O dia de hoje começou com a notícia nada agradável de que minha mãe sofreu um assalto pouco depois das seis da manhã, quando se dirigia para o programa que ela se impôs há décadas: fazer a feira da semana. O problema é que a madrugadora Jacimar gosta de fazer isso cedo até demais, quando o movimento nas ruas ainda é baixo.
Foi avistada por dois moleques que, de bicicleta, deram algumas voltas, fazendo sondagens até se sentirem seguros para o bote. Abordaram minutos depois. Na ocasião, ela estava acompanhada de uma sobrinha e de um vigilante da rua, que se dispusera a acompanhá-las justamente por ter visto a movimentação.
Já na abordagem, os dois mandaram o vigilante ficar quieto, se não o matariam. Aos gritos, exigiram o dinheiro de minha mãe e ainda se atreveram a meter a mão em suas roupas, para ver se não escondia nada. O cara da garupa — um moleque franzino que não aguentaria uma cachuleta — gritou três vezes ao outro que atirasse nela, deixando-a aterrorizada. Mas esse outro, que tinha um volume na cintura, disse que não atiraria.
A esta altura, já estou irritado o bastante. Os assaltantes de hoje são muito violentos e audaciosos. Se estão armados, já chegam exibindo o trabuco. Se a arma não é vista, pode contar que não existe nenhuma. Por isso mesmo, os caras escolheram não um dos homens que caminhavam pela rua ao alvorecer, e sim uma senhora, mais frágil e apavorada, que não ofereceria resistência, como de fato. Um homem poderia baixar o braço no assaltante supostamente armado e a casa cairia. Irrita-me o vigilante nada ter feito, o que me sugere inclusive maus pensamentos.
No final das contas, os caras fugiram levando uma quantia pequena, mas deixando um susto enorme. Minha mãe voltou para casa aos prantos e me telefonou dizendo que entregou o dinheiro porque na hora só pensava na neta (que ela deseja ver crescer). São essas coisas que machucam as vítimas e pessoas próximas.
Depois fomos à delegacia do bairro. Delegacia é aquilo mesmo. O atendente do dia simplesmente faltou, para variar. Conseguimos registrar uma ocorrência com um investigador, pois de lá telefonei para um amigo delegado pedindo ajuda. Ou seja, para um cidadão ver seus direitos atendidos, só na base da amizade. Sem amigos na polícia, como os que chegaram depois de mim, resta-lhes o encaminhamento a outra unidade, de onde provavelmente também serão despachados.
E a ocorrência, adiantará de alguma coisa? Pouco provável. Minha mãe sequer sabe descrever os ladrões com os detalhes necessários. Mas fizemos o nosso papel. Além disso, tenho certeza que eles moram pelas redondezas e podem ser avistados de novo, sobretudo porque continuarão agindo do mesmo jeito. Quem sabe um dia não acabem presos e possamos reconhecê-los?
O lado bom é que hoje, na hora do almoço, a família estará reunida, todos ilesos, e a avó poderá alimentar a neta, em mais um dia de sua fase de crescimento.
9 comentários:
Prezado Yúdice, receba minha solidariedade. Hoje nenhum de nós está livre de ser vítima de uma ocorrência como esta, o que nos confere um sentimento de grande revolta pela impotência a que esta situação nos submete.
Não aguento mais as justificativas de todos os governos, que ficam sempre a culpar os governantes anteriores pelas mazelas que só se agravam.
Em que mundo estamos vivendo, que não se pode mais circular nas ruas, sem sobressaltos e sem o pânico de a qualquer momento sermos assaltados ou agredidos!
Onde viramos prisioneiros nas nossas casas e apartamentos, atrás de cercas elétricas, sistemas de vigilância, portas blindadas, etc.
Grande abraço do belenense sitiado,
CJK
Cara... pais cuidam da gente sempre, mas tem uma hora em que nós cuidamos muito deles também. Juro que entendo toda a tua raiva e demais sentimentos, mesmo por que são iguais aos que tive na ocasião de assalto do meu paie em uma vez que minha mãe teve o carro batido por um rapaz, corajoso e gritalhão enquanto ela estava só, calmo e calado, covarde, quando chegamos eu, meu pai e meu irmão.
