terça-feira, 24 de novembro de 2009

Emmy para produção brasileira


Juliana Paes (atriz protagonista),
Marcos Schechtman (diretor geral)
e Glória Perez (autora)
comemoram a premiação.
 Os mal humorados de plantão e os que pretendem negar um pezinho na cozinha falam mal de novela, jogam pedra na Rede Globo e o escambau. Mas teledramaturgia é uma indústria bem sucedida, rentável e que envolve uma imensa gama de elementos culturais relevantes. E, no Brasil, ninguém faz novela melhor do que a Globo. Queira ou goste você disso ou não.
A qualidade das produções brasileiras foi reconhecida ontem à noite, em Nova York, quando a novela Caminho das Índias recebeu o Emmy Internacional 2009 como melhor telenovela. O Emmy é um dos prêmios mais importantes do mundo para a televisão.
A novela foi criticada, antes mesmo de começar, pelo teledramaturgo Benedito Ruy Barbosa, que talvez num arroubo de frustração, talvez, porque suas condições de saúde não lhe permitem mais escrever declarou que o Brasil possui muita coisa para mostar, não se justificando uma novela sobre a Índia. Além disso, cuspiu no prato em que comeu dizendo que as novelas da Globo só mostram "viado" e "puta" e isso estaria incomodando o telespectador.
O fato é que a novela de Glória Perez, com todos os defeitos que possa ter tido (não acompanhei, então não sei), foi um estrondoso sucesso, reforçou a já excelente imagem de Juliana Paes perante o público e projetou atores como Rodrigo Lombardi e a nossa Dira Paes, que já pode listar a sua "Norminha" entre os tipos inesquecíveis da TV brasileira.
Pessoalmente, considero a premiação valiosa. Como disse acima, teledramaturgia é uma indústria e, como toda indústria, emprega uma grande quantidade de pessoas. Além do glamour das celebridades, é um mercado de trabalho permanente para pedreiros, eletricistas, marceneiros, pintores, copeiros, motoristas, porteiros, costureiros, técnicos de todo tipo, operadores de máquinas e mais um mundo de gente.
Já imaginou se nem uma TV bem sucedida o Brasil tivesse? Além dos impactos sociais, seria muito chato.

15 comentários:

Anônimo disse...

A última novela que eu assisti foi "Roque Santeiro", não tenho a menor paciência para assistir novelas.
Mas acho legal o Brasil ganhar prêmios por causa de novelas.
Ana Miranda

Anônimo disse...

Corajoso seu post Yúdice , eu que sou cria do Dias Gomes e da Janete Clair , adoro novelas. Neste momento em que se patrulha encontros com a governadora vc se expôs.
Às profissões listadas adira figurinista , já que D.patroa é da área e funcionária da Venus Platinada , rsrsrsr.
Abração
Tadeu

Yúdice Andrade disse...

Caríssimo Tadeu, se alguém for patrulhar um modesto blog como este por publicar uma opinião sobre novelas, o mundo estará à beira do fim. Pior que a Uniban!!!
Vou acrescentar os figurinistas.
Quem é "Vênus Platinada"? Já ouvi essa referência, mas não sei quem é.

"Roque Santeiro" foi maravilhosa, Ana, mas houve coisa boa depois, com certeza. Desde que sem dependência psicológica e separando o que é bom do que é lixo, novelas são uma boa diversão e podem ser úteis, também.

Wilson Franco disse...

E o disco do Latino é um dos maiores sucessos em nosso mercado nacional, verdadeiro fenômeno que também movimenta carradas de dinheiro e empregos...

No que tange ao gosto dos premiadores:

BRITNEY SPEARS já ganhou 250 prêmios em apenas 10 anos de carreira, 54 em apenas um ano. Incuindo os mais importantes como Grammy Awards, Emmy Awards, MTV Video Music Awards, MTV Europe Music Awards, American Music Awards, Billboard Music Awards, NRJ Music Awards, World Music Awards, MTV Asia Awards, MTV Australia Awards, MTV Video Music Brasil, Teen Choice Awards, Nickelodeon Kids' Choice Awards, entre outros.

