quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Maconheirinhos

Em 15.6.2007 (lá se vão mais de quatro anos), publiquei uma enraivecida postagem criticando uns babacas que andavam protestando na Universidade Federal do Pará, chegando ao ponto de sitiar o prédio da reitoria. A ira cidadã dos ditos cujos era contra a proibição de festas no campus, por razões de segurança, devido ao elevado número de assaltos e até ocorrências de estupros, além do fomento ao narcotráfico. Eu acrescentaria desvio das funções institucionais da academia.

Nossos avoengos nos ensinavam: "Não confunda
liberdade com libertinagem." Não adiantou.
 O tempo passou e agora a Universidade de São Paulo, a famosa USP, está novamente no centro da discussão sobre medidas restritivas das liberdades individuais. Se por um lado há estudantes mobilizados em favor da presença da Polícia Militar no campus, no interesse da segurança de todos, por outro têm acontecido conflitos altamente constrangedores em sentido contrário. A baderna começou no último dia 27, quando os castrenses detiveram três estudantes que estariam fumando maconha.
A muito custo os policiais conseguiram cumprir os procedimentos que, certos ou errados sob elucubrações éticas, são os determinados pela lei vigente. Não caberia a eles deixar de agir para agradar a plateia, sob pena de crime de prevaricação. Fizeram o que tinham que fazer. Aos acusados, por seus defensores, é que cabe alegar as teses jurídicas de inexistência de crime e o que mais quiserem.
Tal qual uma bomba que explode, eclodiu um movimento que, amparado na boa e velha retórica, é uma "luta" (que palavra histórica e bela!) por um objetivo nobre (é muito fácil arranjar um). Esse objetivo é a democratização do ensino superior público. E a democracia está abalada se a Polícia Militar ronda o campus.
Desde quando um protesto por liberdade pede
rostos cobertos, como se fosse uma ação de
presidiários... ou de traficantes, talvez?
 Sei que existem alunos que dormem a aula inteira, mas alguém andou dormindo nos últimos 26 anos. O Brasil de hoje não é aquele em que a PM estava nas ruas para oprimir o cidadão em nome de um governo ilegítimo e que agia sobretudo nas universidades, por conta da mobilização da classe estudantil. O Brasil, a PM, a política, a geopolítica internacional tudo mudou.
O Brasil de hoje, infelizmente, é aquele em que a institucionalidade é rompida em nome de um suposto direito de fumar maconha dentro da universidade tradicional palco das liberdades!
Tantas lutas históricas, ocorridas lá mesmo na USP, reduzidas a isso.
É engraçado, mas não tomei conhecimento de nenhuma iniciativa no sentido de instituir fóruns de discussão sobre as liberdades, sobre o papel das polícias ou mesmo sobre o consumo de drogas. Não deveria ser esse o papel de um acadêmico: lutar para que sua universidade seja o locus das grandes discussões? O lugar de onde saem as mentes que deverão mudar a realidade que precise ser mudada?
No mais, recordo o alto poder aquisitivo de boa parte do corpo discente da elitizada USP. Playboyzinho querendo fumar maconha é direito constitucional inalienável! Depois não querem que eu fale no Capitão Nascimento...

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