro lado, se encontra o Estado, que é o maior malfeitor que existe.
Não tenho uma solução para o caso que você trouxe. Minha reflexão era tão mais singela...

Marcelo disse...

Caro Yudice,

Eu compreendo completamente e com certeza não foi minha intenção trazer terrorismo ao que nada se dirigia ao meu desabafo. Como disse antes, não dou partidário, aliás, sou partidário do que é para o bem. Trabalho na área de TI de um dos maiores e mais antigos colégios particulares de Belém e dá vontade de chorar (mesmo!) ver essas disparidades entre quem tem condição e quem não tem. Claro que todos os profissiionais tem que ganhar para poder sobreviver, mas tudo tem limites. O limite do respeito é a tênue linha do direito que cada um tem. Pra mim, esta já foi ultrapassada.
Um grande abraço, e desculpe o tumulto.

Anônimo disse...

Caro professor,

eu, como provável descendente de um lêmure devidamente adaptado na Ilha de Madagascar, vou me abster de comentários acerca das minhas precárias habilidades no âmbito das minhas relações internacionais, rsrs
Noto, entretanto (não resisto), que o estatuto moral de nossa comunidade só piora, que o cinismo social prepondera frente às pessoas e suas necessidades. Como consequência, a desigualdade consagrada na razão direta da violência crescente. Assim, retornamos todos ao medieval: coletes, cercas elétricas, câmeras, blindados. Qual a diferença em relação às armaduras, bigas, castelos e fossos? Nossa jovem elite abdicará desse trade-off? Débeis, por exemplo, são as chances de se discutir ética em nossa instituição, por motivos de puro constrangimento, até certo ponto compreensíveis. Qual o custo-benefício?

No mais, Sr. Marcelo, creio que seja difícil ter "pretensões arianas" com vencimentos mensais pouco maiores que 2 mil reais "per teacher".

Creio que o senhor seja eleitor desta capital. Eu não sou, mas justifico e visito, bianualmente, salas de aula da rede pública de ensino (além de algumas vezes prestar concurso público nelas). Te asseguro: aquilo que ousam chamar de salas de aula correspondem, estas sim, à tua analogia.

"Teimosia, pirraça e crueldade, com a única finalidade de obter benefícios próprios"? Benefício próprio? 100 reais devidos, dado o piso legal nacional?

Marcelo, no início deste governo estadual, foram recriadas as "supersecretarias" (além da chuva de aspones, digo, assessores especiais, lembras?). Festival de DAS 3, 4, 5, 6...
Questão de prioridade. Mas quem foram os priorizados?
Pense na resposta...
Pense com cuidado. Você pode estar sendo muito cruel, sem querer...

Bem, eu disse que não iria me estender.

Fernando Bernardo

Marcelo disse...

Fernando,

Volto a dizer que não quero trazer o terrorismo. Aliás, essa discussão vai entrar junto aquelas que pouco se discute, como religião ou esporte. Cada um é teimoso a partir daquilo que vê e vive.

Admito humildemente que não conheço as estruturas das escolas públicas locais que óbviamente não devem ser boas.

Reitero que não sou partidário, mas queria mesmo que essa juventude não tivesse que ficar no meio desse impasse. Bom seria se todos ganhassem.

Também queria que os profissionais da área de TI tivessem um sindicato tão forte como o dos professores. Mas uma greve que técnicos e tecnólogos de TI é tão distante quanto o meu Remo participar de uma libertadores.

No fim das contas, temos que ser realistas.

Fernando meu caro. Nada pessoal. Podemos voltar a falar no volume normal, chamar o Yudice e falar todos sobre amenidades.

Um abraço