Em conversa informal na sala dos professores, ontem, escutei de um colega a síntese de um bate papo interessante que ele teve com uma de nossas alunas, evangélica, da Igreja Adventista.
Antes, uma premissa: Matusalém foi um dos patriarcas bíblicos, de uma linhagem iniciada com Adão. Dentre esses patriarcas, Naor teria sido o mais normalzinho: viveu até os 148 anos. Só isso. Seus parentes foram muito além, especialmente Matusalém, o mais longevo de todos, que teria vivido 969 anos! Daí o nome ter virado sinônimo daquilo que é extraordinariamente velho. O neto mais famoso de Matusalém, Noé — sim, aquele da arca —, viveu um pouco menos (950), mas leva a medalha de o mais vetusto procriador do mundo, graças à proeza de ter um filho aos 500 anos de idade!
Disse a aluna que, no passado remoto, as pessoas viviam muito porque não tinham pecado. Foi o pecado que trouxe, como castigo, a redução da expectativa de vida da humanidade. O colega professor, então, lançou-lhe uma provocação: nas últimas décadas, a expectativa de vida das pessoas tem crescido, na maioria dos países. Com efeito, na Idade Média — devido a tantas doenças, misticismos e trabalho inclemente —, chegar aos 40 já era um feito. Na casa dos 20, o indivíduo já estava bastante maltratado. Hoje, contudo, em países como o Brasil (que estão longe de ser um modelo de saúde pública), a expectativa de vida já superou a casa dos 70 anos, trazendo reflexos concretos e importantes, como o impacto sobre o sistema de previdência social.
A questão: a humanidade está pecando menos?
A dúvida é relevante, considerando que, imagino, a opinião reinante seja a de que nunca se pecou tanto quanto agora!
Respondeu a aluna que não se trata de pecar menos: é a ciência que tem assegurado maior longevidade às pessoas. O professor voltou à carga: mas a ciência não é uma dádiva divina? Se assim for, o progresso científico seria uma recompensa de Deus pelo quê? Pelo aumento do pecado? Decerto que não.
Talvez pela juventude e inexperiência, nossa aluna não conseguiu levar adiante a discussão. Mas eu ganhei um mote interessante para observar como as pessoas, em pleno século XXI, na era da informação de massa, ainda cultivam convicções religiosas absolutamente divorciadas de qualquer sentido de realidade. Nenhuma novidade nisso, obviamente. Ressurreição e virgindade de Maria também não são lá hipóteses muito convincentes, mas vá dizer isso em praça pública para ver o que acontece!
O fato é que não existe a mais remota possibilidade de um ser humano viver por séculos. Nunca houve. Certa vez me falaram, inclusive, da hipótese de haver um marcador genético limitando a vida humana a no máximo 150 anos. Atingindo-se essa idade, o indivíduo simplesmente morreria. No entanto, nunca li nada sobre isso. Por outro lado, a sábia natureza sempre se pautou por uma regra assaz utilitarista e, por isso mesmo, encarada como cruel por muitos: a sobrevivência dos mais aptos. Assim, fosse para um indivíduo viver séculos, ele deveria passar a maior parte desse tempo ativo e forte, e não idoso, quando as forças físicas já declinam. Os patriarcas eram sempre velhinhos de longas barbas brancas.
Para mim, que sou espírita, a questão vai ainda mais fundo: para que alguém iria querer uma vida material tão longa? Por que diabos ficar séculos neste mundinho, quando uma outra existência, em outro plano, nos espera, cheia de novas potencialidades? Refiro-me à vida espiritual, não à reencarnação.
Sinceramente, acho que se alguém pudesse viver tanto, acabaria metendo uma bala na cabeça. Ou pulando de cabeça, da arca para um banco de areia.
Sei que tenho uns tantos leitores agnósticos ou mesmo ateus. Para eles, provavelmente, este assunto talvez não tenha o mais remoto interesse.
5 comentários:
Com os governantes e administradores públicos que temos ,s eria realemtne um castigo damasiadamente grande viver 950 anos. Ademais, como seria a vida desta pobre alma, sem sexo? sem trabalho, vivendo com uma apposentadoria do INSS? com mesma mulher? estudando em escola pública , morando em belém com essa sensação de insegurança? basta, mate-me agora.
Obs. se bem quie olhando pro sendor Sarney , descontando o oleo de peroba,m parece que le tem uns 200 anos, quem aguenta?
As idéias divorciadas da realidade, infelizmente estão prevalecendo no meu bairro. Moro no Júlia Seffer, em Ananindeua. No centro do conjunto, há uma área relativamente grande, que comporta um centro de saúde, uma delegacia, a sede da associação de moradores, uma praça, uma quadra de futebol e uma igreja católica, além de uma grande área livre. A praça, construída pela prefeitura na época do Pioneiro, é o único espaço de lazer da área, utilizado não só pelos moradores do Júlia como das áreas vizinhas. Pois a igreja, agora convertida em paróquia, resolveu que tinha direito à área livre, à quadra e, pasmem, à praça! Como as áreas remanescentes são de responsabilidade da Associação, a igreja pediu e recebeu tudo. Não me pergunte como. Já foi construído um muro, fechando a passagem que dava acesso entre duas ruas. A praça está sendo cercada. Tudo porque as pessoas legitimam uma pretensão absurda com base apenas no "poder" da igreja. Pode ser que o novo padre seja realmente uma liderança do seu entusiasmado rebanho, mas daí a tomar um espaço público, confiscando um bem da comunidade, é uma violência, diante da qual muitos estão se calando, infelizmente.
Parabens ao anonimo, de forma criativa e bemn humarada ele deu ao texto uma boa dose de inteligência. Quanto a sarney , ai já é chutar cachorro morto.
Das 11h41, conheci pessoas octagenárias que, com grande serenidade, diziam que já tinham feito na vida tudo que queriam ou que podiam, não tendo mais expectativas. Mesmo que não pretendessem morrer em breve, creio que estavam prontas para isso. Essa serenidade quanto à morte, penso, deve ser um objetivo de nossas vidas.
Por conseguinte, viver tanto para quê?
Quanto ao Sarney, pessoas como ele parece que existem desde sempre. É uma espécie de Satanás, desde a mais remota antiguidade dificultando a evolução da espécie.
Artur, o teu relato impressiona. Não porque esse tipo de barbaridade seja inédito, mas porque o tamanho da desfaçatez sempre causa essa perplexidade. E, com efeito, a Igreja católica sempre obteve imensas benesses patrimoniais dos governos, num atrelamento Estado-religião que jamais foi superado, tanto que os líderes religiosos são considerados "autoridades eclesiásticas", o que no âmbito civil é um absurdo.
Não seria o caso de espernear? Embargar a obra? Acionar o Ministério Público que, em Ananindeua, que me conste, tem bons representantes? Sei que é difícil acreditar na atuação do poder público, mas tentar isso é melhor do que nada.
Boa sorte.
Das 13h33, bem que eu gostaria que Sarney fosse um cachorro morto. Ee está é vivo demais, causando mais estragos do que um ser humano só poderia ser capaz!
Ah, lembrei: ele não está sozinho.
Um amigo já denunciou ao MP em Ananindeua, com o detalhe que o funcionário de lá, inicialmente tentou demovê-lo da idéia. Mas o MP deve chamar a Secretaria de Obras, se não me engano, para intervir. O pior é o imobilismo da comunidade.
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