Navio cargueiro

A televisão brasileira está cada vez pior: é o que escutamos desde... desde sempre, embora a crítica peque pelo excesso de generalidade. Mas, no ordinário do tempo, parece mesmo tratar-se de uma crítica razoável. E depois que deram espaço aos tais novos humoristas, a coisa piorou sensivelmente.

Passada a histeria em torno dos desatinos do tal Rafinha Bastos e seu ego incontrolável, a bola da vez é o igualmente estendáptico e cequecético (neologismos que podem ter como sinônimos "sem graça", "grosseiro", "arrogante", "despropositado", "falso artista", "falso intelectual" e "já deu") Danilo Gentili, que há três dias hostilizou o médico Dráuzio Varella, acusando-o de encher o saco, por querer mandar no que as pessoas fazem ou comem. Tudo, claro, fundamentando num argumento objetivo e engraçadíssimo: "Ele fica preocupado com a saúde de todo mundo com aquela cara de doente."
O motivo da mais nova contribuição à qualidade da TV brasileira é o quadro que Varella iniciou no Fantástico, da Globo: "Brasil sem cigarro". Quadro, que obviamente, conquistou a minha imediata simpatia, haja vista que a única coisa que eu acho que os fumantes merecem é passar o resto de suas vidas trancafiados numa sala fechada, fumando e sendo submetidos a longas sessões de humor estendáptico e cequecético.
[Viram como eu evoluí? Antes eu desejava o mal deles!]
Obviamente, não houve nenhuma consideração sobre a qualidade do quadro em si, cuja preocupação é a saúde pública. Trata-se, apenas, de defender a tal liberdade individual, bandeira já defendida por gente da maior credibilidade, como a turma que venceu o referendo sobre o desarmamento e os publicitários dos fabricantes de cerveja ("publicidade não mata ninguém").
Eu, que sou um danado de um reacionário (viram, acadêmicos da USP?), continuo me perguntando para onde foi aquela regra segundo a qual um certo percentual da programação da TV aberta deveria ser reservado para programação educativa. Deveria.