segunda-feira, 8 de junho de 2009

Nunca só

Jamais tive a intenção de morar sozinho. Há pessoas que sonham com isso como se fosse a própria razão de suas vidas. Não as recrimino. Só me pergunto se essa sofreguidão toda não se explica por uma boa dose de inadaptação aos outros, pela dificuldade em compartilhar espaços (em todos os sentidos) ou de expor mazelas que, sob o mesmo teto, sempre acabam aparecendo. Não acredito que uma pessoa deseje ser só, salvo os casos de misantropia tratáveis pela via psiquiátrica. Assegurar o próprio espaço não reclama medidas tão drásticas.
Tudo bem, é perfeitamente natural que alguém sinta necessidade de passar um tempo completamente só. Uns meses, talvez. Isso é até salutar, se daí sair alguma reflexão para melhora íntima. Mas não me entra na cabeça que alguém tenha essa solidão como uma meta de vida.
E também há as pessoas que vivem sozinhas por falta de opção. Minha solidariedade a estas. Não deve ser nada fácil. Eu não sei como conseguiria.
Sou do tipo que não faz coisas sozinho. Não sei como me divertir sozinho. Preciso de alguém ao lado, para repartir o sorriso. Das viagens a um simples cineminha, estar só tira quase que completamente a graça, ainda mais porque não gosto de falar com estranhos. E por outro lado, na hora das tristezas, mesmo quando precisamos de recolhimento e introspecção, é bom saber que existe alguém pertinho, ao alcance de um chamado.
Engraçado que meu pensamento tenha tomado este rumo. O que eu realmente tinha acabado de me recordar é que, exatamente hoje, dia do aniversário de minha mãe, faz um ano que me mudei com Polyana para nossa casa, nosso cantinho, o endereço de nossa família. O ano que se passou foi adorável, com todas as alegrias que tivemos, a maior delas engatinhando pelo chão numa velocidade impressionante.
É delicioso estar em casa. Na nossa casa. Quem conhece a experiência, sabe do que falo. Poder sair e chegar sem dar explicações, muito menos satisfações. E mesmo assim não sair para canto nenhum, porque não deu vontade, e isso ser ótimo. Ter a própria organização ou a falta dela. Decidir o cardápio da semana ou escolher o delivery. Largar-se sem fazer nada e ficar completamente em paz. E, claro, reunir os amigos de vez em quando. Isso nunca pode faltar.
Um ano se passou. Uma vida inteira pela frente nos aguarda. Boa sorte para você também, na busca pelo seu próprio lugarzinho.

3 comentários:

Anônimo disse...

E se o próprio lugarzinho também for um lugarzinho próprio, melhor ainda! Estou nessa busca.

Abraços!

Adelino Neto

Tônia disse...

Concordo absolutamente em tudo o que você disse, caro Yúdice. Sobretudo com a sua afirmação acerca da importância da companhia "velada" em momentos tristes. Poucas são as pessoas que entendem o significado da presença nos momentos de silêncio opcional. Mesmo que se queira não dizer uma palavra, ou mesmo se isolar do resto do mundo, saber que há alguém ali ao lado, espontaneamente pronto para oferecer um colo "se" necessário, é um conforto sem igual. Posso estar enganada, mas esta arte já é dominada pelas "mães" há séculos. A minha, por exemplo, já tem pós-doutorado no assunto. :)

Anônimo disse...

Isto é o que chamo de post A La Yúdice. Excelente!

Abraço.
Alexandre (Cps/SP)