O importante é que ela está bem, e ficará assim. Que use isso como lição de coisas que devem mudar um pouco, como o horário de sair para a feira, ou até pensar em pegar um taxi... Mas bem. Precisando, estamos aqui!
Bom final de semana.
Pô Yúdice, é com grande pesar que leio esse seu texto.
Eu tenho muito mais medo de ser assaltada por pivetes do que por homens ou mulheres feitos. O pivete, por saber que nada vai lhe acontecer, não pensa duas vezes em atirar pra matar.
Infelizmente, sua mãe vai ficar traumatizada por alguns dias, mas vai passar, o carinho de vcs a fará esquecer esse triste episódio.
Que o sorriso da Júlia traga o sorriso de sua mãe de volta!!!
Tudo de bom para vocês!!!
E que o almoço de domingo tenha sabor de vitória!!!!
Um abraço meu mais novo amigo de infância virtual.
Ana Miranda
Meus amigos, muito obrigado pela solidariedade. Felizmente, ao contrário do que eu mesmo pensei, ela reagiu melhor do que o esperado, passado o sufoco. Ao longo do dia, distraiu-se com a neta e foi melhorando.
Já no domingo, disse-me que dormira bem. Então acho que tivemos sorte. E se ela realmente parar de sair de casa com as galinhas, quando há pouco movimento, será útil.
Lamentável, meu caro amigo. Desejo que sua mamãe se recupere logo do trauma - de ficar agora com medo de sair à rua sozinha, como ficou minha esposa em decorrência do assalto que sofreu (só que de arma em punho mesmo) em setembro.
No mais, muito bem dito: "para um cidadão ver seus direitos atendidos, só na base da amizade."
Para que polícia, então?
Abraço
Yúdice, eu sou igual a sua mãe. saio de casa para correr, às 05:10 da madrugada, todo dia.
Acho um absurdo sua ter que mudar os hábitos dela, por causa de uns filhotes de rapariga que não têm o que fazer.
Eu nem relatei ao meu marido que ela sai tão cedo de casa, ele vive pegando no meu pé por causa do horário que eu saio, apenas disse que ela foi assaltada.
Mas tejuro, hoje qdo saí, fiquei meio ressabiada... Lembrei de vcs.
Ana Miranda
Para minha surpresa (e alegria, claro), Fred, acho que não ficou um trauma.
Não é um absurdo, Ana. Não pretendo que ela deixe de viver para se entregar ao medo. Sou contra isso. A questão é que ela não tem necessidade disso e se expõe a um risco sem razão. Quando trabalhava aos sábados, era compreensível que madrugasse. Mas estando aposentada, por que isso? E ela conhece o risco, por isso reclamei.
Nada contra quem caminha de madrugada, se não dispõe de outro tempo. Ou, como no caso dos moradores de Belém, para fugir do calor insuportável e permanente da cidade.
Tá vendo! Já li aqui você fazendo veemente defesa dos 'direitos' desses vagabundos 'dimenores' e condenando a truculência da polícia... Te lembras?
Pois é meu caro blogueiro: piperáceas no subalatório alheio é refrigerante!
Não sei por que ainda perco meu tempo com gente do seu tipo, das 20h47. Deve ser um osso bom no meu esqueleto. Vamos lá:
1. Tais direitos, sem aspas, existem nos termos da Constituição e das leis deste país, quer você queira e goste disso, quer não.
2. "Vagabundos" fica por sua conta. Cuidado, que é um termo amplo.
3. "Dimenores" também é coisa sua, já que ninguém disse, porque ninguém sabe, se os assaltantes eram menores. Isto apenas indica qual é a sua.
4. Eu me lembro do que escrevi, é claro. Você é que não sabe ler, que é mais do que decodificar letras. Interpretar e compreender exige mais do que rudimentos de instrução formal. A isso se chama analfabetismo funcional.
Sugiro que procure um programa de alfabetização para jovens e adultos.
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