Blog www.surra.org:

"Finalmente, a Década Brasileira


Ontem eu estava ouvindo rádio do meu carro e uma das principais estações de Montreal tocou isto:

(música mãmãe eu quero- interpretada pelo grupo T-Rio vale à pena ouvir no youtube)


"O Brasil ganhou o status de exportador de lixo cultural. Isso só pode ser uma notícia boa"

Yúdice Andrade disse...

Caro Wilson, fiquei com a impressão de que você fez uma crítica generalizada às premiações internacionais. Não sendo conhecedor do assunto, limito-me a uma opinião meramente especulativa, mas o fato é que a suspeição me pareceu algo exagerada.
Afinal, nunca houve laureados merecedores do prêmio?
Realmente, a música brasileira tem produzido muito lixo, mas os grandes nomes de nossa música têm sido indicados e inclusive premiados. Há o Latino, mas há também o Milton Nascimento e vários outros. Britney Spears é uma droga, concordo, mas quantos outros foram premiados com mérito?
Outrossim, se há muito lixo tocando nas rádios e vendendo discos, assim como há muita porcaria na TV, acredito que a análise feita pelo Emmy é muito mais criteriosa, porque a avaliação de um programa de TV envolve muitas variáveis, inclusive artísticas.
Sempre vi no Emmy uma premiação séria. Até prova em contrário, acho que a premiação é algo a se considerar. E não acho que a novela "Caminho das Índias" nos envergonhe.

Wilson Franco disse...

Só chamando atenção para fato de que a Britney ganhou um EMMY, também.

As novelas fazem parte de nossa cultura...e nem os mexicanos têm investido tanto nelas quanto o Brasil...

Tenho vergonha das novelas quando as ponho ao lado das séries de TV as quais estão acostumados os norte-americanos, por exemplo. Aqui estamos sendo inundados de português-indianizado, danças exageradas e que ocorrem a todo momento na novela, acho TUDO de uma "bobisse" sem precedentes. Ainda mias quando se assiste um programa como "F.R.I.E.N.D.S", "CSI", o próprio "LOST" e outros. A globo tentou com o chatíssimo "FORÇA TAREFA" mas...

acho que se gabar de ganhar como melhor novela é como se laurear por ter

Yúdice Andrade disse...

Caro Wilson, seu comentário ficou incompleto.
Peço-lhe que não generalize. Nem toda novela é ruim. Aliás, estamos falando sobre gostos - que, como sabemos, cada um tem o seu, assim como outras coisas. Você citou seriados americanos. Eu gosto muito de alguns deles. Adoro "Arquivo X", "CSI" e "Lost". Vi "Alias" completo, vibrei com "Millennium", "Without a trace" e "Numbers". Mas você citou "F.R.I.E.N.D.S." que, perdoe-me, é um lixo, aliás como todo seriado de humor americano.
Portanto, o melhor é reconhecer que esta não é uma questão objetiva, mas tão somente de preferências.

Liandro Faro disse...

Ops; ops; ops...

Só sei dizer que "tudo" que se passa nas teleinhas e "tudo" que se ouve, são o espelho da nossa sociedade! E, como "tudo" na vida, a nossa sociedade tem coisas boas, ruins e péssimas...

Cabe a cada um escolher as representações artísiticas que reflete a sua personalidade.

E quer saber?! Até isto que falei é relativo: Hitler adorava música clássica, e ouvia em sua vitrola antes de "maniquar" suas idéias. (Você sabia que Führer tinha predileção por música judia e russa, raças estas menosprezadas?)

Pois bem, nem todo mundo que ouve brega é inútil; nem todos que veem novelas são imbecis; enfim, nem todos são tudo; e nem tudo são todos (O todo sem a parte é o todo e a parte sem o todo não é parte... Eita, viajei pesado)

Vida a Democracia! Viva o pluralismo!

Enfim, por não ser grande apreciador de programas televisivos e grande conhecedor da music national ou international, prefiro ainda um bom livro...

