Muito se fala sobre o quanto a Internet modificou a percepção que as pessoas possuem acerca de privacidade. Não se trata, somente, dos delírios quase inacreditáveis dessa escumalha imbecil que faz de tudo para se tornar "celebridade". Refiro-me ao cidadão comum, que através de blogs e redes sociais começou a exibir suas ideias e imagens para o mundo inteiro ver.
Isso dá margem a atitudes esdrúxulas, à superexposição e a uma situação esquisita, que é quando nos manifestamos e queremos retorno, mas como não somos conhecidos, não há retorno algum. Tem gente que fica magoada com isso! A necessidade adolescente de ser notado ganha novos contornos.
Sempre disse a mim mesmo que não cairia nessa esparrela, que isso é coisa de gente imatura, etc. Por isso me questionei acerca das postagens e fotografias que publiquei sobre minha filha. Afligia-me que Júlia, um dia, me cobrasse por ter sua vida exposta. Uma colega professora, que é psicóloga, tranquilizou-me dizendo que essa estranheza era fruto da educação que recebi, mas que Júlia, tendo nascido já nesta era de comunicação excessiva sobre tudo, provavelmente não compartilharia de minha estranheza. Acabei relaxando. Mesmo assim, não sou compulsivo por escrever sobre a criança e raramente exponho imagens dela, aqui no blog. Elas estão, porém, nos meus perfis de redes sociais.
Este final de semana aconteceu algo curioso. Corrigindo provas de cara para o computador ligado à Internet, cedi ao impulso de escrever rápidas impressões sobre o que estava lendo. Sabia que seria lido e haveria reações, como de fato houve. Mas depois me senti como aquelas pessoas que escrevem estultices como "indo para o trabalho", "cheguei em casa", "vou comer macarrão", "vou dormir". Não faz sentido algum, para mim, você prestar esse tipo de informação, que provavelmente ninguém quer saber. Isso me soa à necessidade de atenção, de auto-afirmação, um dos motivos pelos quais nunca quis aderir ao Twitter. Mas aí tive que fazer a minha própria autocrítica. Uma decisão já tomei: ao corrigir provas, nada de Internet.
A meu favor, invoco o fato de que me contive, ontem e hoje, por não escrever sobre o caos que o péssimo trânsito da cidade causou em minha vida nestes últimos dois dias. Ontem, p. ex., estava tão irritado que parei na frente do computador e me preparei para soltar os cachorros. Foi quando parei. De que adiantaria? As pessoas que leem este blog não o procuram por causa dos meus acessos de fúria e talvez se incomodassem. Além do mais, o assunto é tão batido que a mim mesmo causou repulsa. Isto aqui não vai virar um diário sobre o trânsito insano de Belém. O lado bom é mostrar que ainda tenho autocontrole.
E você? Consegue conter o impulso de compartilhar aquela informação que ninguém pediu?
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