Eu, como muitos outros brasileiros, desejo intensamente viver para ver o dia em que José Sarney será uma página virada na história do Brasil, ainda que seus efeitos maléficos perdurem por muitos e muitos anos. A imprensa, enfim, repercute, com alguma timidez, a notícia de que a mais nefasta figura da vida política nacional vai-se aposentar. Como sempre mentindo, alegou razões familiares (quer ficar com a esposa doente), quando na verdade a preocupação é com a peia que poderia levar.
Quando concorreu pela última vez, há quase 8 anos, Sarney sentiu o peso das mudanças que ocorrem no país, ainda que com uma lentidão extrema. Por algum tempo, houve a possibilidade real de ser desbancado pela opositora, Cristina Almeida, uma novata na política. Ao final, as forças que comandam este país prevaleceram e o maior senhor feudal do país ganhou mais um mandato de senador. O recado, contudo, estava dado.
Em 2014, aos 84 anos, e após episódios importantes de doenças, Sarney sabe que não tem mais como enfrentar uma campanha para cargo majoritário, nem mesmo com o seu partido ocupando a vice-presidência da República (e confirmada para persistir nessa condição, caso Dilma Rousseff se reeleja). A única outra representante do clã com alguma autoridade é Roseana Sarney, em obrigatório fim de mandato no governo do Maranhão. Roseana, provavelmente, chegou ao fundo do poço em matéria de credibilidade. E o governador do Amapá, curral eleitoral secundário do ex-presidente, faz-lhe oposição.
Em suma, a partir de algum momento, nome e fortuna deixam de bastar para fins de reeleição. Não que o eleitorado tenha melhorado tanto assim: é que há muitos outros querendo a oportunidade de avançar sobre o quinhão da Viúva.
Observei, entretanto, que apenas o Estadão e a Veja mencionaram o anúncio de fim de carreira, ganhando alguma repercussão na blogosfera, mas nada que chame muito a atenção. A imprensa, de um modo geral, está silente. O site do próprio Sarney, "o presidente da democracia", nada fala a respeito. Comecei a me preocupar com a possibilidade de boato, o que é muito fácil nestes tempos em que tudo se compartilha na internet, sem maior reflexão.
No entanto, foi divulgada uma nota confirmando a desistência de nova candidatura (pode ser lida aqui). Supostamente, essa é a versão oficial. Nada que impeça caciques do PMDB afirmarem que ainda contam com uma mudança de opinião e mais uma candidatura do cacique-mor. Por tudo isso, eu, que nunca fui de contar com o ovo dentro da galinha, prefiro colocar minha barba de molho. Só acredito vendo. Convém esperar a expiração do prazo para registro de candidaturas. Somente depois desse momento é que se poderá ter certeza cabal de que não haverá reviravoltas.
Aí sim, partindo do pressuposto de que Sarney não tentará ser prefeito de Macapá aos 86 anos, podemos começar a acreditar que sua vida política ativa estará definitivamente encerrada. Mas todo mundo diz que o macumbeiro dele é poderoso. Então convém lembrar que certeza, certeza mesmo, só quando o corpo do tinhoso baixar à sepultura. Aí estaremos livres. E sua alma, atravessando o Grande Portal, há de se encontrar com a Justiça que, se existe, mora do lado de lá.
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