P.S: Ah sim, eu gostava bastante de Friends, nos idos tempos em que o tempo ainda me havia de sobra!

Abraços!

Anônimo disse...

Não entendo bem o seu argumento. Bailes Funk, cinema pornô e reality shows também são indústrias, que movimentam bastante dinheiro e empregam bastante gente. Isso não aumenta nem um centímetro meu respeito por eles.

Yúdice Andrade disse...

Agradeço as justas ponderações e as informações, Liandro. De fato, mesmo Hitler tinha lá os seus bons gostos. Não era odioso em tudo, mas naquilo em que o era o fazia com tanta dedicação que, dele, somente o mal se guarda memória.

Caríssimo André, a provocação é justa. Mas há que separar o joio do trigo. Veja-se o caso dos reality shows, p. ex. Em princípio, eu os detesto. Mas acompanhei com vívido interesse as duas últimas edições de "O aprendiz". O que acontecia lá? Provas interessantes, destinadas a medir habilidades dos candidatos. Havia defeitos, claro, mas no geral era excelente.
Não se pode classificar os reality shows com base apenas no Big Brother, que é um lixo absoluto. Ali se cultua apenas o ócio, a bebedeira, os vícios, as intrigas. Ali apenas se constroem as falsas celebridades, os futuros atores e apresentadores, etc.
De modo semelhante, detesto bailes funk, mas se eles estivessem associados a programas idôneos de atenção a pessoas em risco social, minha avaliação mudaria. Se eles fossem, p. ex., o chamariz para atender essas pessoas.
E honestamente, não sou 100% avesso a filmes pornô, que podem cumprir uma finalidade. Efêmera e animal, mas uma finalidade. E se descambarmos para o cinema erótico, encontraremos alguns clássicos de valor, decerto.
Por isso, meu amigo, não se trata simplesmente de gerar receita, mas do nível do que se oferece.

Shirlei disse...

O que foram as narrativas de Esopo e de Luciano de Samósata? Estorinhas cotidianas, em parte colhidas da literatura oral popular, com enredo sobejamente simples e sem nenhum virtuosismo literátio. O mesmo se pode dier das novelas de cavalaria, dos contos dos Green, da canção dos nibelungos... Por já ter lido, ouso até a incluir a ilíada, a Odisséia e a Eneida nesse caldeirão - guardadas as proporções -, se considerado o quesito enredo. Embora o mito, a história e o lavor da apurada métrica pincelem de refinado verniz estas obras. Reservaria um espaço especial para Camões, pelo apuro estético de sua poética. Shirlei, Ilíada, Odisséia e Eneida são clássicos da literatura. São a crème da épica, alguém argumentaria. É verdade, não discordo, obedeciam o cânone de seu tempo coevo. E nosso cânone atual, qual é? Nós, que perseguimos tanto a liberdade, nos ressentimos agora desse grande mal. Todo o dito para ousar uma especulação: daqui há alguns séculos, quando as novelas e os "odiosos" funks forem buracos de minhoca para compreender a cultura deste nosso tempo, quanta utilidade terão! Como serão analisados sob todos os aspectos com a lente de aumento dos cientistas sisudos. Não somos suficientemente visionários a ponto de coompreender semântica e pragmaticamente o nosso tempo. Não somos sincrônicos; somos diacrônicos. Olhamos para o passado com olhos argutos, como se fóssemos feitos para sondar as estrelas. Não estou especulando. Na literatura, a prosa sofreu para se emancipar da poesia. Na música, muita resistência até acatar o binômio erudito/popular. Na sexualidade, ainda não sublimamos o interdito foulcoultiano. Não estou fazendo discurso de encômio para o que se tem rotulado por aqui como "lixo cultural", tampouco realizando um exercício conceptista, como fazia muito bem o Gregório, na poesia referida pelo Liandro faro logo acima. É que, "se a musa topa", vamos enxergar as volições sociais como processos dinâmicos. Os europeus, pais e mães do etnocentrismo - os americanos também - não fogem dessa lógica da diversidade estética.

