Tenho problemas para fazer muitas coisas ao mesmo tempo. Sou como um computador rodando na plataforma Windows: se você aciona uns três programas simultaneamente, o sistema trava e precisa ser reiniciado. Felizmente, nunca travei. Nunca desmaiei, sofri crise de pânico ou de outra forma fiquei doente por excesso de trabalho. Mas há horas em que o corpo não suporta o peso das tarefas, mormente considerando que, junto com elas, vêm grandes responsabilidades.
A docência é uma atividade estafante não apenas porque se trabalha demais e — em certas épocas, de domingo a domingo —, mas também porque se carrega uma caneta que pode trazer grandes alegrias ou grandes tristezas. Quando o semestre letivo chega ao fim e precisamos decidir o que fazer com dezenas e dezenas de pessoas, o peso da responsabilidade se torna muito palpável nos ombros — ainda mais considerando que eu vejo meus alunos como seres humanos e procuro compreender o momento da vida em que se encontram, a esmagadora maioria ainda muito jovem, sem as necessidades e sobretudo as urgências que nós, um tantinho mais velhos, já possuímos.
Sexta-feira passada, apliquei quatro provas diferentes para mais de 80 pessoas, ao mesmo tempo. Quando me vi cercado de pessoas e de pilhas de papeis, que não podiam ser misturados, estremeci. Ainda mais porque, além disso, também estava recebendo trabalhos de outros alunos e precisava adiantar a correção de outros. Seis programas rodando no meu Windows. Fiquei estático, sem saber por onde começar. Felizmente lá estava o meu dedicado monitor, Antônio Graim Neto, que mais uma vez me socorreu, ajudando tanto com os papeis como com os alunos, que nessas horas precisam ser lembrados que dúvidas devem ser tiradas antes da prova e não durante.
Ontem, passei por uma versão reduzida dessa mesma experiência. Eram apenas 21 pessoas, mas três provas diferentes. Além disso, eu precisava entregar notas, dar explicações sobre essa avaliação, receber e corrigir os últimos trabalhos — tudo isso contra o relógio, há muito meu inimigo. Devido a isso, ontem comecei a chamar os Dominantes. (*)
Volta e meia, apresento uns sintominhas já meus velhos conhecidos: sensação generalizada de cansaço, alguma ansiedade e uma dorzinha nos globos oculares, como se alguém os apertasse com as mãos, de trás para a frente. Nessas horas, o jeito é parar. Os sintomas só cessam se eu descansar num ambiente escuro. Quando cheguei em casa, fui logo abrindo o pacote de trabalhos em cima da mesa, para corrigi-los, mas não foi possível. Mesmo com comida e banho, o corpo não respondeu. O jeito foi me deitar e abstrair as preocupações. Como esperado, ao acordar, já me sentia bem.
Pronto ou não, hoje recomeça tudo de novo, só que com muito menos tempo para agir.
(*) Você não entendeu o que eu quis dizer com "chamar os Dominantes"? Então procure na Internet informações sobre Spectroman, o heroi que aparece na imagem ao lado — sucesso na TV nos gloriosos e saudosos anos 1980, quando até os programas babacas japoneses eram melhores do que os programas babacas japoneses de hoje. Arbítrio do Yúdice também é cultura pop, ainda que trash.
6 comentários:
Devemos aprender com a vida que o corpo dá sinais e que nos pensamos ser espertos . Se é como dizes "O jeito foi me deitar e abstrair as preocupações.." -afastar-se, dar um tempo é mais que recomendável. A vida de professor é exaustiva. Sei disto pór ter exercido a profissao por um montao de tempo, mas ouso aqui te dar uma dica, faz um balanco cara as vezes os prazeres que temos para desfrutar nem de longe sao compatíveis com os esforcos que fazemos e o pior, quando os temos, nao temos tempo para curti-los. Desculpe a intromissao .
Quem fala da própria intimidade num blog não pode reclamar de intromissão, das 12h18. Por isso mesmo, não o considero um intrometido. Aliás, sua ressalva já mostra que se trata de um homem educado. Além do mais, respeito a experiência que comigo é compartilhada e por isso agradeço.
Penso que, hoje, raras são as pessoas que conseguem desfrutar da vida mais do que se esforçam. Quem mais desfruta, em geral, é quem menos trabalha, mas aí já não se trata da mesma categoria de pessoas.
Penso que o mundo nos impulsionou a isso. Criou inúmeras necessidades que antes não tínhamos e agora precisamos trabalhar como loucos para custeá-las. Ficamos menos com nossas famílias, passamos mais tempo com colegas de trabalho (e nem todos têm a minha sorte de trabalhar em ambientes agradáveis), comprometemos nossa saúde e tudo isso para quê? Creio que todos nos fazemos esta pergunta, em algum momento.
O mais interessante é que, com ou sem uma resposta, continuamos a viver do mesmo jeito. Acho que não sabemos fazer diferente.
Um abraço. Volte sempre.
Pediu para eu voltar? Já estou aqui novamente. Resolvi bater um papo contigo, mas vai ser breve para nao monopolizar. Obrigada pelo comentário. O teu comentario fez eu lembrar meu pai (parece até que consigo esquece-lo), ele, nos preparando para a vida, dizia que quem trabalha muito nao tem tempo de ganhar dinheiro, logo para ter um pouquinho mais precisariamos trabalhar e trabalhar. Que bom que entendestes, pois quiz dizer exatamente o que referes em teu comentário, e por fim, sou mulher, tenho 60 anos de idade, quase todos de trabalho intenso e intensa paixao pelo mesmo. Mas que diabo, se isto nos dá vida, ao mesmo tempo nos consome. Bom,
julho está na porta e quem sabe ......Eu quero uma casa no campo do tamanho ideal, pau-a-pique e sapé onde eu possa plantar meus amigos meus discos e livros e nada mais vai fazer com que melhores e melhores.
cara, tas falando do spectromen amigo do jaspion e do ultra-seven? que saudade. Agora as crianças tem que aturar o chaves. arg.....
Sobre o windows?
Bem vc já sabe o que eu diria.
Rsssss
Querida professora, antes de mais nada, perdão por tê-la tomado por um homem. Sei como é essa confusão. O meu estranho nome não indica às pessoas o sexo do seu titular, por isso já passei por uns tantos constrangimentos.
Tenho uma filhotinha que está a caminho dos 11 meses. Por isso, neste mês de julho, a minha casa será na cidade mesmo, mas cheia de amigos, livros, discos, brinquedos, passeios e risadinhas maravilhosas.
Venha sempre, minha querida.
Das 8h55, pensei que o Spectroman fosse muito anterior ao Jaspion. Não sabia que eram amigos. Mas, de fato, o Ultra Seven era da mesma época. Fosse hoje em dia, eu nem ligaria a TV com isso. Mas naqueles tempos eu estava ligado em "Planeta: Terra, Cidade: Tóquio".
Um abraço.
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