segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Como as pessoas são (parte 2)

Enquanto pensava no texto sobre minha passagem pelo supermercado, encontrei uma postagem de 30 de junho passado, na mesma linha, em que criticava o comportamento egoísta e arrogante de pessoas comuns.
É impressionante. Estamos acostumados a criticar as pessoas que se julgam melhores do que os demais por causa de fortuna, sobrenome, grau de instrução e outros que tais. Mas indivíduos que não possuem nada disso em especial agem com a mesma petulância agressiva e, o que é pior, espontaneamente.
As atitudes podem ser mais simples, tais como a do sujeito que, diante de um estacionamento lotado, com um monte de condutores sequiosos por uma vaguinha, entra no carro e se põe a bater papo, animadamente, enquanto os otários ficam atrás (o primeiro da fila esperando a vaga; os demais, fulos com ele, porque não conseguem passar). Ou então a senhora que para o seu carrinho de compras, claro, no meio do corredor, bloqueando a passagem de ambos os lados. Alertada pela filha quanto a isso, olha-nos e, com toda a tranquilidade, joga a pá de cal: "Mas eu preciso pegar o óleo!" E lentamente se põe a pegar umas garrafas de óleo, enquanto um cidadão com cara de besta aguarda e eu, reclamando em voz alta, optei por dar a volta.
Também pode ser a senhora que, desatenta, bate com o carrinho na mão de uma jovem, que se assusta e reclama por ter sido machucada, ainda que de leve. Atitude da senhora: encara a menina com um sorrisinho na cara, como se achasse divertida a cena. Não se desculpa e segue seu caminho. Se a adolescente perguntasse "tá rindo do quê?", com certeza surgiria uma legião contra ela.
Há atitudes piores.
Estou na fila da manteiga. Quando o atendente se aproxima, uma fulana às minhas costas grita o seu pedido. Fulmino-a com um olhar satânico, que ela finge não perceber. Olho o funcionário e ele, com cara de paisagem. Entrega o pedido do cliente à minha frente e então, como se nada houvesse acontecido, dirige-se a mim e me pergunta o que desejo. Ri por dentro. O atendente agiu corretamente, sem se indispor diretamente com ninguém.
Minutos antes, contudo, quando eu ainda não estava na cabeça da fila, chegou uma idosa. Cortou a frente do primeiro e começou a examinar produtos expostos. Naturalmente que idosos têm prioridade de atendimento. Eu jamais questionaria isso. O problema é a atitude. Outro dia, numa farmácia, chegou uma senhora e, abrindo um sorriso adorável, disse que a vovó tinha prioridade. Sorri-lhe de volta e disse "Com certeza a senhora tem". Com um gesto de mão, dei-lhe a vez, satisfeito. Mas a dona do supermercado chegou de cara amarrada, disfarçou que não pediria nada, mas foi só o atendente chegar que ela apresentou suas demandas. Como ato final, ao receber seus produtos, saiu sem agradecer sequer ao funcionário.
É isso. Educação é algo que vem da pessoa. E nível de renda tem muito pouco ou nada a ver com isso. Os ricos e remediados de hoje estão cada vez mais mal educados, ao passo que a maioria das pessoas especialmente gentis que conheci tinham origens modestas. Um dos vigilantes da minha rua, p. ex., é um dos caras mais cordiais que já vi na vida.
Como sempre ouvi dizer, você dá a educação que possui.

11 comentários:

Tanto disse...

Prefiro dirigir de madrugada, quando as ruas estão vazias de carros, mesmo que mais cheias de loucos! Também prefiro fazer supermercado de noite, tarde já, para evitar pessoas!

Esse é o problema: começo a ter vontade de evitar as pessoas, tal o grau de baixa educação.

Outro dia, susto supremo: ao fazer uma curva, na minha faixa, sem perceber nada, levei uma buzinada da pessoa que dirigia o carro ao lado, que também dobrava, mas na pista do meio. Dobrei, tranquilo, e mais a frente, parado no sinal, me surpreendi com uma pessoa que socava o vidro de meu carro. Era uma mulher, acredite, pequena, esmirrada, que me acusava de quase ter batido seu carro. Quando tentei argumentar que EU estava na faixa correta, que EU nada tinha feito de errado, ela me cortou e gritou: VAI TOMAR NO CU, SEU FILHO DA PUTA DESGRAÇADO. Me limitei a bater palmas, elogiando a educação da moça, que voltava a seu carro sob vaias, vergonha feita diante de movimentado colégio de Belém.

Minha filha, que assistiu tudo tão assustada quanto eu, sentada no banco traseiro, me perguntou: papai! O que foi isso? Respondi so um tímido Filha... realmente não sei!

E que sorte dei de não ser um marmanjo, que provavelmente, me socaria. Ou, ainda, a mesma pessoa, mas com uma arma nas mãos! Não estaria aqui escrevendo isso!

E como explicar para minha filha sobre a falha na educação das pessoas, luta de sempre para que ela trate todos bem?

Liandro Faro disse...

Caraca Amigo!