Anônimo disse...

Vc foi corajoso , Yúdice , te falei,
Haja vistO (acho que soa mal haja vista) os comentários que comparam o incomparável.
Venus Platinada foi uma expressão cunhada por um dos diretores da Globo ; pré-Boni ; que buscava excelência na produção.Acho que era Walter alguma coisa , não me lembro.
Abs
Se a Britney e o Latino ganham prêmios e eu(nós) não compartilho , problema meu.
Abraços
Tadeu

Anônimo disse...

Yúdice, concordo com as suas ponderações (exceto a do baile funk, porque me parece que servir de chamariz para algum programa social não acrescentaria nada à qualidade artística do show em si, mas apenas nos daria um motivo para fazer a concessão de aceitar um tipo tão vulgar e desqualificado de evento por um motivo de natureza não artística), mas, a partir do momento em que você diz que "É preciso separar o joio do trigo", você já enfraquece o argumento do "É preciso respeitar, porque é uma indústria e dá empregos". Você já está dizendo que, para ser respeitável, é preciso mais do que ser uma indústria e dar empregos, é preciso ter algum tipo de valor intrínseco. Como você, como sujeito razoável, não há de considerar que o que tem valor intrínseco não deve ser respeitado a não ser que seja uma indústria e dê empregos, o passo seguinte é admitir que o que importa de verdade é o valor intrínseco, e não o ser indústria e nem o dar empregos. Parece-me, assim, que você quer argumentar, na verdade, que as novelas possuem algum tipo de valor intrínseco, o que seria um argumento mais persuasivo se mantido enquanto argumento artístico-cultural, separado de considerações econômico-sociais sobre ser indústria e dar emprego.

Yúdice Andrade disse...

Shirlei, obrigado por levar o debate a um outro patamar.

Vamos lá, André:
1. Observa que minha referência à indústria e ao tema da geração de empregos comparece apenas no último parágrafo do texto original. Começa com um "considero a premiação valiosa". Ou seja, o comentário se referia ao valor da premiação, como reconhecimento do trabalho de muitos; naquele momento, eu não falava sobre o valor intrínseco das novelas.
2. Sim, eu vejo um valor intrínseco nas novelas. Gosto delas e já as defendi aqui no blog. Escrevi, certa vez, que todo mundo gosta de teledramaturgia, daí o sucesso dos programas televisivos - as novelas no Brasil, os seriados nos Estados Unidos. Apesar da insistência de muitos em desqualificá-las como objeto de consumo, insisto eu em reconhecer os fatos: quase todo mundo vê e quem vê se envolve de alguma maneira.
3. Não podemos colocar no mesmo balaio uma "Pé na jaca", p. ex., ou a trilogia dos mutantes, que eram horrorosas e ridículas, e programas como "Malu Mulher", considerada um marco na luta pela afirmação da mulher no Brasil; "O Bem Amado" e "Roque Santeiro", por sua crítica político-social; ou mesmo as novelas da Glória Perez, que sempre investem no marketing social, tratando de temas como doação de órgãos. Na época da novela (não me recordo o nome), a doação de órgãos no Brasil registrou um ligeiro aumento. Não valeu a pena, então?
4. Digo mais: eu adoraria ser um teledramaturgo. Já pensaste? Ter nas mãos milhões e milhões de pessoas, adequando a agenda para não perder os lances saídos do meu coco? Seria demais!
5. Quanto aos bailes funk, realmente continuam sem valor artístico algum (ao contrário das novelas, em minha opinião). Mas ainda considero razoável o que afirmei sobre servirem de abordagem de pessoas em situação de risco. Como ajudar o povo das ruas sem ir onde se encontram?

Tadeu, no dia em que eu escrever minha novela, vou te colocar na minha equipe! E a tua esposa, claro. Lindos figurinos!

Polyana disse...

Sempre eu tenho que te lembrar, meu bem, que há pelo menos UM seriado americano de humor que é muito bom e que tu gostas: Os Simpsons.