Pouco antes das 16 horas de ontem, passei em frente à Secretaria Municipal de Urbanismo, na Av. José Malcher. Trânsito intenso, passei devagar e me deparei com aquela fila imensa. Primeiro, pensei em alguma desgraça. Mas depois pensei melhor, reparei que as pessoas carregavam pastinhas, e deduzi que só poderia ser fila de emprego. Neste país, onde quer que se anuncie emprego — uma vaguinha só, que seja —, lá se forma uma fila assustadora, do tamanho da necessidade de nosso tão sofrido povo.
Somente hoje, pela imprensa, soube que se trata de um concurso para preencher vagas de gari. Profissão péssima de remuneração e pior ainda de reconhecimento. Gente simples, obrigada a limpar a sujeira dos outros — e, no caso de Belém, a interminável sujeira de um povo sujismundo. Tudo isso sem receber um bom dia, um obrigado, um com licença e, principalmente, eventuais pedidos de desculpas.
Mas a necessidade empurra. E assim será enquanto este país, este Estado e esta cidade não disponham de políticas sérias, honestas e eficientes de geração de emprego e renda.
5 comentários:
Yúdice,
Já viste um documentário do Sílvio Tendler sobre Milton Santos e a Globalização? Não lembro bem o nome. É engraçado que tempos atrás o grande geógrafo já previa os efeitos que o modelo de desenvolvimento por nós adotado teria sobre o emprego e as condições de vida das pessoas. Há uma cena impressionante de uma multidão se engalfinhando para tentar uma vaga de gari em alguma grande cidade do Brasil. O pior é imaginar que a grande maioria voltará para casa de mãos abanando. Um grande abraço, esperançoso de dias melhores.
David.
Mas se todo mundo tiver a chance de NÃO SER gari, quem vai limpar a rua?
Anônimo,
Em uma sociedade onde muitos não conseguem nem ao menos ser gari, sem demérito a esta digna profissão, a questão que você coloca é o menor dos problemas sobre os quais temos que nos debruçar. Um grande abraço.
Das 12h49, o seu questionamento é muito mais interessante do que pode parecer, a princípio. Trata-se de questionar os papeis das pessoas em sociadade. Sou levado a concluir que, em seu entendimento, sempre deve haver alguém limpando a sujeira alheia. Tudo muito normal nisso, desde que não seja você a ter que assumir tal tarefa.
Já eu não penso que isso seja tão normal assim. Penso que o correto seria que todos tivéssemos educação suficiente para sujar o mínimo possível; que houvesse recursos tecnológicos para que essa limpeza fosse o mais mecanizada possível; e, por fim e mais importante, que aquelas tarefas a serem necessariamente realizadas por pessoas não fossem consideradas indignas por ninguém, a tal ponto que qualquer cidadão considerasse uma mostra de cidadania contribuir para a higiene de um espaço que pertence a todos.
Naturalmente, não espero ver chegar um dia em que isso ocorresse.
Fiquei interessado, David. Já tenho uma lista enorme de livros e filmes que me foram sugeridos aqui no blog. No dia que eu conseguir compilar tudo, precisarei de um clone para dar conta!
No mais, tens toda a razão em lembrer que o problema é bem mais profundo do que simplesmente resolver quem varrerá as ruas.
Yúdice,
Vai aí pelo - um pedacinho com o trecho que te falei. Alguns dos prognósticos não se confirmaram por completo. Por exemplo, nos últimos anos, o crescimento econômico aliado à investimentos estatais em alguns países, como no caso do Brasil, fizeram com que a extrema pobreza fosse reduzida. Por outro lado, é um retrato curioso dos nossos tempos.
Um grande abraço.
http://www.youtube.com/watch?v=YTZkN8oqbFQ&feature=related
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