Quantas agruras em sua ida ao supermercado!

Meus pêsames... rsrsrs

Anônimo disse...

Essas situações do cotidiano são interessantes para a reflexão de quão educados somos ou nosso meio social deixou de ser.
Mesmo o pesar sendo válido, prefiro caminhar pela via do humor. É como se estivesse vendo um "stand up comedy" atuante, sem ser contado por um humorista.
Ônibus também merecem a atenção da cordialidade quase nula de seus usuários e condutores.
=]
Leonardo Santa Brígida.

Léo Nóvoa disse...

É brabo. Aí caímos em outra máxima, um tanto quanto clichê, por sinal: "educação é berço".

Abraços

Tanto disse...

Mas Léo,

Acaba sendo verdade: não importa grana, nem estudo. Educação é berço mesmo, exemplo dado pelos pais ou próximos!

Yúdice Andrade disse...

Fernando, se depois aparece um doido e mete a mão na cara de uma louca dessas, que é o que ela merece, o mundo desmorona e quem se ferra é o cara.
Terrível explicar isso para uma criança, mas eu iria para casa e explicaria em detalhes o ocorrido, para que a filha pudesse entender melhor eventos futuros.

Liandro, já odeio supermercado em condições normais, imagine em dias assim!

Leonardo, eu bem que gostaria de levar na esportiva, mas essa virtude ainda não chegou a minha alma!

Leo, é de berço, sim, mas não no sentido pequeno-burguês da palavra, e sim no sentido de que essa é uma característica inata, que pode ser burilada pela família, independentemente de condição social.

Anônimo disse...

Eu não me importo de ceder minha vez a quem quer que seja qdo não estou com pressa, mas a pessoa tem que ter no mínimo educação e pedir, se passar na minha frente sem pedir, eu apelo. Na boa.
Trânsito é uma coisa muito complicada, as pessoas viram bichos qdo entram em um carro. Tem um desenho da Disney, onde o pateta é motorista e ele se transforma em um monstro qdo começa a dirigir, a maioria das pessoas sofrem essa mutação. O carro, infelizmente, é uma arma em nossas mãos. Perigosíssima, diga-se de passagem.
Ana Miranda

Rita Helena Ferreira disse...

- Dar bom dia, boa tarde, boa noite ao passar por alguém no seu condomínio, trabalho, ou congênere.

- Limpar o que sujou, antes de devolver.

- Devolver o carrinho de compras do condomínio após usá-lo.

- Agradecer sempre que for atendido em um local que preste serviços ou venda produtos.

- Dar passagem para o pedestre.

- Pedir desculpas quando incomodar, de alguma forma, alguém.

- Pedir desculpas quando errar.

- Consertar o que quebrou, ou ressarcir, caso não haja possibilidade.

- Respeitar filas.

- Não cuspir em local que não poderá, imediatamente, limpar com água.

- Dar descarga após utilizar o vaso sanitário.

- Não fazer suas necessidades fisiológicas em outro lugar que não seja o banheiro.

- Limpar as fezes do seu cachorro, quando ele terminar de evacuar.

- Não jogar lixo na rua.

- Não fumar em ambientes fechados.

- PENSAR UM POUCO MAIS NO OUTRO ANTES DE AGIR.

Enfim, Yúdice. Acho que se essas regrinhas simples fossem observadas pela maioria das pessoas, não seria tão difícil conviver.

Tenho, sim, minhas falhas. Sobretudo no trânsito, onde a irritação, vez por outra, tira-me o juízo. Mas reconheço o erro. E, sempre que posso, peço desculpas.

Fato é que, sem receio, afirmo que, diariamente, procuro exercer a boa educação que recebi. E acho que a exerço bem.

E, como essa prática é algo natural, acabo por me irritar com a falta de educação alheia. Chego a clamar por um raio na cabeça do infeliz mal-educado, muitas vezes.

Mas depois a raiva passa e a conformação vem. Daí volto a fazer a minha parte e esperar que todos a façam também.

Abraços.

Yúdice Andrade disse...

No trânsito, Ana, se me pedir passagem, atendo em 100% dos casos. O que não pode é ir metendo a cara. Não avanço preferenciais, por isso não corto a frente de ninguém, mas não permito que façam isso comigo. Além de não ceder a passagem, atrapalho o que puder, a fim de não deixar o apressado ter êxito.

Rita, querida, a frase final, que nâo à toa escreveste em caixa alta, resume tudo. Curiosamente, ao ler as tuas sugestões, lembrei-me da temporada que passei morando em edifício. Todo dia de supermercado era um desgaste para mim. Chegar cansado de um dia de trabalho e ter que procurar o carrinho, que podia estar em qualquer lugar, era ultrajante!

Anônimo disse...

Estou estupefato de me estressar com essas coisas. Me resta proceder como o Tanto!, evitando estar no mesmo lugar que as pessoas. Caso contrário terei de declarar a Terceira Guerra Mundial.

Alexandre

Yúdice Andrade disse...

Olha que dá vontade, Alexandre! Todo santo dia...