sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Quem diria... o funk

Provocado pelo debate travado com o amigo André Coelho, na caixa de comentários de postagem abaixo, segue esta.

Eu e minha esposa Polyana ficamos perplexos conosco mesmos, mas no começo desta última madrugada estávamos acordados vendo um programa sobre o funkeiro Claudinho. Inacreditável? Nós dois fomos os primeiros a achar. Mas veja bem: havia ali os elementos para prender nossa atenção. Para Polyana, o desfecho dramático. Para mim, a história do menino pobre que reverteu seus péssimos indicadores sociais com trabalho honesto.
O programa Por toda minha vida, da Rede Globo, destina-se a homenagear artistas da música brasileira, já falecidos. Uma proposta interessante, sem dúvida. E apesar de já ter tratado sobre artistas muito mais consagrados inclusive Renato Russo, para mim o máximo da cultura pop na música brasileira , ontem foi meu primeiro contato com a produção.
Claudinho e Buchecha foram tratados como fenômeno musical da passagem do século XX para o XXI. Mas essa era a opinião dos habituais fabricantes de celebridades. A bem da verdade, eram jovens esforçados, mas não produziram nada de tão significativo. Não eram exímios compositores ou instrumentistas. Sequer dançarinos. Fizeram sucesso porque falavam a língua das massas e não se pejavam de usar recursos popularescos, como a dancinha amalucada.
E é justamente daí que vem o meu reconhecimento tardio ao trabalho da dupla e especificamente porque, num meio que nos últimos anos se notabilizou pela glorificação da mais absoluta deparavação moral e do narcotráfico, o que é objeto de críticas constantes e contundentes, Claudinho e Buchecha cantavam um funk romântico, até ingênuo. Obviamente sem se privar da malícia que caracteriza o ritmo, conseguiam ser um oásis plácido no meio do tiroteio.
Vejam, por exemplo, o embate entre a paixão e a compreensão moral da fidelidade conjugal, na letra de "Meu compromisso":
Eu não posso fazer amor com você
Porque eu tenho meu compromisso
Se acaso eu resolver te fazer mulher
Vou pôr o meu casamento em risco
Se a canoa virou, no embarque do amor
Confundiu os meus sentimentos
Amo minha mulher, mas sabe como é
Desejo é mais forte que os mandamentos
Pra se dar e se deixar levar
Por um amor em que possa confiar
Não vou trocar o que é certo pelo que há de ser
O ideal é deixar acontecer
Libera o seu coração pra outra pessoa

Mesmo uma canção intitulada "Minha tara" tem uma letra boazinha: "Já pintei na tela mil poemas pra você e até a luz de velas pra poder te descrever/ Parece loucura, acho que é amor/ Desde o dia em que eu te vi algo em mim mudou".
Portanto, acho que os meninos do Morro do Salgueiro prestaram um serviço à sociedade, defendendo a dignidade das comunidades pobres do Rio de Janeiro por meio de sua música despretensiosa, talvez sem qualidade propriamente musical alguma, mas que pode ser tocada na frente das crianças. Com isso, mostram ao universo funkeiro do Rio que um outro funk é possível.
Antecipadamente, peço desculpas por algum eventual deslize. Não conheço as letras da dupla e, se alguma delas descamba para a baixaria, eu realmente não sei. Falo apenas do pouco de que tomei conhecimento.

6 comentários:

Fatima disse...

Olá Yudice.
Também assisti ao programa, e confesso que me surpreendi com as letras das músicas, exatamente por se tratar de FUNK. Na época também não dei devido valor à `dupla, ressalva é claro ,para a força de vontade.
Venho conhecer pela 1°vez seu blog,parabéns.
Aproveito para me permitir se resolveu seu problema com o contador de comentários, pois o nosso também deu pâni.
Cheguei até você, exatamente pelo comentário no Compulsivel, onde inclusive achei de pouca elegância a resposta que ele deu em relação aos pedidos de ajuda.
Não consegui postar um comentário lá, pois não achei a janela para isso.
Desculpe por me estender e obrigada.
Tenha um ótimo dia.

Yúdice Andrade disse...

Cara Fátima, obrigado por sua visita e sua boa acolhida a este blog. Quanto ao tema da postagem, parece que estamos de acordo.
Quanto à situação do contador, alertado por você, fui ao "Usuário Compulsivo". Não considerei a resposta dele "de pouca elegância", como você elegantemente classificou. Eu a considerei grosseira e cretina, deixando o meu protesto lá. Nunca mais quero saber desse sujeito.
Pelo menos, ele me rendeu uma leitora educada como você. Bem vinda.

Liandro Faro disse...

Prezado,

Quando do surgimento e da "explosão" do Claudinho e Buchecha, estava eu na minha adolescênci; fase juvenil da paixão e do amor.

Sempre gostei da Dupla, em virtude das letras apaixonadas e pelas reivindicações sociais.

Ontem, ao assistir o programa, emocionei-me bastante, pela história, vida e luta.

Por isso que disse, em algum outro comentário, em algum outro post: nem todos são tudo; nem tudo são todos.

Abraços.

Liandro Faro disse...

Yudice,

Acho que estou ficando viciado.. rsrsr

Anônimo disse...

Sei não, mas eu acho que vc e a Polyana adoram um funk...
Eh...eh...eh...
Eu não gosto do estilo, então jamais reparo à letra.
Ana Miranda

Yúdice Andrade disse...

Bacana, Liandro. Quer dizer que eras um cara muito romântico??

Ana, pelo contrário, não gosto de funk. Mas posso fazer concessões. Já Polyana, quanto a isso, não faz nenhuma.