sexta-feira, 13 de junho de 2014

Legião Urbana: briga sem fim e incoerência

Para quem é fã da Legião Urbana, como eu, é triste ver a querela interminável e agressiva entre os músicos Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, de um lado, e o filho e herdeiro de Renato Russo, Giuliano Manfredini, de outro.

Com as reservas próprias de um advogado, não me atreverei a opinar sobre quem tem razão na disputa pelos direitos de utilização da marca Legião Urbana, até porque essa área do direito não é a minha. Tenho quase nenhuma familiaridade com ela e a questão está judicializada, então o judiciário que resolva, se é que já não resolveu.

Vou-me concentrar apenas em um aspecto: Renato Russo foi mais um dentre tantos artistas da música que se deixaram dominar pelo vício e, a despeito do consumo de outras drogas, o álcool foi o grande problema em sua vida. Ele se tratou e fez reais esforços para superar a dependência. Aí o herdeiro cria um Instituto Renato Russo, declaradamente para ajudar no combate à dependência química, e aceita como parceira... a AmBev, fabricante de cervejas!

Somente eu achei isso uma incoerência ao nível do deboche? Imagine um alcoólatra chegando à sede do instituto, em busca de ajuda, e encontrando lá a marca da AmBev ou, pior, de algum de seus produtos? Será que ele vai encarar como responsabilidade social? Será mesmo? Ou será só imaginação?

E como as vias capitalistas sempre têm mão dupla (exceto quando a mão única beneficia só a elas mesmas), entrou no ar uma campanha publicitária da cerveja Brahma usando a célebre canção "Por enquanto". As canções da Legião Urbana que nunca antes foram usadas para vender produtos, fizeram a sua estreia vendendo cerveja, indústria das mais poderosas no país e que nega qualquer responsabilidade com os índices de violência decorrentes do abuso de álcool, particularmente no trânsito.

Nunca tive qualquer razão para gostar ou desgostar de Giuliano Manfredini. Mas agora tenho para lamentá-lo. O site que ele mantém pode apresentar as desculpas que quiser, mas a decisão é triste e agride a memória de seu pai, que mesmo com uma garrafa na mão gritava para os jovens não fazerem o mesmo.

Mais:

  • http://67.228.183.122/~milk/site/2014/06/06/instituto-renato-russo/
  • http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2014/06/1469608-filho-de-renato-russo-autoriza-uso-de-musica-em-comercial-de-cerveja.shtml

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