9 de março de 1997.
Último dia do 2º semestre letivo de 1996, na Universidade Federal do Pará — um calendário abalado por uma longa greve ocorrida naquele último ano do curso de Direito. Era o último dia para o lançamento das notas, com vistas à integralização curricular. Confirmando a nossa trajetória, tivemos que sofrer até o último minuto.
A disciplina Filosofia do Direito II, que pertencia ao nono período, fora adiada para o décimo, devido à falta de professor. Cursamos o último período letivo com uma disciplina a mais, em horário diverso do nosso (nossa turma era da manhã). Nosso professor, o figuraça Egídio Salles Filho, naquele momento estava às voltas com a eleição de Edmilson Rodrigues para o seu primeiro mandato como prefeito de Belém. Tornou-se seu Secretário de Assuntos Jurídicos — não sem ônus para nós. Ficamos o semestre inteiro sem nota alguma e só fomos recebê-las na tarde daquele 9 de março. Estávamos, portanto, sem a menor noção de desempenho. Podíamos estar no céu ou no inferno. Era tudo uma questão de tomar conhecimento.
No final das contas, apenas dois alunos precisaram da prova final. Os demais saíram de sala já comemorando. Eu tive uma reação curiosa: perplexidade. Parei no final do corredor olhando o vazio e na minha cabeça rolava apenas uma palavra: "Acabou..." Senti-me meio perdido, porque estava no limiar de uma vida que não conhecia. Não sabia o que esperar.
Felizmente, meu amigo João Marcelo me tirou de minha catatonia. Começou a azáfama: íamos comemorar!
Uma gritaria se instalou. Alunos que faziam prova em mais de uma sala exigiam silêncio, aborrecidos, a que alguns concluintes respondiam gritando "Eu terminei o curso!"
Até caixa de som apareceu. Foi divertido. Na verdade, foi maravilhoso.
25 de novembro de 2009.
Eu passava prova quando uma gritaria eclodiu no corredor. Alguém brincou dizendo que o fenômeno Uniban tinha chegado até nós. Uma brincadeira, claro, já que aqui nós gostamos de mulher (apropriação de piada alheia).
Abri a porta para ver o que acontecia. Os concluintes da turma noturna caminhavam de sua sala para a escada. Estavam eufóricos: haviam deixado de ser concluintes para ser o que chamo de concluídos: aquele estado límbico, no qual você já não é mais acadêmico porém ainda não é bacharel. Sorriam, abraçavam-se, exultavam. Foi bonito de se ver. Apesar do barulho, foram ordeiros. Eu até os aplaudi.
Fui professor deles por dois semestres e tive orientações de trabalho de curso nessa turma.
Uma despedida sempre provoca emoções fortes, mas essa garotada conseguiu me transportar ao meu passado, um passado do qual guardo uma memória extremamente feliz.
E a vida segue. Boa sorte, meus queridos. Uma feliz vida para vocês.
10 comentários:
Naquele momento, eu fazia prova de Civil. Parecia-me total caos e desordem. Uma vez desconcentrada, melhor ir ao banheiro (yes, é hábito!). Percebi que eram recém-ex-alunos do 10o período, mas ainda estava desconcertada pela algazarra.
Então vi meu professor de Penal aplaudindo e compreendi a profundidade do acontecimento. E me peguei sorrindo, feliz por eles, simplesmente.
Engraçado eu me emocionar com o que é alheio.
Mas compreendi que um dia serei eu. E, se eles foram civilizados na medida do possível, concluí que na minha vez doida varrida será pouco para taxar minha reação.
Se algum deles chegar a ler este relato, meus sinceros cumprimentos. Muito boa sorte nesta nova fase, paciência e determinação para ir além.
Sinceramente,
Marina Moreira.
Ps: Primeira vez que eu comento aqui no seu blog, professor, apesar de conhecê-lo desde de 2008, enquanto procurava algo sobre o Cesupa.
Dica: Como conseguistes escrever e dar atenção as 50 alunos? hihi...
A prova é tão difícil que eles ficam chumbados na cadeira? hehehehehe
Ufa! Pensei que ia levar um ralho por ter aplaudido os meninos, mas felizmente o efeito foi outro. Se consegui passar a uma pessoa alheia aos acontecimentos a compreensão da emotividade do momento, então os aplausos valeram mais ainda.
Sem dúvida, a tua reação se funda na empatia. Eles são agora o que serás dentro de mais quatro anos.
Sucesso para eles e para ti.
Eles estavam concentrados, Liandro. A sala estava calma. De onde estava, via todo mundo. E volta e meia me levantava para dar aquele famoso passeio de fiscalização.
A prova, em si, estava uma pluma.
Amigo,
Realmente, o sentimento de nostalgia bateu-me também. O interessante é que todos falavam que seria a Geysa (escreve-se assim?).. heheh
Eu não me importei, pois sei da importância e do sentimento que provoca nos concluintes, ou concluído, como você falou!
Tanto a turma da tarde, quanto a turma da noite foram meus alunos.
Ex-alunos e sempre colegas, parabéns a todos e muito sucesso na vida!
Carinhosamente,
Quem acompanha esses garotos se envolve na emoção deles, Liandro. Quem acompanha de verdade, com interesse. É bonito de se ver.
Pelo que ouço, pelo que vejo e pelo que sinto, poucos se envolvem de verdade... Muito poucos...
Yúdice eu estava achando que você tem cara de bagunceiro. Agora confirmei minha desconfiança.
É uma delícia ver a felicidade dos outros, né não?
Ana Miranda
Pois você talvez ficasse surpresa de saber, Ana, que passei a vida inteira calminho, quieto, sem graça. Não dizia palavrão, não questionava os mais velhos, nada fazia de arrojado. Mesmo na faculdade, entrava em sala antes do professor e jamais saía antes dele. O temperamento meio descontrolado que você vê hoje existe há menos de dez anos.
Querido professor Yúdice! Sou dessa turma e estava presente no meio da gritaria! Só quem está vivendo ou que já viveu, sabe a emoção que estávamos sentindo! Muito obrigada pelos votos de felicidades! A saudade será constante... Abraços!
Volto a apresentar renovados votos de sucesso, Renata. Que tive a feliciade de externar pessoalmente, ontem à noite. Abraços.
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