Entro na agência bancária. Oito pessoas na minha frente. Em bancos, o tempo corre de um modo diferente. O que poderia ser feito em um minuto rende cinco, dez vezes mais do que isso. Principalmente porque os primatas insistem em pagar todas as suas contas na boca do caixa, quando poderiam fazê-lo no caixa eletrônico ou pela internet, com a mesma segurança e eficiência. Mas devem sentir algum tipo de atração erótica por aquele fila enorme às suas costas.
Cravo os olhos nos dois sujeitos que estão sendo atendidos. Posto de atendimento, apenas dois caixas. Eles demoram para concluir suas múltiplas operações. Sentado, sacudo o pé freneticamente. Quando o primeiro guichê vaga, o segurança da agência pula e toma o lugar. Entrega uns papeis dobrados. É possível ver um cartão no meio. Ninguém questiona, mas mesmo assim o sujeito bloqueia o caixa com o braço, numa estranha vedação de acesso aos demais mortais. Vira-se em nossa direção e nos encara. Tomo isso como deboche. Com certeza, sendo o segurança do local, ele poderia resolver seus assuntos antes ou depois do expediente bancário. Não precisava surrupiar o tempo dos usuários. Fiquei com a nítida impressão de que ele estava resolvendo assuntos de algum panaca que se acha importante demais para entrar num banco.
Uma mulher ao meu lado diz a outra: "Guarde o meu lugar, que vou bem ali e já volto."
Como assim, "o meu lugar"? Quem é que tem lugar na fila? Quer dizer então que posso entrar na agência, mijar em algum canto e aquele território estará demarcado como meu? Posso ficar fora o tempo que for e, ao retornar, a minha localização deve ser garantida como direito líquido e certo? Sorte a dela que, por estar depois de mim, não julguei que fosse uma briga que eu devesse comprar.
Ato final: uma fulana se oferece para ficar no lugar de outra na fila. Bondade? Altruísmo? Nada! Canalhice, mesmo. Ela se oferece para pagar a conta da amiga e, em troca, entra na fila já a meio caminho, com as suas próprias contas a pagar, passando à frente de uns tantos trouxas. E acha a coisa mais normal do mundo, porque não furou.
Num assomo de raiva, elucubro que meu ídolo, o inesquecível Saraiva, personagem de Francisco Milani, ficou tão fulo com a leviandade das pessoas que infartou e matou até o intérprete! Sinto que vou no mesmo rumo. Não consigo não me enfurecer com a falta de caráter.
E depois esses mesmos patifes reclamam dos políticos.
Fecha a cortina.
2 comentários:
Cadê esses tacos de beisebol, que não chegam?
Sabes que eu tinha me esquecido deles? Tenho mesmo que agilizar essa aquisição!
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